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Hélder Muteia lança ‘A febre do batuque’

O escritor Hélder Muteia irá lançar, às 17 horas de hoje, o seu mais recente livro. A cerimónia de apresentação do romance Matoa, a febre do batuque irá decorrer no Boske, na Cidade de Maputo.

 

O novo livro de Hélder Muteia começa com uma morte, em Miguerrine, uma aldeia perdida no meio do imenso palmar da Província da Zambézia. Mal a história começa, o narrador revela que um homem suicidou-se à beira do rio. “Enforcou-se num galho horizontal de uma árvore frondosa da família dos salgueiros, localmente conhecida por Mukhandara”. Pior, o homem casara-se na véspera do suicídio com uma das mais belas donzelas da aldeia. A pergunta que se coloca, a essa altura do enredo, é: porquê no momento que deveria ser de satisfação, a personagem toma essa trágica decisão? Ao invés de uma resposta precipitada, o leitor terá de estabelecer uma relação entre a causa e o efeito, num jogo entre o suspense e a ansiedade.

Com a sua recente obra literária, Matoa, a febre do batuque, Hélder Muteia quis mergulhar na tradição da Zambézia, retirando de lá uma história com base real. Por isso, antes de se pôr a escrever sobre o que mal entendia antes do romance, teve de entrevistar a muita gente, inclusive curandeiros especializados no ritual/ doença da matoa. Claro, nem tudo foi-lhe revelado, pois, como em tudo, há certos segredos que apenas se podem partilhar com as pessoas de muita confiança. Ou seja, para que lhe fosse contado certas particularidades desse universo místico, o escritor foi convidado a forma-se como curandeiro. Porque a sua vocação não é essa, Muteia recolheu e cruzou informação de várias fontes, o que lhe custou 10 anos a amadurecer um projecto que, depois da pesquisa, ficou pronto em um ano. Quer isto dizer que Hélder Muteia investiu mais tempo a recolher informação do que propriamente a escrever. “Decidi partilhar esta história porque achei que pode ajudar os leitores a compreender as comunidades rurais, incluindo essa dimensão espiritual da nossa cultura. Realmente, a história começa com choque e os eventos não terminam aí. Pelo contrário, despontam tantos outros eventos. A história real, quando tomei conhecimento, emocionou-me muito”.

Para Muteia, Matoa, a febre do batuque é o somatório de muitas emoções, em geral, contraditórias, que simbolizam a relação pacífica do amor com as entidades poderosas, espirituais, que interferem no dia-a-dia das personagens e das pessoas. Paralelamente, Muteia pretende, através da ficção, mostrar que as comunidades rurais têm um conceito de felicidade que, em muitas ocasiões, não são perceptíveis logo à primeira a quem vive no contexto urbano. “Igualmente, o romance ajuda-nos também a perceber por que, certas vezes, as pessoas urbanas regressam ao campo, sua zona de origem, quando busca por um equilíbrio espiritual”.

Matoa, a febre do batuque é constituído por 279 páginas e o livro foi publicado pela Alcance Editores.

 

 

 

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