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Há tentativa de oficializar o adultério em Moçambique, dizem activistas

Foto: O País

Activistas e organizações que defendem a mulher dizem que as discussões sobre a poligamia no país são resultado da pobreza e da luta em institucionalizar o adultério. Elas defendem que, mesmo na religião muçulmana, há regras para a poligamia e que nem todos têm capacidade para as cumprir.

No último fim-de-semana, ouviu-se de mulheres muçulmanas, na Zambézia, que aceitam partilhar os seus maridos com uma ou mais mulheres, o que voltou a atiçar comentários sobre a poligamia no país. O “O País” ouviu mulheres reunidas no Fórum Feminista Lusófono Africano em Maputo sobre o assunto. Graça Samo diz que algumas mulheres são influenciadas pelos seus grupos de pertença.

“Nas nossas sociedades, é muito normal que as mulheres sejam instrumentalizadas e usadas para que estejam no espaço público a defender certas posições que são de interesse de certa congregação”, disse para depois avançar que “não quero desmerecer que possam existir mulheres que, por livre escolha, queiram viver num cenário desses”.

Para Fátima Mimbire, a questão da poligamia mexe com os direitos da mulher e, mesmo no islão, não basta querer, precisa de ter capacidade para ter mais de uma mulher. “Na religião islâmica, um homem que se assume polígamo significa que tem condições para tratar de igual forma as quatro esposas, incluindo os quatro filhos. Não sei se no contexto em que vivemos, em que os pais mal conseguem sustentar os seus filhos numa relação monogâmica, poderão dar as mesmas condições a tantas mulheres e tantos filhos”, iniciou para, em seguida, defender que, na sociedade, há uma confusão entre a poligamia e o adultério.

“Essas discussões revelam que as pessoas querem oficializar o ‘amantismo’” ou o adultério. Se formos a olhar para a doutrina por trás da poligamia, ela é clara que é um sistema que parte do pressuposto de que há conhecimento dessa realidade. Isto é, o polígamo assume-se como tal à partida e não o inverso”, detalhou.

Maria Gonçalves, vice-presidente da Associação de Luta Contra Violência Baseada no Género de Cabo Verde, disse ser contra a prática e justificou. “Não defendo porque acho que as relações devem basear-se no respeito, na reciprocidade e na lealdade. Quando estes elementos não existem, dificilmente as coisas dão certo.”

A guineense Elisa Pinto, que foi distinguida pelas Nações Unidas e pela União Africana como uma das 20 mulheres que lutam pela pacificação do continente, disse que, no seu país, a prática é aceite no meio muçulmano, mas, fora desse meio, “não é poligamia, trata-se de uma situação de violência contra a mulher e seus filhos. É típico dos homens que não se conformam com o que têm em casa”, terminou.

Face a esse cenário, Graça Samo aproveitou a ocasião para deixar alguns conselhos para as mulheres. “Pensa duas vezes antes de entrar num relacionamento. É preciso negociar as condições dessa relação, as suas modalidades e as responsabilidades que cabem a cada membro que compõe o casal. Outrossim, não se meta numa relação onde existe uma família constituída.”

As intervenientes falavam à margem do Fórum Feminista Lusófono Africano que tem duração de dois dias em Maputo.

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