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Há estudantes do superior que não conseguem cumprir com recolher obrigatório

O recolher obrigatório, na Região do Grande Maputo, fez com que as universidades reduzissem a carga horária do pós-laboral para que os estudantes possam sair até às 19 horas. Além da redução do horário, por recomendação do ministério de tutela, as universidades estão a optar por dar aulas aos sábados. Com o novo normal, entra em cena o sistema híbrido.

“Quer dizer que em alguns dias de semana, temos aulas presenciais e os restantes as aulas são feitas através de plataformas digitais”, explicou António Tafula, Porta-voz da Universidade São Tomás de Moçambique.

Entretanto, os custos de internet não estavam previstos nas finanças dos estudantes, que também devem pagar propinas, transporte, por isso sentem-se asfixiados.

“Enquanto antes fazia um orçamento a contar com arroz e outros produtos básicos, agora tenho que associar os custos de internet. Só para ver que só de internet gasto acima de mil meticais, um custo que não estava previsto nas minhas finanças. Esses gastos até certa medida não compensam porque vezes sem conta a internet é de baixa qualidade. No semestre passado por exemplo, perdi um exame porque durante a sua realização a Internet falhou e nesse tipo de situações, os professores não são compreensivos”, lamentou Eduardo Matavele, estudante da Universidade Técnica de Moçambique UDM.

Na Universidade São Tomás, por exemplo, os estudantes do pós-laboral passam a entrar às 16h00 e não às 17h00, como era habitual, mas tal poderá prejudicar os que trabalham distante do centro da Cidade.

“Temos que ter em conta que maior parte dos estudantes do pós-laboral são trabalhadores. Eu, por exemplo, trabalho no Aparelho de Estado e na Cidade da Matola. De lá saio às 15h30, como é que conseguirei chegar às 16h00 para ter aulas?”, questionou outra estudante da Universidade São Tomás de Moçambique que preferiu anonimato.

As reclamações não estão apenas no horário de entrada, mas também no horário de saída. Há estudantes que mesmo saindo às 19 horas da faculdade não conseguem chegar antes das 21 horas às suas casas.

“Temos constrangimentos vários. Além das cobranças ilícitas que sofro para chegar à casa por parte dos transportadores, não consigo chegar a tempo de cumprir o recolher obrigatório. Várias vezes não tenho como tomar um único autocarro para chegar à Mozal, onde vivo, tendo que fazer “ligações”. Sem contar que tenho que contar com o fenómeno congestionamento que condiciona o cumprimento desta medida. Veja que não sou único nessa situação, há trabalhadores e estudantes que estão na minha situação. Nem quero pensar nos que vivem mais distantes que eu”, relatou Matavele.

E porque não consegue chegar a tempo de cumprir o recolher obrigatório, a este estudante só resta uma opção.

“Quando chego à paragem saio a correr para escapar da Polícia, porque veja, mesmo que eu apresente o cartão de estudante, os nossos agentes não são suficientemente compreensivos para me deixar avançar”, entristeceu o estudante.

 

AULAS AOS SÁBADOS SINÓNIMO DE SUFOCO PARA OS ESTUDANTES

Com a redução da carga horária e introdução das aulas aos sábados, os estudantes esperam dias difíceis.

“A experiência manda dizer que esta redução de carga horária iremos ter complicações. Ao se aperceberem que estão na eminência de não cumprir com o plano temático, os professores tendem a sufocar os estudantes”, uma opinião secundada por Matavele que justificou que as aulas aos sábados “não são benéficas para os estudantes que também são trabalhadores. Estamos num contexto adverso em que as organizações esperam recuperar dos prejuízos se reajustando e colocando os seus funcionários a trabalhar aos finais-de-semana. São esses funcionários, que também são estudantes, que devem se dividir. Vou avançando que não é todo o patrão que irá permitir o seu trabalhador ir à escola ao invés de produzir”, justificou.

UNIVERSIDADES TEMEM FALÊNCIA…

As universidades reconhecem que, com a pandemia, os custos da educação aumentaram, mas dizem que nada podem fazer, sob risco de irem à falência. “Temos essa noção. Cobramos uma propina ao estudante e esse valor não previa a compra de máscaras, desinfectantes, produtos de limpeza das salas de aula, não previam a formação de docentes por causa das aulas online. Para dizer que os custos para o funcionamento das universidades aumentou. Os custos aumentaram, mas porque sabemos a real situação do país não podemos ir ao estudante aumentar a propina e nem temos como reduzi-la, senão corremos o risco de ir à falência”, defendeu Severino Ngoenha, Reitor da UDM.

A Universidade Pedagógica de Maputo reconhece a existência de estudantes que chegam à casa depois das 21h00, mas diz que não tem como dar credenciais aos mais de 6500 estudantes do pós-laboral. “Certamente se o estudante viver em Namaacha, por exemplo, vai ter problemas com as autoridades, esses casos são isolados e nós estamos preocupados em pensar na maioria. Não temos como resolver todos os problemas que nos são apresentados, seria utópico”, defendeu Elias Matos Director Pedagógico da UNIMaputo.

Assim, vai o Ensino Superior no grande Maputo, assim vai o ensino em tempos de pandemia.

 

 

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