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Há contradições entre entidades do Estado sobre situação dos deslocados no Malawi

O INGD diz que já não existem moçambicanos nos centros de acomodação no Malawi e que os mais de 2000 mil deslocados já retomaram a sua vida normal. Entretanto, a informação não bate com a que é avançada pelo Cônsul-Geral de Blantyre, André Matusse, que garante que os deslocados continuam nos centros e vivem um verdadeiro drama humanitário.

Um mesmo Estado, duas versões sobre o mesmo assunto. Em causa, está a situação dos deslocados moçambicanos que foram vítimas da depressão tropical Ana. Segundo o porta-voz do INGD, a situação voltou à normalidade, pois os centros já foram encerrados.

“Há três semanas, tivemos a visita da nossa contraparte do Malawi que vinha oferecer ao país 30 toneladas de feijão manteiga aos deslocados do terrorismo em Cabo Delgado. Nessa ocasião, tivemos o ponto de situação dos nossos concidadãos que foram afectados pela depressão tropical Ana, que estiveram em Nsanje. A informação que temos é que quase todos os centros de acomodação já foram desactivados e as populações tendem a voltar à sua vida normal”, disse Paulo Tomás, porta-voz do INGD.

CÔNSUL DE BLANTYRE DIZ QUE CENTROS ESTÃO ABERTOS

Entretanto, essa versão não bate com a que é avançada pelo Cônsul-Geral de Moçambique em Blantyre, no Malawi, que recentemente participou no Conselho Coordenador do Ministério dos Negócios Estrangeiros. André Matusse garante que os moçambicanos continuam nos centros.

“O certo é que continuam lá [nos centros] e alguns já tiveram a possibilidade de regressar às suas zonas de origem, mas constataram e, segundo contam, ainda há níveis elevados de água. O que posso garantir é que, até o dia 1 de Maio, as pessoas continuavam nos campos”, contrariou o cônsul que vive naquele país.

Diferentemente do que vinha sendo noticiado, o INGD diz não ser verdade que os deslocados moçambicanos fugiram de Morrumbala e Mutarara devido à depressão tropical Ana. Paulo Tomás reconhece que as populações foram, sim, afectadas pelo fenómeno, mas já viviam do lado malawiano há bastante tempo.

“Há uma equipa que se deslocou ao Malawi na zona fronteiriça entre o Chire e Nsanje. Esta missão foi liderada pela presidente do INGD, que se fez acompanhar pelos delegados provinciais do INGD de Tete e da Zambézia. Também estiveram os chefes da localidade e as lideranças tradicionais para que pudessem fazer o reconhecimento das populações e constatou-se que não eram pessoas que se haviam deslocado naquele momento, devido à depressão Ana, mas já estão do outro lado (Malawi) há bastante tempo”, disse Tomás, uma versão que não é confirmada pelo cônsul que garante que “maior parte deles são de Mutarara, posto administrativo de Chire.

“Pensamos que terá havido dois ou três casos de deslocados provenientes de Mutarara. Há muitos que são naturais de Mutarara, mas são residentes em Morumbala.”

Para justificar que a situação dos deslocados é prevalecente, o cônsul diz que os apoios continuam a ser mobilizados. “Todas as entidades que intervêm no apoio entregam ao Departamento de Gestão de Desastres do Malawi. Como consulado, nós temos vindo a solicitar apoio de organizações locais e, tudo o que conseguimos, encaminhamos às autoridades malawianas que são responsáveis por garantir a entrega desses apoios.”

INGD NÃO CONFIRMA DOENÇAS NOS LOCAIS

Daquele país vizinho, vêm relatos de casos de desnutrição crónica em crianças, cólera e sarampo nos centros. O INGD não confirma, mas o cônsul diz ser provável que existam casos.

“Na altura, quando falei com o administrador de Nsanje, que por sinal é médico, procurei saber somente da situação da cólera, não posso dar detalhes sobre o sarampo e a desnutrição. Provavelmente possa haver situações de cólera, uma vez que houve a eclosão desta doença naquele distrito, e as condições de alimentação naqueles locais não são das melhores”, terminou Matusse.

Apesar de as populações estarem a viver há bastante tempo do lado malawiano, Paulo Tomás diz que a Organização Internacional das Migrações, no Malawi, já se prontificou a dar kits para que os concidadãos possam viver do lado moçambicano.

“Estamos a fazer a sensibilização desses nossos concidadãos para que passem para o lado moçambicano. Há um trabalho de levantamento que está a ser feito para termos o número de moçambicanos que queiram regressar a Moçambique. Há um kit previsto que a Organização Internacional das Migrações está predisposta a alocar. Já nos distritos, há um plano de recepção, que envolve kits de abrigos para que possam reiniciar as suas vidas”, disse.  

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