O País – A verdade como notícia

Grandes poluidores devem financiar países em desenvolvimento na transição energética

Especialistas discutem amanhã, em Sines, em Portugal, sobre transição energética justa, numa iniciativa do Fórum de Energia e Clima, um projecto das organizações da sociedade civil da CPLP, cujo objectivo é dar respostas à actual crise climática. Presidente do Fórum diz que a transição deve ser justa.

Enquanto Moçambique e outros países em desenvolvimento preparam-se e/ou acabam de iniciar a colheita de ganhos resultantes da exploração de recursos energéticos como gás natural e carvão mineral, o mundo, em sentido contrário, segue rumo à redução ou eliminação dessas fontes de energia, conforme acordado na última Conferência das Nações Unidas sobre Clima, em Glasgow, na Escócia.

A referida reunião acordou que os 195 países vinculados ao Acordo de París devem reduzir, até 2050, a produção de energias fósseis, como o caso de carvão mineral, gás natural, entre outras fontes. Entretanto, Moçambique tem no gás uma das duas grandes esperanças de desenvolvimento e o Presidente da República, Filipe Nyusi, tem esclarecido que a decisão de explorar ou não é soberana, tendo chegado a afirmar recentemente, em Gana, que é chegada a hora de países, como Moçambique, desenvolverem com base nessas fontes de energia.

Portugal é um dos países da Europa já avançados na transição energética, pois já alcançou 60% de fontes renováveis, como a energia solar e eólica, e o Presidente do Fórum de Energia e Clima, Ricardo Campos, compreende que não se pode fazer a mesma exigência aos países em desenvolvimento.

“Nós temos que compreender que África, como continente, representa, no mundo inteiro, apenas cinco por cento das emissões de gases com efeito estufa. Nós temos que ter a noção de que, nos últimos 200 anos, vimos os países mais desenvolvidos, do hemisfério Norte, a desenvolverem-se à custa e com muitos recursos do hemisfério Sul e à custa da queima de muitos combustíveis fósseis. Portanto, este é o tempo da solidariedade”, disse ao jornal “O País” Campos, o líder da organização de “defesa da causa do clima”, que nasceu da vontade da sociedade civil de todos os países pertencentes à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), para aprofundar laços e lutar em conjunto pela vitória na crise climática.

Mais do que solidariedade, segundo a fonte, está na hora de os maiores poluidores cumprirem a sua promessa de disponibilizar, anualmente, 100 mil milhões de dólares para que países como Moçambique invistam em fontes limpas de energia.

“Que não continue a acontecer aquilo que está a acontecer que é uma transferência de muitas poucas verbas e muitos poucos recursos para países como Moçambique, Cabo Verde, Angola e países possam ter efectivamente recursos para se posicionarem nesta competição pelo novo paradigma energético e pela economia verde.

Em nome da economia verde, Portugal encerrou três centrais de produção de energia com base em carvão mineral, uma delas situada na cidade de Sines, no Alentejo, razão pela qual, ontem e hoje, especialistas discutem o tema do fundo de transição justa que a União Europeia criou para que a mesma não seja prejudicial aos trabalhadores e empresas que dependiam da indústria do carvão. Trata-se de um tema que, a médio e longo prazos, Moçambique terá de discutir se calhar.

“A grande sensibilidade que está a existir na Europa é que está a ser mobilizado um fundo que, para o caso desta região do Alentejo, está orçado em 75 milhões de dólares, no sentido de cuidar dos trabalhadores que ficam numa situação desprotegida e para requalificar as suas profissões que possam servir o futuro da economia portuguesa naquela que é a economia verde”, acrescentou.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos