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Gastrite: uma doença grave que se esconde por detrás da dor de estômago

Há cinco anos que Sandra Fernando sentiu os primeiros sintomas de uma doença que a acompanha até hoje. “Comecei a sentir uma dor muito forte na boca do estômago. Toda a vez que comia, o meu estômago doía muito”, lembra. A dor não passava, daí que a jovem de 35 anos decidiu ir ao hospital, onde lhe foi diagnosticada com gastrite.

“A gastrite é definida como inflamação da parede que reveste o estômago. Os sintomas que ajudam a identificar a gastrite são: dor na boca do estômago em forma de pontadas, sensação de bola na garganta, queimação, náuseas e arrotos constantes que surgem especialmente após comer”, explicou a médica do departamento de gastroenterologia do Hospital Central de Maputo, Fátima Maibaze.

As causas da gastrite são múltiplas, mas a mais comum é a presença de helicobacter pylori, uma bactéria que existe no estômago de mais da metade da população mundial. “A helicobacter pylori é uma bactéria que vive na parede do estômago. Ela é eliminada pelas fezes. Nas situações em que se usa água de consumo doméstico não tratada, consumo de alimentos não lavados e o preparo de alimentos sem a lavagem prévia das mãos, ocorre a contaminação”, explicou Maibaze.

Em Moçambique, não há registo de quantas pessoas têm a doença. Entretanto, ao nível do maior hospital do país, assiste-se ao aumento do número de casos de gastrite, principalmente em jovens. “Isso se deve aos hábitos alimentares adoptados pelos mais  jovens. Eles ficam muitas horas sem comer e, quando fazem refeições, interessam-se mais por fast-food, que são ricos em gorduras e o seu abuso pode levar a contrair a gastrite”, esclareceu a gastroenterologista.

Foi no HCM que Sandra encontrou resposta para a sua doença. “Estou a tomar os comprimidos que me receitaram e agora já não sinto dor”, conta alegre.

Mas apenas cumprir a medicação não basta. A especialista alerta que a alimentação é fundamental no tratamento e prevenção da gastrite. “O tratamento da gastrite pode ser feito com uma combinação de remédios para proteger o estômago, eliminar a bactéria e adequando a alimentação. No entanto, a alimentação é uma das partes mais importantes do tratamento. Deve evitar-se gorduras, frituras, alimentos ácidos e dar preferência aos alimentos moles e fáceis de serem digeridos, como frutas cozidas, legumes bem cozidos ou amassados em forma de puré e carnes magras cozidas, assadas ou grelhadas, como peixe ou frango”, advertiu.

Aliás, o cuidado com a alimentação vai além da selecção dos alimentos, sendo também necessária especial atenção ao espaçamento das refeições. “O ideal é que as refeições sejam feitas de três em três horas ou não deixar que falte alguma refeição. Também é importante não comer grandes quantidades, para não deixar o estômago pesado. Uma boa alternativa pode ser comer fruta no espaçamento entre as refeições”, disse Fátima Maibaze.

Entretanto, quando não tratada, a gastrite pode evoluir para doenças como úlcera e cancro de estômago. Para identificar essas doenças, os especialistas recorrem à endoscopia. “A endoscopia é um exame que consiste na introdução de um tubo que permite visualizar o estômago e dar um diagnóstico com precisão. Também se pode recorrer a este exame quando o paciente que já iniciou o tratamento de gastrite não apresenta melhorias”, explicou a especialista.

Por vezes, a gastrite pode estar associada a outras doenças. No caso de Gaudêncio Mondlane, a doença é acompanhada pelo refluxo. “Eu sentia muita dor na boca do estômago. Mas tomei a medicação e passou. A minha queixa hoje é o refluxo. Tudo o que como faz-me arrotar e provoca uma dor no peito”, contou o jovem de 23 anos. Hoje, Gaudêncio continua a fazer  o tratamento da gastrite, em paralelo com o do refluxo.

Para as pessoas que não padecem de gastrite ou as que ainda não lhes foi diagnosticada, Gaudêncio recorda que prevenir é melhor do que remediar. “Conheço muita gente que ignora este problema, apesar de ser muito sério. Eu falo por experiência própria e digo que o ideal é procurar ajuda ainda a tempo, para não chegar ao hospital numa fase em que já tem complicações”, recomendou.

 

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