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Futebol: algo marginal que produz marginalizados?

Não é preciso fazer muito esforço, para constatar que são raras e honrosas as excepções dos que, abraçando ao mais alto nível a carreira de futebolistas no nosso país, acabaram-nas sem outra profissão e condições para manterem um padrão de vida à altura do nome que granjearam.

Não importa citar nomes. Uma pequena inventariação desta realidade no pós-Independência, traz-nos o cenário de que o profissionalismo – ou pseudo? – do nosso futebol, é como se fosse algo descartável, ao estilo “usa e deita fora”. Com actualizações e “nuances” para cada época, mas sem nunca ter alterado a génese: o atleta preteriu a escola para brilhar nos campos até onde pôde e depois… desenrasque-se!

Mudam-se os tempos alteram-se os riscos
No chamado tempo do carapau, a assinatura dos contratos, em muitos casos contemplava a entrega de uma casa, que os clubes conseguiam adquirir. Uma vez arrumadas as botas, o imóvel passava a ser o único capital para a ex-estrela, que o alugava, ou simplesmente vendia para sobreviver.

O ex-jogador, numa primeira fase, era enquadrado nas estruturas do clube, trabalhando, porque sem formação, na “deformação” das camadas jovens.

Depois mudaram-se os tempos e as realidades, excepto uma: é que tudo continua a ser feito “debaixo da mesa”, sem divulgação dos valores, logo sem tributação de impostos e como tal, sem acesso à Segurança Social.

Há um ditado português que cabe neste caso como uma luva: “enquanto dura, vida e doçura, em se acabando, gemendo e chorando”…

Nos dias que vivemos, aumentaram as incertezas e os riscos. O Moçambola, de Norte a Sul, com mais tempo no ar que em terra, impossibilita a compatibilização com qualquer tipo de formação que garanta um pós-futebol tranquilo. Daí que o atleta tente ganhar o máximo, enquanto ainda tem quilómetros nas pernas.

Mas tudo é imprevisível, começando nas viagens muitas vezes sem seguro de vida, com campos de pisos irregulares e como tal propiciadores de lesões, a que se juntam improvisados departamentos médicos, atrasos salariais e outras suficientes “insuficiências”.

É, seguramente por isso que, ao contrário do que se passa no basquetebol, em que a escola está presente na maioria dos jogadores e jogadoras, determinadas classes sociais da nossa praça não encorajem os seus filhos a optarem pelo desporto-rei, ao contrário do que esta modalidade experimenta no mundo desenvolvido, em que é um assunto de Estado. Ter na família um futebolista de eleição, é motivo de orgulho e por isso muitos jovens abandonam promissoras carreiras de Economia ou Direito, para “fazerem o gosto ao pé”.

E a pergunta é: “para onde vai o nosso futebol”? Será candidato, cada vez mais, a ser uma actividade marginal, para produzir marginalizados?

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