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Famílias mergulhadas num mar de incertezas

Mais de cem famílias vítimas da tragédia de Hulene foram reassentadas no bairro do Ferroviário, periferia da cidade de Maputo. As mesmas reclamam a falta de espaço no local e pedem mais apoio das autoridades.

Desespero e incertezas são os sentimentos traduzidos por quem perdeu quase tudo, após o deslizamento de lixo Bairro de Hulene. O “O País” acompanhou de perto a primeira noite das famílias acomodadas no círculo do Bairro Ferroviário e o cenário era de total desalento. A nossa reportagem encontrou uma jovem que viu o lixo de Hulene levar seis membros da sua família. Agora, sem um teto e nem o carinho familiar, ela tem de reunir forças para cuidar do filho menor. Sem forças: “não me sinto bem”, foram as suas únicas palavras por nós gravadas, entendia-se…e era visível a agustia que transbordava a cada gesto. Ainda no centro improvisado, encontramos Carmila Mathe deitada ao lado da sua filha. Ambas estavam feridas, mas a maior dor não estava nas escoriações. Elas sentiam uma dor maior, a dor da ausência de um familiar que partiu para sempre. “Tudo aconteceu nós dentro da casa e não me recordo de muita coisa. Só sei que perdi o meu filho, não sei como será a nossa vida porque perdemos tudo”, disse Carmila com lágrimas nos olhos.

E porque as famílias são muitas, algumas ficaram deitadas no chão enquanto esperavam pela montagem das tendas. Infra-estruturas existentes no local foram improvisadas para acomodar as pessoas. As famílias cujas residências estão submersas exigem mais das autoridades, até porque até na primeira noite algumas delas ficaram horas sem comer e sem cobertores. No local, a nossa equipa presenciou os trabalhos efectuados pela electricidade e pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, entretanto, até por volta das 22h30 algumas famílias permaneciam deitadas no chão.

E como foi a primeira noite?   

Péssima, assim descreveu Rosita Horácio, uma das vítimas da tragédia, aliás esse foi o sentimento partilhado pela maioria. E razões? E porque a nossa reportagem voltou ao local na manhã de hoje, ouviu relatos de desconforto e falta de condições. Com a chuva que caiu na madrugada, as vítimas tiveram que disputar por um lugar em compartimentos minúsculos que deixam escapar água pelo teto. “Foi péssimo passar a noite aqui, alguns tiveram mantas e outros não, é o meu caso. Estamos todos apertados e não há condições para vivermos aqui deste jeito. Agora que vos falo (entre 9h00-10h00) ainda não tomamos o matabicho”, detalhou Rosita, para ser secundada pela idosa Lurdes Cossa. “Estou desesperada. Já não tenho nada, estou desamparada. Perdi um filho e meu marido já não está entre nós. A casa que ele nos deixou também foi destruída pelo deslizamento. Não sei o que os próximos dias nos esperam só podemos rezar a Deus para que nos dê força para encarrar esta tragédia”, concluiu.   

Autoridades de saúde temem proliferação de doenças

O que é certo é que o número de famílias que precisam de apoio tende a subir. Os últimos dados indicam para a existência, naquele local, de 103 famílias contra 72 do primeiro dia. As autoridades de saúde temem a propagação de doenças. “Detectamos 17 pessoas com patologias como diarreias, escoriações e dores de cabeças. Este é um período chuvoso e por isso estamos a envidar esfoços no sentido de dar Certeza às famílias para que não haja surto de cólera. As famílias estão em pequenos compartimentos e isso pode constituir um perigo. E porque há muitas pessoas que sofreram traumas estamos a dar acompanhamento psicológico para que possam superar a situação”, disse Ilda Nhaca médica responsável. As vítimas exigem das autoridades um plano concreto de reassentamento para que não regressem aquela zona de risco e porque a chuva continua a cair, as famílias temem por dias piores…

 

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