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“Europa age contra humanidade”, dizem Mia e Agualusa

Mia Couto e José Eduardo Agualusa criticam duramente a Europa por suspender a entrada de voos que saem de países africanos. Os escritores entendem não se tratar apenas de falta de solidariedade, mas também de acções contra a ciência e contra a humanidade.

“O continente europeu, que se proclama o berço da ciência, esqueceu-se dos mais básicos princípios científicos. Sem se ter prova da origem geográfica desta variante e sem nenhuma prova da sua verdadeira gravidade, os governos europeus impuseram restrições imediatas na circulação de pessoas”. São palavras de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, que se manifestam indignados com a posição dos países europeus de suspenderem a entrada de voos de países africanos, com e em risco de ter a nova variante da COVID-19.

Aliás, os escritores lembram que os vírus sofrem mutações sem distinção geográfica e no caso do novo Coronavírus, a África do Sul está a ser sancionada apenas por descobrir a nova estirpe.

“Cientistas sul-africanos foram capazes de detetar e sequenciar uma nova variante do SARS Cov 2. No mesmo instante, divulgaram, de forma transparente, a sua descoberta. Ao invés de um aplauso, o país foi castigado. Junto com a África do Sul, os países vizinhos foram igualmente penalizados. Em vez de se oferecer para trabalhar juntos com os africanos, os governos europeus viraram costas e fecharam-se sobre os seus próprios assuntos”, argumentam Mia e Agualusa, trazendo até elementos que mostram que o perigo não está só nos países penalizados, mas também, e principalmente, nos europeus.

“No dia em que a Europa interditou os voos de e para Maputo, Moçambique tinha registado 5 novos casos de infecção, zero internamentos e zero mortes por COVID-19. Nos restantes países da África Austral, a situação era semelhante. Em contrapartida, a maioria dos países europeus enfrentava uma dramática onda de novas infeções”.

Dizem mais: “Mais uma vez, a ciência ficou refém da política. Uma vez mais, o medo toldou a razão.  Uma vez mais, o egoísmo prevaleceu. A falta de solidariedade já estava presente e aceite com naturalidade na chocante desigualdade na distribuição das vacinas. Enquanto, a Europa discute a quarta e quinta dose, a grande maioria dos africanos não beneficiou de uma simples dose. Países africanos, como o Botswana, que pagaram pelas vacinas verificaram, com espanto, que essas vacinas foram desviadas para as nações mais ricas”.

Os escritores lembram que a penalização a que os países da África Austral estão sujeitos vai agravar o terrível empobrecimento.

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