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“Eu só queria as cinco casas”, diz Mbanda Henning

Foto: O País

Às 10 horas e 13 minutos desta segunda-feira, a ré Mbanda Anabela Buque Henning começou a responder ao interrogatório do Ministério Público (MP), que foi cedido a palavra pelo Juiz Efigénio Baptista, depois de ter feito apenas as questões referentes à identidade da ré.

No Tribunal instalado na B.O, na província de Maputo, logo no início do interrogatório, a Procuradora Ana Sheila Marrengula quis saber das empresas que a irmã de Ângela Leão detinha, os seus objectos e os seus sócios.

Auditora de profissão, Henning disse que, actualmente, faz a gestão das suas empresas e, em 2012, trabalhava na sua empresa de venda de chapas de zinco e materiais de construção. E foi com base nos fundos desta firma, que mais tarde viria a desenvolver um projecto imobiliário, no bairro Costa do Sol, na Cidade de Maputo, para erguer um edifício de 14 imóveis, tendo sido apenas concluídos 10. E é este projecto que o Ministério Público aponta como tendo sido um meio de lavagem de dinheiro. Porém, Mbanda Anabela Henning explicou que fez um acordo com a sua irmã, a co-ré Ângela Leão, após uma conversa, para a transmissão do projecto. Um acordo que viria a ser formalizado em 2015.

“Desse acordo, ficou estabelecido que ela ficaria com cinco apartamentos e eu com os outros cinco”, referiu Mbanda Anabela Henning.

Questionada sobre quais empresas foram contratadas para desenvolver o projecto, a ré disse que não se recorda dos detalhes, não sabe dizer quem foi o empreiteiro, nem quando o projecto começou a ser implementado. “Esses detalhes já não me interessavam, porque eu só queria os cinco apartamentos. Eu só queria as cinco casas”, disse.

O Ministério Público quis saber das provas que a ré tem, que provam que o projecto de construção de 10 casas pertence à sua irmã Ângela Leão. Mbanda Henning disse que a documentação de passagem do projecto e o empréstimo, que a co-ré pediu na banca, podem servir de prova.

“Em 2011, eu emprestei quatro milhões de meticais à Ângela. Vinha de uma minha conta corrente caucionada. E ela só me devolveu parte do valor em 2013, já com juros. E a outra parte devolveu-me em 2014. E, porque na altura eu precisava de mais, pedi-lhe emprestado seis milhões de meticais. Depois, eu devolvi uma parte do valor em numerário e outra parte em chapas de zinco”, explicou.

Mbanda Henning disse que soube que o valor já tinha sido transferido para a sua conta, porque a irmã a informou. “Não me importei com a origem, porque só queria ver o meu dinheiro reflectido na conta. Nunca me interessei em fazer nenhuma questão sobre isso”, argumentou.

Em 2018, Mbanda Henning disse que não conhecia Fabião Mabunda e não sabia por que o valor que a sua irmã lhe devia foi enviado a partir da conta da M-Moçambique Construções. Entretanto, hoje disse que tinha provas sobre a recepção do valor e o MP quis saber da razão da contradição.

“Em 2018, eu já não me recordava de algumas coisas. Mas, depois, fui procurar os documentos e encontrei-os”, explicou.

Mbanda Henning disse que tem os documentos bancários que provam que emprestou dinheiro à sua irmã e comprometeu-se a juntá-los ao processo em sete dias úteis, mas o Juiz Efigénio Baptista disse que ela tem cinco dias úteis para o fazer.

Henning é, por outro lado, titular de uma casa na Polana Cimento, Cidade de Maputo, que foi adquirida com dinheiro proveniente da Privinvest. A ré diz que a sua irmã Ângela Leão pediu que a casa estivesse em seu nome “para a salvaguardar os interesses do filho” e que sequer sabe qual a proveniência do dinheiro que teria comprado a casa.

Ana Sheila Marrengula quis saber o que significava “savalguardar os interesses do filho de Ângela Leão”, mas Mbanda Henning disse tratar-se de uma questão de família. “Não estou confortável em falar sobre esse assunto aqui”, referiu.

Ainda esta segunda-feira, ao Ministério Público, a ré Mbanda Henning confirmou um encontro realizado na sua casa, entre o co-réu Sidónio Sitoe e a sua irmã, Ângela Leão, mas disse que não participou do encontro.

“Eu abri a porta para eles e não fiquei na sala a todo momento. A minha casa é um ponto de encontro, porque a minha mãe e os meus irmãos vivem na Matola e a minha casa é a única que temos na cidade. Até as refeições, eles passam na minha casa”, disse.

No interrogatório feito pelos advogados de Defesa, Mbanda Anabela Henning disse que nunca ouviu falar sobre o projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva nas suas reuniões de família.

Em entrevista ao “O País” o advogado de Defesa da ré que é irmã da co-ré, Ângela Buque Leão, disse que sai da audiência satisfeito e que se atingiram os objectivos traçados para a defesa da sua constituinte.

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