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Estacionamento rotativo: quem não pagar não terá manifesto nem inspecção

Foto: O País

Quem não pagar o estacionamento e as respectivas multas não terá como tratar a ficha de inspecção e o manifesto da sua viatura, na Cidade de Maputo. A medida é da Empresa de Mobilidade e Estacionamento e deverá entrar em vigor ainda este ano.

Safe-se quem puder. É como se pode caracterizar o drama dos automobilistas para estacionar as suas viaturas na Cidade de Maputo. Na capital, os passeios já não pertencem apenas aos peões, cada automobilista vira-se à sua maneira. Devido a essa situação, um automobilista foi ousado e estacionou a sua viatura, na Praça Samora Machel, em frente ao município, foi bloqueado. Para o PCA da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMME), isso revela haver “indisciplina generalizada”.

E para reverter o cenário, o Município de Maputo, através da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento, começou a demarcar espaços e a cobrar, por isso, uma decisão que divide opiniões. Adriana Savanguane defendeu que a ideia até é boa, mas a empresa deveria garantir segurança nos locais, pois já viu a sua viatura vandalizada. Já para Horácio Guiamba, a empresa “deveria apostar na questão da informação, porque nem todos estão informados sobre a situação. Ademais, certa vez, paguei o estacionamento por duas horas, excedi o limite em apenas 15 minutos e a minha viatura foi bloqueada e tive que pagar uma multa de 1 750 Meticais. Acho isso injusto, tem que se trabalhar na questão da informação”, reiterou.

“COM AGENTES PERDÍAMOS 50 MIL MT POR MÊS”

Falta de informação que fez com que Dércio Uramala visse a sua viatura a ser bloqueada na Avenida 10 de Novembro, porque, segundo contou, estava acostumado a pagar aos agentes que faziam a cobrança na via pública. Sucede que, de uns tempos para cá, os referidos agentes foram retirados, pois eram um problema para a empresa.

“Tínhamos inúmeras perdas com os agentes. Os automobilistas preferiam pagar pouco aos agentes, em prejuízo da empresa. Estimamos que mensalmente a empresa perdia 50 mil Meticais, pois tínhamos 50 agentes na rua. Era muito dinheiro perdido”, explicou o gestor.

EMME INVESTIU 63 MILHÕES DE METICAIS PARA A TECNOLOGIA

Para evitar perdas, a EMME investiu cerca de um milhão de dólares, o equivalente a 63.2 milhões de meticais para adquirir tecnologia de gestão do estacionamento rotativo, facto que permite que o pagamento seja feito por meios electrónicos. Para o efeito, foi desenvolvido um aplicativo que pode ser instalado em telemóveis android, através do qual o automobilista pode efectuar o pré-pagamento através da carteira móvel das três operadoras e com opção de pagamento através do cartão do banco.

Além da aplicação, os automobilistas podem efectuar pagamentos através de telemóveis simples, bastando digitar *210# e seguir os passos. Os que preferem pagar em numerário, só o podem fazer na sede da empresa.

“QUEM NÃO PAGA ESTÁ A ACUMULAR DÍVIDAS”

Engana-se quem pensa que pode estacionar em locais devidamente demarcados e com a respectiva placa indicativa de [estacionamento rotativo remunerado], não pagar e não ser descoberto. É que a EMME tem como saber a localização de todas as viaturas estacionadas naqueles locais.

A fiscalização é feita por uma viatura que tem tecnologia de ponta e com capacidade de fotografar e enviar, em tempo real, as imagens das viaturas estacionadas no raio onde funciona o estacionamento rotativo.

“Ela anda a uma velocidade de 20 a 30 km/h. A cada segundo capta três fotografias do mesmo carro. Não só não tira fotografia da matrícula, mas também da viatura para que, em casos de contestação do utente, possamos confrontar. Essas imagens ajudam-nos a saber lidar com essas situações”, detalhou Fernando Pangane, engenheiro informático da empresa.

A empresa alerta que os que não pagam o estacionamento, não é que são sortudos, estão, sim, a acumular dívidas todos os dias. “Nós temos a informação dos que não pagam em tempo real. Essa informação chega à nossa base de dados. Através da tecnologia, sabemos onde as viaturas que não pagaram estão estacionadas e essa informação é também enviada para os tablets da nossa Polícia que só vai aos locais para efectuar o bloqueio”, detalhou João Ruas.

Foi o que aconteceu com Dércio e outras tantas pessoas na Avenida 10 de Novembro. Por não ter pago o estacionamento que lhe custaria 10 Meticais por hora, teve que desembolsar 1.750 Meticais de multa para ver a sua viatura destrancada.

Sorte diferente teve o dono de outra viatura que foi rebocada na sua ausência. Façamos as contas dos prejuízos. Por ter sido bloqueado por falta de pagamento do estacionamento terá que pagar uma multa de 1.750 Meticais, mais 1 200 Meticais pelo serviço de reboque e pelo parqueamento mais 500 Meticais, o que totaliza 3 450 Meticais para ter de volta a viatura.

No entanto, esse valor pode aumentar. Por dia, o estacionamento num parque é de 500 Meticais, caso o carro fique por mais dias pode significar mais dinheiro perdido.

MAIS DE 12 MIL VIATURAS ESTACIONAM IRREGULARMENTE

Neste momento, entram diariamente na Cidade de Maputo cerca de 25 mil viaturas, sendo que só existem cerca de 12 mil espaços devidamente demarcados para o estacionamento, e, por isso, pouco mais de 12 mil viaturas estacionam de forma irregular.

Encontramos Adriana Savanguane que pagou o estacionamento para todo o dia, mas, porque não encontrou espaço, colocou a viatura de forma irregular e, por pouco, já seria rebocada. Para ela, não faz sentido que assim seja porque já havia pago pelo serviço. Em resposta, a EMME reconheceu que não há espaço suficiente na cidade, mas avisou que não irá permitir esses comportamentos “pois se trata de uma transgressão de trânsito”.

Face ao cenário de falta de espaço para estacionamento, o PCA da empresa prometeu silos, uma espécie de grandes parques para resolver parte do problema, mas foi cauteloso quanto aos prazos. “É que a situação está de tal jeito caótica que é preciso intervir em diferentes frentes para resolver o mesmo problema. E só é possível resolver este problema com a construção de silos, um processo que irá começar em breve, não vou avançar datas”, prometeu Ruas.

EMME ARRECADA ATÉ 7 MILHÕES DE METICAIS POR MÊS

Neste momento, apenas cinco a oito mil pessoas é que pagam o estacionamento por dia na cidade, o que, em receitas, significa quatro a sete milhões de Meticais por mês, o que para a empresa é pouco. “O ideal é que tenhamos 20 milhões de Meticais por mês, se todos que têm carros pagassem o estacionamento”.

A empresa reitera que o pagamento do estacionamento é obrigação dos munícipes para a melhoria das infra-estruturas na urbe, por isso equaciona fazer cobranças coercivas. Para o efeito, os que não pagam o serviço terão que pagar as multas no dia em que vão tratar o manifesto ou então a ficha de inspecção. Trata-se de uma medida que deverá entrar em vigor ainda este ano.

Face à reclamação dos munícipes sobre a falta de segurança nos locais onde o estacionamento é pago, a EMME responde que os silos são a solução.

A empresa reitera que pagar o estacionamento é um dever do munícipe para que a edilidade consiga melhorar as infra-estruturas. Por isso, quem não pagar por bem, será obrigado a saldar todas as multas no momento do pagamento do manifesto e da ficha de inspecção automóvel.

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