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Estabilização dos preços e aposta na qualidade podem aumentar a produção do algodão no país

Produzida há mais de cem anos, no país, a cultura do algodão é considerada como sendo estratégica. Apesar de ser uma cultura de rendimento, José Pinheiro, PCA da MCM-Indústrias Têxteis, considera que o país não está a tirar proveito do real potencial existente.

“Há vários factores que influenciam o estágio actual do sector. Primeiro é a questão do preço que tem uma dependência com a realidade internacional, mas também assistimos a uma baixa produtividade. A produção por hectare, em Moçambique, é dos mais baixos do mundo, e isso faz com que os agricultores não consigam ter grandes rendimentos. Isso faz com que Moçambique não tenha um peso significativo no panorama mundial. Estamos a falar de uma indústria que movimenta biliões de dólares anuais e, Moçambique tem uma quota muito pequena de 0.12% das exportações mundiais, o que é muito baixo”, iniciou o interveniente para depois apontar algumas soluções para reverter o cenário.

“Para que Moçambique consiga concorrer com os outros países que produzem sete, oito ou até nove toneladas por hectare, e contrariar a actual situação de 350 a 500 kg por hectare, deve-se apostar na produção do algodão orgânico que é menos sujeito à concorrência internacional”, defendeu.

Por seu turno, Ibrahimo Baraca, vice-presidente da Associação Algodoeira de Moçambique, defendeu que o desinvestimento e a falta de indústrias fomentadoras são a causa do recuo da produção em algumas províncias, como os casos da Zambézia e Sofala.

“Há uma tendência de estabilidade de produção de algodão nas províncias de Niassa, Nampula e Cabo Delgado. O mesmo não se verifica nas províncias da Zambézia e Sofala, onde não temos indústrias de fomento. A desestabilização, que se assistiu naquela zona, desalojou as indústrias e isso tem um grande impacto na actual situação de produção nas duas províncias. Porque não há indústrias, as populações que vivem basicamente da agricultura, abandonam a cultura de algodão e optam em outras que lhes possa trazer rendimento, como é o caso do gergelim. Se formos a notar, a produção do gergelim está a aumentar. Na minha visão, é importante que o governo coloque indústrias nesses locais e os resultados poderão surgir”, reiterou.

Por sua vez, José Domingos, Presidente Honorário do Fórum Nacional de Produtores de Algodão, disse que a instabilidade que se vive na zona centro, concretamente em Manica, causou abandono de terras que eram usadas para o cultivo do algodão, o que na sua visão tem um impacto nos fracos resultados da produção nacional.

Presente na discussão, o Instituto de Algodão e Oleaginosas acolheu opiniões e defendeu soluções integradas e a transferência de conhecimento para o crescimento do sector.

“O algodão é produzido basicamente pelo sector familiar, e entendemos que há necessidade de aumentar a capacidade desses agricultores, através da transferência de tecnologias e conhecimentos. É preciso criar facilidades de acesso ao mercado, através de uma base logística que permita que a produção saia dos campos para a indústria, e de lá para o mercado nacional e internacional”, disse Yolanda Gonçalves, Directora-geral do Instituto do Algodão e Oleaginosas de Moçambique.

Lembre-se que no país existem cerca de 150 mil produtores de algodão. Na época passada, o país produziu 30 mil toneladas, muito abaixo do potencial existente, sendo que para a presente época, espera-se uma produção de cerca de 50 mil toneladas.

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