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Escolinhas ainda se ressentem da crise provocada pela COVID-19

Seis meses após a retoma normal do ensino pré-escolar, os centros infantis ainda vivem dias difíceis. Perda de trabalhadores, contas atrasadas e falta de alunos caracterizam as escolinhas na Cidade de Maputo.

Em Moçambique, os centros infantis fecharam as portas em Março de 2020, com a introdução do primeiro Estado de Emergência, no âmbito da COVID-19, e reabriram dois anos depois. Apesar da retoma normal das aulas, há mais de seis meses, os infantários ainda se queixam de vários prejuízos.

Desde a sua entrada em funcionamento em 1997, o Centro Infantil 1 de Junho tem, pela primeira, vez quatro das suas cinco salas de aulas desocupadas.

“Estivemos encerrados durante muito tempo, agora temos poucas crianças, por isso as salas estão vazias”, lamentou Ester Neves, directora da instituição, avançando que tal situação se deve ao facto de os pais e encarregados de educação se sentirem receosos em manter os seus filhos nas escolinhas.

“Ainda não sabemos qual é o motivo exacto, mas acredito que alguns pais ainda estão com medo de trazer as crianças devido à situação actual”, presumiu Neves.

O Centro Infantil 1 de Junho vive os piores momentos dos seus 25 anos de existência. Com as salas e o pátio vazios, quem passa pelas redondezas quase que já não ouve vozes das crianças.

O cenário é similar ao do Lhayisso, que tem um espaço preparado para receber 125 crianças. Mesmo com a estratégia de ensino on-line adoptada durante os últimos dois anos, não escapou à crise.

“Nós ainda não atingimos esse número, acredito que seja por causa da pandemia. No momento, estamos a trabalhar somente com 25 crianças, que estão divididas em duas turmas”, referiu Lúcia Marcos, administrativa do Centro Infantil Lhayisso.

Com a falta de crianças nos jardins infantis, as contas continuam apertadas, por isso nem todos os trabalhadores foram reintegrados nos seus postos.

Dos 20 funcionários que o Centro Infantil Nhanala dispunha antes do encerramento das aulas, actualmente trabalham somente oito, pois, segundo justifica Domingos Tsamba, director da instituição, “as mensalidades não são suficientes para pagar a todos os funcionários”, justificou

Ademais, mesmo quem foi reintegrado teve o seu salário reduzido. “Os funcionários recebem metade do seu salário, porque não temos possibilidades de pagar”, fundamentou Ester Neves, directora do Centro Infantil 1 de Junho.

Quando as instalações são arrendadas, a situação torna-se ainda mais complicada: “Temos que fazer um jogo de cintura e ir buscar dinheiro noutros sítios, para, por exemplo, pagar a renda e custear as despesas com alimentação”, desabafou Neves.

Com os casos da COVID-19 a aumentarem, os centros infantis reforçaram as medidas de contenção. Tudo para garantir a segurança dos menores e evitar um possível encerramento, tal como explicou a administrativa do Centro Infantil Lhayisso.

“A higienização das mãos é fundamental no nosso centro, estamos sempre a trabalhar com água, álcool, sabão e incutimos nas crianças a ideia de que devem sempre lavar as mãos”, apontou Lúcia Marcos.

Apesar das incertezas impostas pela COVID-19, os gestores dos centros infantis preferem manter a esperança. “Temos fé de que melhores dias virão e iremos voltar a ser o que sempre fomos”, acredita Ester Neves.

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