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ENZ: dez anos de um monstro adormecido

Faz, hoje, uma década em que foi inaugurado o Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ), a maior infra-estrutura desportiva construída no país pós-independência.  Volvidos estes dez anos, o ENZ continua um fardo para o Estado, pois não consegue receitas próprias para a sua manutenção.

23 de Abril de 2011. Nação desportiva em ebulição. Holofotes virados para o Zimpeto. Afinal, estava escrito, este bairro não mais seria o mesmo: ganhava, a preceito, uma dimensão internacional ao acolher, no seu bojo, a maior infra-estrutura desportiva construída no período pós-independência em Moçambique.

Mais, e com maior enfoque para o capítulo desportivo, passava a ser a maior sala de visitas do país com a bandeira da controversa FIFA a flutuar num dos mastros.

A ousadia de “substituir” a Zâmbia (desistiu na última hora), na organização dos Jogos Africanos 2011, em cima do joelho e numa verdadeira corrida contra o relógio, ganhava cada vez mais consistência no problemático Comité Organizador dos Jogos Africanos (COJA). De resto, ter infra-estruturas desportivas modernas era a condição básica para sediar o maior evento desportivo continental.

Na noite de grandes emoções, entremeada com dança e música tipicamente cá do sítio, Moçambique fez sala à Tanzânia para o primeiro jogo naquele recinto desportivo com capacidade para 42 mil espectadores. A escolha não foi por acaso: a Tanzânia, país-irmão e determinante no sucesso da luta de libertação nacional, não podia passar ao lado de mais um  momento de exultação da pátria amada.

Os seis holofotes, antes mesmo da bola rolar no relvado, anunciavam já o fim da época de seca (21 anos em Moçambique sem a realização de jogos nocturnos).

Na celebração da amizade entre os dois povos, Kanguru, ou melhor, Jeremias “Jerry” Sitoe fez das suas ao marcar os dois golos que ditaram a vitória de Moçambique diante da Tanzânia (2 – 0).

Entrementes, este jogo amigável era, e como, um ensaio do que estava para vir: multicolor  cerimónia de abertura dos Jogos Africanos Maputo 2011, na qual desfilaram mais de 30 Nações. Passada a euforia, e com alguns dissabores pelo meio, havia que acordar para a realidade. Como fazer com que o importante e imponente Estádio Nacional do Zimpeto não se transformasse num Elefante Branco?!

Construído com o fito de sediar os Jogos Africanos, e não propriamente como estratégia pensada, desenhada e projectada  para o desenvolvimento do desporto nacional e resposta às exigências internacionais, o ENZ tinha que “sobreviver” de alguma forma. Os gestores precisavam de colocar um plano directo a funcionar, rentabilizando o recinto desportivo. O custo inicial para a sua manutenção, segundo dados a que o “O País” teve acesso, era de 54 milhões de meticais por ano. Muita “uva”! Os ensaios para que o ENZ não se tornasse um fardo pesado para o Estado moçambicano não faltaram. Arrendamento dos espaços adjacentes (restaurante, lanchonetes e lojas) apresentavam-se como a solução imediata. Mas nisso, as receitas arrecadas eram uma “gota no oceano”.

Caricato, chegou-se mesmo a instalar-se um cabeleireiro unissexo  numa das bilheteiras do Estádio Nacional do Zimpeto. Quiçá, e quiçá mesmo, inspirados na prosa de Fernando Pessoa: “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Vandalizado…

A acção humana acelerou, sem sombra de dúvidas, a degradação do ENZ. Ao longo dos últimos anos, gente mal-intencionada vandalizou a rede de protecção e vedação do recinto. Houve registo, pasme-se, de roubo da louça sanitária no Estádio Nacional do Zimpeto que passou a ser utilizado como um corredor de passagem e acesso às zonas circunvizinhas.

As instalações de algumas instituições foram, várias vezes, agravando, desta forma, os custos de manutenção desta infra-estrutura.

Relva desgastada pelos eventos não desportivos

A relva foi-se desgastando com o tempo, em parte devido à sua má utilização. Em 2014, nas celebrações dos 50 anos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, a relva sofreu um desgaste, tendo sido substituída por uma outra, importada da vizinha África do Sul.

Depois, com o tempo, o “tapete”, dado ao seu ciclo, sofreu, novamente, desgaste, situação que mereceu alguns reparos dos jogadores dos Mambas. Há perspectivas de se substituir ainda este ano, mas tal somente será possível depois dos compromissos dos Mambas, que vão disputar jogos da fase de qualificação ao Mundial.

A cedência do campo para os jogos recreativos tem sido alvo de muitas críticas, até porque tal pode contribuir para o desgaste da relva.

Entretanto, já foram instalados 24 dos 49 torniquetes encomendados pelos gestores para um melhor controlo das entradas dos espectadores. O sistema de iluminação foi melhorado, sendo que a capacidade, agora, é de 1.200 LX. Foi, também, instalado um sistema alternativo de fornecimento da corrente eléctrica ao ENZ.

 

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