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Entrar à “borliu” é que dá prestígio?

Merece felicitações a atitude da Governadora da Cidade de Maputo, Iolanda Cintura, que fez questão de ao ir ao futebol, pagando o seu bilhete. Já antes havia sido referenciada uma atitude idêntica por parte de dois homens que muito serviço prestaram ao nosso futebol: Martinho de Almeida e Tico-Tico.

Este assunto, é bem mais profundo do que à primeira vista parece. Se houvesse um levantamento do núcleo de pessoas que fazem questão de entrar – sobretudo para os camarotes – sem pagar o seu bilhete, em regra acompanhados da família, chegaríamos a números assustadores. E, como se isso não bastasse, no final dos jogos internacionais no Zimpeto, há lanche a rodos “mahala”, para se trocarem abraços ou consolarem-se as mágoas.

A realidade

Seja ele Ministro, Director Nacional, PCA, ou chefe “de qualquer coisa”, a entrada VIP está garantida. Atrás de si, filhos, sobrinhos e/ou vizinhos. Seguem-se guarda-costas ou ajudantes de campo, muitas vezes de circunstância, ocupando por vezes os lugares da Imprensa e da rádio.

A cara de poucos amigos com que algumas dessas “estruturas” se apresentam, funciona logo à distância como um alerta para os porteiros, para quem seria considerada provocação a mera exigência de qualquer tipo de identificação.

Em dia de jogo-grande, são emitidas senhas/credenciais, mas a maioria nem sequer se dá ao trabalho de as ir buscar. A solução na hora, seria comprar um bilhete, como os demais adeptos. Porém, estranhamente, esse acto tornou-se humilhante para um chefe, pois reduz o seu estatuto.

“Desmame”, para quando?

Não creio que tenhamos no país um clube no Moçambola, em que a contribuição total dos sócios, chegue para pagar os salários de três futebolistas. Nas partidas mais importantes, dificilmente as receitas cobrem as despesas.

Quais são, então, as bases de sustentação do futebol nacional? As empresas públicas e o que sobrou de carolice. Os jogadores, que deveriam ser os principais activos, pouco contam.

Daí que se deveria lançar uma campanha para alterar o hábito do “borliu” que se instalou e que pouco tem a ver com a crise financeira que vivemos. Sabemos que muitos dos que nunca se dignaram pagar o seu ingresso no país, se acotovelam para conseguirem chegar a um bilhete, nas deslocações à terra de Camões, para assistirem a um derby lisboeta, por exemplo!
Como começar, então, a alterar esta aberração?

Gostaria de sugerir ao nosso Chefe de Estado, o Presidente Nyusi, que num dia em que se desloque ao futebol, compre o seu bilhete, como forma de demonstrar que esse acto só prestigia. Sabendo que estamos numa terra de seguidismos, em que todos gostam de copiar o chefe, o efeito moralizador ajudaria no caminho da auto-suficiência do futebol.

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