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EDM paga USD 104 milhões à HCB e reduz sua dívida para 14 milhões

Para liquidar a dívida que se arrasta há muito tempo, a EDM encontrou duas formas: uma é a redução das perdas significativas registadas pela empresa e outra consiste em encontrar um balanço entre a energia que a EDM compra dos seus fornecedores, nomeadamente, Gigawatt, Kuvaninga, CTRG e Cahora Bassa, para que tenha um custo sustentável para a empresa.

“Se conseguirmos essas duas equações, teremos, certamente, recursos suficientes para, no espaço deste ano, resolver os 14 milhões”, disse Mateus Magala, PCA da EDM, à nossa equipa de reportagem.

Mas a EDM não tem apenas dívidas. Segundo o PCA da empresa, alguns clientes devem-lhe cerca de três mil milhões de meticais, equivalentes a 50 milhões de dólares. Fazem parte da lista dos devedores da EDM: instituições públicas e privadas, os institutos de comunicações, rádios e companhias de água.

Uma outra forma encontrada pela EDM para reforçar a sua capacidade financeira é a cobrança de dívidas a seus clientes. A empresa lançou, há pouco tempo, uma campanha de cobranças e já começou a negociar com os devedores os planos de pagamento de cada uma das dívidas.

Para os clientes que aceitam pagar as dívidas seguindo o referido plano, o Presidente da EDM explica que continuarão a consumir a energia, já os que não aceitam pagar suas dívidas, Magala alerta que poderão ficar sem a corrente eléctrica porque “a energia não é gratuita e tem um custo de aquisição”.

Depois do aviso sobre a campanha de cobrança das dívidas, muitos devedores começaram a pagar. “Mesmo a Saúde já começou a reagir positivamente a este chamamento e já fez pagamentos que são muito encorajadores”, disse Mateus Magala.

Não são só as dívidas que preocupam a direcção da EDM: avanço de projectos associado a financiamentos que tornaram-se difíceis também. Por exemplo, alguns projectos cruciais da empresa estão atrasados ou paralisados por dificuldade de acesso ao crédito, porque há três anos que o Governo moçambicano enfrenta dificuldades de acesso por causa da dívida do país que é insustentável, isto é, se a EDM quiser financiar-se agora, teria de buscar financiamentos muito caros.

“Nós, ao aceitarmos esses financiamentos muito caros, estaríamos a hipotecar a vida dos nossos filhos e nossos netos. Por isso, acabamos por não requerer a esses financiamentos e certamente limitamos a possibilidade de fornecer energia de qualidade aos moçambicanos”, considera Mateus Magala.

Embora o país tenha uma empresa produtora de grandes quantidades de energia, a HCB, o nível de acesso à energia eléctrica, tem um dos mais baixos níveis de acesso de África e do Mundo. “Com cerca de 28 milhões de habitantes, estamos com um nível de acesso de 28%”, sublinha o Presidente da EDM. Porém, a meta da EDM é garantir energia para todos os moçambicanos até 2030.

Para alcançar electrificar todo o país, a EDM teria de fazer pelo menos 450 mil ligações por ano, o que custaria meio bilião de dólares por ano nos próximos 12 anos. Só para os próximos anos serão necessários seis biliões de dólares em investimentos, diga-se, é um objectivo ambicioso.

“Contando com outra infra-estrutura como de geração e transmissão, esse número, certamente pode chegar aos 10 a 12 biliões de dólares nos próximos 12 anos. Aí podíamos dizer que temos infra-estrutura necessária, tanto de geração como de distribuição à cada casa”, refere Mateus Magala.

Apesar das adversidades enfrentadas pelo país, entre elas a dívida insustentável, o PCA da EDM revelou ao O País Económico que, nos últimos três anos, conseguiu mobilizar cerca de 1.3 biliões de dólares em financiamentos, sendo metade constituído por donativos e outra parte multi-concessional.

O valor já existente não satisfaz, mas ajuda a responder as necessidades básicas de energia eléctrica. Há uma componente de investimento em infra-estrutura de geração e transmissão que não está a ser coberta pelo montante, que só podia ser coberta pelos empréstimos, que neste momento, são difíceis.

Entretanto, neste momento, a EDM está a começar a produzir a central solar de Mocuba, na Zambézia, com capacidade de 41 megawatts de energia. Seu financiamento é, segundo Magala, baseado numa inovação financeira em que a empresa não usa as garantias do Estado como tem acontecido normalmente, mas a parceria público-privada que ajudam a minimizar os custos.

“Temos nesse processo a Noruega, através do seu fundo, a contribuir concessionalmente, na verdade, em termos de donativo, nós também contribuímos com algum valor e temos o sector privado que também contribui com o risco coberto pelas instituições internacionais como o caso de IFC do Banco Mundial, que vem para dar essa garantia. Conseguimos uma inovação para continuarmos a obter financiamento”, explica o Presidente do Conselho de Administração da EDM.

Central eléctrica de emergência de Nacala ainda sem financiamento

A Electricidade de Moçambique (EDM) planeava construir uma central de geração de energia eléctrica de emergência com capacidade para produção de 80 megawatts para responder a procura cada vez mais crescente em Nacala e aliviar a pressão na região norte do país criada com o surgimento de novos empreendimentos, mas tal ainda não aconteceu por falta de financiamento.

O Presidente do Conselho de Administração da Electricidade de Moçambique explica que o projecto devia ser financiado pelo governo japonês, através de um empréstimo, mas isso não aconteceu por causa da situação de endividamento do Estado moçambicano que ultrapassou limites recomendáveis.

O projecto é orçado em 80 milhões de dólares, que seriam financiados pelo Japão em forma de crédito concecional – ou seja muito mais barato, que só pode ser em forma de crédito. Como solução, a EDM pretende convencer o governo japonês a reduzir o valor para o nível aceitável de donativo, que é 20 milhões de dólares, o máximo aceitável, de modo a avançar com o projecto em novos mordes.

“Como é sabido, a região norte do país tem grandes problemas de geração e de infra-estruturas. É um projecto de emergência porque numa determinada altura ficamos sem energia no norte e é por isso que tivemos que por a central flutuante, que não é uma solução de longo termo para nós, é transitória”, considera Magala.

A central de emergência seria detida a 10 por cento pela EDM, enquanto na actual central flutuante, a EDM está numa parceria onde tem de alugar equipamento por período determinado, que depois terá de devolver o equipamento e ficar sem capacidade de geração.

Estratégia de electrificação e plano director publicados em breve

Porque as necessidades de energia são enormes, a Electricidade de Moçambique está a produzir uma estratégia de electrificação e um plano directo que brevemente serão publicados. Nos últimos três anos, explica o PCA da EDM, Mateus Magala, a empresa tem vindo a implementar reformas com vista a promover a mudança de atitude e de mentalidade de todos os trabalhadores na instituição.

“Mudança da forma como prestamos serviços, o melhoramento do nosso desempenho, o profissionalismo e também a contribuição para o desenvolvimento do sector dentro da região austral e como um factor de inclusão e de coesão social“, disse.

Mateus Magala acredita que tem recursos humanos que podem crescer e podem desempenhar um papel importante na transformação da economia de Moçambique.

“Muitas vezes não conseguimos realizar o nosso potencial por causa da atitude. A nossa atitude limita-nos a ter maiores ambições”, diz Magala.

 

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