O País – A verdade como notícia

Depois de se ter situado em 5,30% em Dezembro último, o gráfico da subida generalizada de preços de bens e serviços caiu para 4,19% em Janeiro. Ou seja, os preços subiram menos no primeiro mês de 2024, quando comparado a igual período do ano passado.

De acordo com a nota de imprensa divulgada esta semana pelo Instituto Nacional de Estatísticas, a redução da inflação anual é explicada, fundamentalmente, pelo comportamento favorável dos preços dos serviços de Educação e de Saúde, comparativamente a igual período do ano anterior.

Os dados indicam que as divisões de educação e de alimentação e bebidas não alcoólicas, foram as que tiveram maior subida de preços ao variarem com 13,85%, 7,05%, respectivamente.

A subida do nível geral de preços foi registada em todos os centros de recolha, com maior destaque para a cidade de Quelimane (1,73%), seguida das cidades da Beira (1,00%), de Chimoio (0,91%), de Maputo (0,90%), da província de Inhambane (0,80%), das cidades de Nampula (0,78%), de Xai-Xai (0,55%) e de Tete (0,42%).

Comparada ao mês anterior, a variação foi de 0,93%. Nesta comparação, “as divisões de alimentação, bebidas não alcoólicas, restaurantes, hotéis, cafés, e similares foram as de maior destaque, ao contribuírem no total da variação mensal com cerca de 0,65 e 0,17 pontos percentuais (pp) positivos”.

Dos produtos que se tornaram mais caros para os consumidores, o destaque vai para a subida de preços do tomate (17,5%), de refeições completas em restaurantes (3,1%), do peixe seco (7,4%), da couve (10,3%), do açúcar castanho (9,7%), do óleo alimentar (2,5%) e da alface (17,3%).

“No entanto, alguns produtos, com destaque para o carapau (1,8%), a galinha viva (2,1%), o limão (22,0%), o peixe fresco (0,9%), as calças para homens (1,8%), os serviços de cabeleireiro para senhoras (2,1%) e os medicamentos relacionados com a nutrição (5,5%), contrariaram a tendência de subida de preços, ao contribuírem com cerca de 0,11 pp negativos no total da variação mensal”, escreve o INE.

De acordo com o regulador, a avaliação dos riscos e incertezas associados às projecções da inflação é mais favorável. Destacam-se como possíveis factores de redução da inflação o esforço da consolidação fiscal, a menor severidade dos eventos climáticos extremos e o impacto menos gravoso dos conflitos geopolíticos sobre a cadeia logística e sobre os preços das mercadorias no mercado internacional.

Recorde-se que, recentemente, o governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, avançou que, para o médio prazo, se consolidam as perspectivas de uma inflação em um dígito, a estabilidade do Metical, a previsão de queda dos preços das mercadorias no mercado internacional.

O país registrou uma taxa de emprego de 71,4% entre a população com 15 anos ou mais. Essa taxa, embora encorajadora, revela disparidades significativas entre os gêneros e entre áreas urbanas e rurais, de acordo com o Banco de Moçambique.

Em relatório da avaliação final da estratégia nacional de inclusão financeira 2016-2022, o Banco de Moçambique levanta desafios significativos e revela disparidades importantes entre áreas urbanas e rurais, bem como entre os gêneros.

De acordo com os dados apresentados, a taxa de emprego entre os homens foi ligeiramente superior, atingindo 73,2%, enquanto entre as mulheres foi registrada uma taxa de 69,8%. Esta discrepância levanta questões importantes sobre equidade de gênero no mercado de trabalho e destaca a necessidade de políticas que promovam a igualdade de oportunidades para todos.

Além disso, a disparidade entre áreas urbanas e rurais é notável. Enquanto cerca de 81,5% dos adultos em áreas urbanas têm emprego, apenas 54,4% dos adultos em áreas rurais estão empregados. E o regulador do sistema financeiro no país afirma que a referida diferença ressalta os desafios enfrentados pelas comunidades rurais em termos de acesso ao emprego e desenvolvimento econômico.

Um aspecto notável é que aproximadamente 75% da população empregada está envolvida nos sectores de agricultura, silvicultura e pesca. Na área rural, essa proporção é ainda maior, representando 89,2% da população empregada, enquanto na área urbana, além desses sectores, o comércio e as finanças também desempenham um papel significativo, absorvendo 37,9% da força de trabalho.

Olhando para o futuro, as perspectivas econômicas de Moçambique são promissoras, segundo o BM, com previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) a indicarem que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) poderá atingir 15% até 2028. Espera-se que a recuperação contínua dos serviços, agricultura e produção de recursos naturais como carvão e areias pesadas, bem como a expansão da produção de gás natural liquefeito, impulsionem esse crescimento.

No entanto, é crucial abordar os desafios que podem prejudicar esse crescimento, como choques climáticos, preocupações com segurança, flutuações nos preços das commodities de exportação e pressões inflacionárias derivadas do aumento dos preços dos alimentos e combustíveis.

“É fundamental ter em conta os riscos como os choques climáticos, as preocupações com a segurança, a queda dos preços das commodities de exportação e as pressões inflacionárias decorrentes do aumento dos preços dos bens alimentares e dos combustíveis, que podem prejudicar o crescimento do PIB no médio prazo”, avança o Banco Central.

Segundo o BM, o governo de Moçambique tem desempenhado, no sector financeiro, um papel activo na promoção da inclusão financeira. Estratégias como a Estratégia de Bancarização da Economia e a Estratégia de Finanças Rurais têm como objectivo expandir o acesso a serviços financeiros em áreas urbanas e rurais, incentivando o desenvolvimento econômico inclusivo.

“A jornada de inclusão financeira em Moçambique teve uma evolução crescente na medida em que o Governo, reguladores e instituições do sector público e privado implementaram diversas políticas e iniciativas, que garantem serviços financeiros acessíveis para todos os segmentos da sociedade, promovendo a estabilidade económica e o crescimento inclusivo”, refere o BM.

Além disso, de acordo com o Banco Central, a aprovação da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira 2016-2022 evidencia o compromisso do governo em criar um sistema financeiro acessível e abrangente, capaz de apoiar o crescimento econômico e melhorar o bem-estar da população. Esta estratégia baseia-se em três pilares e nove objetivos estratégicos, delineando um plano abrangente para promover a inclusão financeira em todo o país.

“Foram criados três grupos de trabalho (GT) para implementar as acções definidas em cada pilar. No entanto, a avaliação de médio prazo constatou que os GT tinham mandatos muito amplos e não tinham sido tão direccionados e eficazes como desejado. Foi recomendada a criação de sete SGT para a realização de actividades específicas e focalizadas. Estes SGT estiveram operacionais durante a segunda metade do período de implementação da estratégia”, explica o Banco de Moçambique.

Para avaliar a eficácia dessas estratégias, foram utilizadas metodologias abrangentes que incluíram consultas às partes interessadas, análise documental e de indicadores, bem como pesquisa. Essas avaliações ajudaram a identificar os sucessos alcançados, bem como os desafios remanescentes, orientando assim o desenvolvimento de políticas futuras e iniciativas para promover ainda mais a inclusão financeira em Moçambique.

O primeiro-ministro, Adriano Maleiane, diz que, se ficar provado que houve desvio de dinheiro nas Linhas Aéreas de Moçambique, conforme denunciou a Fly Modern Ark,  haverá responsabilização dos gestores da empresa através de entidades competentes.

O primeiro-ministro, Adriano Maleiane, disse que a denúncia da Fly Modern Ark, empresa sul-africana que gere a LAM, de suposto desvio de dinheiro na companhia aérea, já chegou ao Governo. Segundo o governante, se ficar provado que foram violadas as regras de gestão, há espaço para responsabilização dos implicados.

“Se a regra de gestão foi violada, isto tem de ser corrigido, e há instrumentos legais, financeiros, para a resolução do problema. Todos os problemas na gestão vão surgindo, infelizmente, o importante é termos solução, para não termos problemas que temos e, se de facto existir alguma má intenção nesse processo, então temos as instituições que tratam desse problema. Portanto, temos de ajudar a empresa e os gestores a encontrarem o caminho correcto.”

Adriano Maleiane diz ainda  que o Governo está a esforçar-se em tornar a LAM numa empresa modelo.

“Temos de compreender que a LAM é uma empresa que pode ter momentos bons e momentos maus, e o importante é identificar o problema e resolvê-lo, porque é assim que tem de ser, sobretudo quando se trata de uma empresa pública, tem de ser o modelo, e é esse esforço que o Governo está a fazer – encontrar uma saída para a empresa voltar a ser como foi no passado.”

Maleiane falava este domingo, depois de participar na missa de apresentação do novo bispo auxiliar da Arquidiocese de Maputo.

O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um ligeiro abrandamento em relação ao último trimestre do ano 2023. O desempenho da economia no IV trimestre foi de 5,36%, e a queda é explicada pelo crescimento menos acentuado da indústria extractiva e desempenho negativo da indústria transformadora.

Dados do relatório de Contas Nacionais, do Instituto Nacional de Estatísticas, referente ao IV trimestre de 2023, divulgado esta semana, indicam uma desaceleração no crescimento da economia, no IV trimestre, comparativamente ao III trimestre.

A desaceleração da actividade económica é explicada, essencialmente, pelo crescimento menos acentuado da indústria extractiva, relativamente ao trimestre anterior, e pelo desempenho negativo da indústria transformadora.

O desempenho da actividade económica de 5,36% é atribuído, em primeiro lugar, ao sector primário, que cresceu 11,25%, com maior destaque para o ramo da indústria de extracção mineira, com uma variação de 25,91%, seguido pelo ramo da pesca com variação de 20,99%, mas também pelo subsector da agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal, que teve uma variação de 4,71%.

Segundo o INE, o sector terciário ocupa a segunda posição, com variação de 3,57%, com destaque para o ramo de transportes, armazenagem e actividades auxiliares dos transportes e informação e comunicações, com variação de 4,89%, seguido pelo ramo dos serviços financeiros, com variação de 4,19%. “O ramo de hotelaria e restauração com variação de 11,77%, e, por último, o ramo de comércio e serviços de reparação teve uma variação de 2,10%”, sustenta o documento.

Já o sector secundário registou uma variação de 0,30%, induzido pelo ramo da construção, com variação de 5,31%, seguido pelo ramo da electricidade, gás e distribuição de água, com variação de 3,16%, e, por fim, temos o ramo da indústria manufactureira com variação negativa de menos 1,76%.

“Agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal e actividades relacionadas tiveram uma maior participação na economia com peso conjunto no PIB de 19,08%”

Já no que toca à sua contribuição no PIB, o documento em alusão aponta que os ramos da agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal e actividades relacionadas tiveram uma maior participação na economia, com peso conjunto no pib de 19,08%, seguido pelo ramo de transportes, armazenagem e actividades auxiliares dos transportes e informação e comunicações, com peso de 11,83%.

Na terceira posição, está o ramo de comércio e serviços de reparação, com peso de 10,28%, e em quarto, o de indústria de extração mineira, com peso de 9,07%.

A finalizar, os ramos de indústria transformadora, administração pública, educação, aluguer de imóveis e serviços prestados às empresas, electricidade e água, hotéis e restaurantes, pesca e aquacultura, com pesos de 7,74%, 5,85%, 5,52%, 4,91%, 2,65%, 1,83% e 1,72%, respectivamente. Os restantes ramos de actividade tiveram em conjunto um peso de 19,52%.

No geral, denota-se que o gráfico do PIB, revela um desempenho positivo do primeiro até ao terceiro trimestre para uma posterior queda ligeira no último trimestre. No primeiro trimestre, o  desempenho da economia foi de 4,17%, no segundo trimestre, de 4,67%, no terceiro trimestre atingiu 5,92%, e no último caiu para 5,36%.

Analisando os dados, o economista Arsénio Zunguze entende que o sector primário, da indústria extractiva, apontado como causa da queda, pode ter algum impacto, mas julga que não é essa a principal causa da desaceleração no quarto trimestre.

“Seria interessante olhar para a tendência do incoming que tivemos com a exportação da indústria do petróleo e gás. Nós tivemos as primeiras exportações no segundo semestre do ano passado e, a partir daí, começámos a registar um crescimento. Se fizermos uma análise global, veremos que este não foi o principal causador desta redução.

Zunguze entende que o sector do comércio foi dos mais afectados, devido a alguma timidez no consumo, relacionada a incertezas quanto ao futuro, devido aos atrasos de pagamentos de salários na função pública e incertezas em relação ao pagamento do décimo terceiro salário pelo Estado.

“A procura não foi suficiente para estimular a produção, e isto tem impacto na produção global”, explicou.
“Não podemos sair da crise numa dinâmica em que não resulte de reformas próprias do Governo para tornar resiliente a nossa economia a factores externos.”

Aliado à conjuntura económica, o país registou, no ano passado, um crescimento económico de cinco por cento, contra 4,4 por cento de 2022.
Sobre este sinal de recuperação, uma das grandes dúvidas é se Moçambique estará efectivamente livre das crises geradas por pressões externas, como os factores derivados da COVID-19, oscilação nos combustíveis e preços de cereais?

Arsénio Zunguze entende que há sinais de que as crises estão a ficar para a história, mas invoca uma questão: “Estamos a sair bem ou mal?”
“Não podemos sair da crise numa dinâmica em que não resulte de reformas próprias do governo para tornar resiliente a nossa economia a factores externos”, explicou.

Por julgar que não houve criatividade interna, para encontrar formas de sair dessa crise, o economista recomenda que o Governo crie essa capacidade de se defender desses choques para não perder as conquistas da economia e criar relações mais sustentáveis com pressões inflacionárias.

Uma das medidas concretas que o economista propõe, por exemplo, quanto à crise dos cereais, é que o país crie alternativas de prover esses bens internamente com um aproveitamento do potencial agroecológico, até porque “há uma potencial cadeia de valor” nesse sentido.

“O que estamos a fazer? No passado, o presidente Guebuza propôs a produção de pão com recurso à farinha de mandioca. É de iniciativas como que o país precisa, um exercício criativo. É preciso haver um compromisso, e não se verificou”, argumentou.

Fora a indústria extractiva, outro subsector apontado como causa da queda do desempenho da economia do IV trimestre é a indústria transformadora, cujo crescimento foi de 7,74%. Zunguze, esclarece que a indústria nacional tem grandes défices de tecnologia e financiamento para que tenha maior escala de produção, e seus níveis de rendimento passam cada vez mais se consolidar no mercado.

“Boa parte dos actores da indústria transformadora sofre com os mesmos problemas. Boa parte da matéria prima tem de ser importada. Quando há alteração de preços no mercado externo, ela sofre, quando há oscilação cambial ela sofre. Moçambique tem de sair do discurso político para acções concretas, para que ela (a indústria) tenha um papel na transformação do país, e para que tenhamos um consumo significativo longe das pressões inflacionarias”, disse a finalizar.

O Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) aprovou investimento de até 10 milhões de dólares na Aliança para Infra-estruturas Verdes em África-Desenvolvimento de Projectos (AGIA-PD), uma iniciativa de 10 bilhões de dólares.

O Conselho de Administração do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), em Abidjan em 24 de Janeiro de 2024, avançou com a proposta de financiamento ao fundo que visa acelerar a transição verde do continente, a Aliança para Infra-estruturas Verdes em África-Desenvolvimento de Projetos (AGIA-PD).

A AGIA-PD tem como objectivo preparar e desenvolver projectos de infra-estruturas verdes resilientes em parceria com países africanos e o sector privado, tanto local quanto internacionalmente. Estruturada em três pilares, a AGIA inclui a preparação de projectos, o desenvolvimento dos mesmos e investimento ou financiamento.

O fundo AGIA-PD, com duração de 15 anos, espera atingir sua capitalização em três anos. A estrutura de capital misto combina doações e acções do tesouro, totalizando 400 milhões de dólares. Na COP 28, em Dubai, foram anunciados compromissos iniciais, incluindo uma contribuição potencial de 40 milhões de dólares do BAD, elevando o total actual para cerca de 215 milhões de dólares.

O AGIA-PD visa investidores diversos, desde bancos multilaterais de desenvolvimento até filantropos. O vice-presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Solomon Quaynor, afirma que o fundo é um investimento estratégico para transformar conceitos em projectos financeiramente viáveis.

“O AGIA-PD é um investimento estratégico, co-gerido pelo Banco, que visa transformar conceitos em projectos de infra-estruturas verdes financiáveis rapidamente e em grande escala. Investirá no desenvolvimento de projectos de infra-estruturas verdes que produzam um rendimento financeiro e tenham um impacto no desenvolvimento. Procurará o apoio do sector privado para desenvolver projectos transformadores, ecológicos e resilientes que preencham a lacuna de infra-estruturas de África a longo prazo”, declarou Solomon Quaynor.

Amadou Hott, enviado especial do Presidente do BAD e embaixador mundial da AGIA, enfatiza a importância de acelerar a implementação de projectos de infra-estrutura verde, alinhados com as prioridades estratégicas do Banco e os objectivos de desenvolvimento sustentável.

“A visão da AGIA é acelerar a implementação de projectos de infra-estruturas verdes transformadoras, criando uma parceria sólida entre os diferentes actores e visando todo o ecossistema de preparação, desenvolvimento e financiamento de projectos de infra-estruturas verdes, trabalhando com actores emergentes e estabelecidos. O objetivo final é acelerar a transição ecológica do continente, reduzindo ao mesmo tempo drasticamente a escassez de infra-estruturas”, explicou Amadou Hott.

Os sectores-alvo e os investimentos em projectos de mitigação das mudanças climáticas estão alinhados com as prioridades estratégicas do BAD e os compromissos nacionais dos países beneficiários, bem como com o Quadro Estratégico do Banco para as Alterações Climáticas e o Crescimento Verde 2021-2030.

O sindicato dos trabalhadores da LAM exige a responsabilização de todos que tenham se envolvido no alegado desvio de fundos na companhia aérea. Outrossim, lamenta por não ter sido informado ainda sobre o problema.

Dois dias após a Fly Modern Ark, entidade responsável pela salvação da LAM, ter denunciado um alegado rombo de cerca de três milhões de dólares na companhia aérea, o sindicato dos trabalhadores lamenta em carta por ter ouvido o assunto apenas pela imprensa.

“O sindicato é o órgão que por direito deve ser informado em primeira instância de todas as matérias ligadas ao trabalhador, e neste assunto não teve esta informação, nem da parte da Fly Modern Ark – FMA, nem da direcção geral”, lê-se na carta.

Mesmo assim, o órgão que tem por missão defender os interesses dos trabalhadores da LAM entende que havendo prevaricadores na empresa, estes devem ser punidos exemplarmente.

“O sindicato não é a favor e nem apadrinha os trabalhadores, gestores de base ao topo que dilapidam e se apropriam de forma indevida do património da LAM e encoraja a responsabilização exemplar de qualquer que seja o prevaricador pelos competentes órgãos internos e externos”, disse o sindicato.

E porque não foram apenas denunciados de desvios de fundos, o sindicato falou também da alegada sabotagem da gestão da Fly. No seu entender, a ser verdade, devem ser tomadas medidas com base na lei e nos regulamentos internos.

“O sindicato demarca-se dessas acusações, pois é do seu entendimento de que havendo provas materiais de um ou grupo de trabalhadores presumíveis sabotadores, estes devem ser identificados, investigados e responsabilizados de acordo com a Lei do Trabalho e regulamento interno da empresa” , refere a carta .

Contudo, o órgão sindical sublinha que não concorda que problemas da LAM sejam tratados, recorrentemente, na imprensa e mostra-se aberto a ajudar nas soluções. Por outro lado, entende que o nome dos trabalhadores ficou beliscado e descredibilizado na sociedade.

A Direcção da empresa Linhas Aéreas de Moçambique escreveu uma carta ao ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, distanciando-se dos pronunciamentos da Fly Modern Ark, no dia 12 de Fevereiro corrente, nos quais alguns gestores da LAM são acusados de roubar dinheiro e de sabotagem. A companhia esclarece que a Fly Modern Ark é responsável por todos os pagamentos efectuados na LAM.

A troca de palavras na sequência do atraso de voos da LAM, registado no último domingo, parece estar longe de cessar.

Depois de a Petromoc responder à Fly Modern Ark, desmentido que o atraso de voos fora originado pela falta de combustível nos reservatórios da própria Petromoc enquanto fornecedora, esta quarta-feira foi a vez de a Direcção-Geral da LAM manifestar desagrado com o teor da conferência de imprensa da última segunda-feira.

A LAM diz, através desta carta endereçada ao ministro dos Transportes e Comunicações, que foi apanhada de surpresa ao ouvir, através da comunicação social, as declarações da Fly Modern Ark.

“A Direcção da LAM – Linhas Aéreas de Moçambique SA, reunida em colectivo de emergência, distancia-se dos pronunciamentos feitos pela FMA, na conferência de imprensa decorrida no dia 12 de Fevereiro, na sala de reuniões do Conselho de Administração da LAM”, esclarece João Carlos Pó Jorge, e reitera que “esta informação não foi previamente partilhada com a Direcção-Geral da LAM, tendo sido esta colhida de surpresa quando a informação foi veiculada pelos órgãos de informação”.

No documento a que o “O País” teve acesso, assinado pelo próprio director-geral da empresa, João Carlos Pó Jorge, a companhia receia que os pronunciamentos da Fly Modern Ark gerem impacto negativo.

“Preocupa-nos o impacto desses pronunciamentos na reputação da empresa (LAM), dos trabalhadores e das auditorias de certificação e dos grandes clientes a realizarem-se ainda este ano”, afirma o director-geral da companhia de bandeira, na carta a Mateus Magala.

Relativamente ao alegado desvio de fundos recorrendo-se a esquemas como a instalação de POS alheios à LAM, João Carlos Pó Jorge rebate:

“Informamos, igualmente, que a gestão de caixa (tesouraria) da LAM está sob responsabilidade exclusiva da Fly Modern Ark, que se responsabiliza por todos os pagamentos que são efectuados na LAM”.

A insuficiência de recursos financeiros e materiais está a comprometer o trabalho de licenciamento de artes pesqueiras em Niassa. Por isso, o sector das pescas em Niassa tem falhado sistematicamente o alcance da meta de licenciamento das artes pesqueiras e a monitorização desta actividade.

Só para citar, no ano passado, a direcção provincial de administração nacional de pescas em Niassa conseguiu licenciar mais de 1750 artes de pesca, de um plano de duas mil e quatrocentas, nos distritos do Lago, Mandimba, Lichinga e Mecanhelas.

Estes números não deixam satisfeitos os gestores deste sector em Niassa. O delegado da Administração Nacional de Pescas em Niassa, Carlitos Mabote, disse que esta situação está a contribuir para a fuga ao fisco e consequente recrudescimento do uso de artes nocivas à pesca.

Carlitos Mabote pede a colaboração dos governos distritais, na monitorização da actividade piscatória nos pontos onde estes não conseguem deslocar-se, devido à falta de recursos materiais.

Refira-se que dos mais de 12 mil pescadores existentes na província, apenas 1755 artes de pesca foram licenciadas.

A Fly Modern Ark diz que o abastecimento dos aviões das Linhas Aéreas Moçambique não aconteceu porque as gasolineiras não tinham combustível, não por causa da dívida de 600 milhões de Meticais. Uma vez mais, a consultora acusa alguns gestores de roubarem dinheiro e queixa-se de estar a ser sabotada por colegas da anterior gestão da LAM.

São factos e a companhia não nega: a LAM deve à Petromoc e os atrasos de voos, de facto, foram por falta de combustível. Mas a Fly Modern Ark diz que não se deve estabelecer nenhuma relação nem correlação entre os factos.

A razão é que, segundo Sérgio Matos, falando numa conferência de imprensa,  “não foi por falta de pagamento da LAM”, foi, entretanto, porque a gasolineira que devia fazer o abastecimento naquele dia tinha “falta de combustível”.

Sobre a dívida com a Petromoc, “é verdade que a LAM tem uma dívida com a Petromoc na ordem de 70 milhões de dólares”. Os 70 milhões de dólares equivalem a cerca de 4.4 mil milhões de meticais, o que seria sete vezes mais. Essa dívida está registada, mas Matos destacou que “é só com a LAM e não com nenhuma outra gasolineira”. 

Outro facto inegável é que cerca de 1000 passageiros foram afectados. E isso seria notícia em qualquer parte do mundo. Só que, para a Fly Modern Ark, os jornalistas não fizeram a matéria só por ser noticiosamente relevante, mas porque alguém de dentro decidiu chamar a imprensa para fazer caso do que já é frequente na companhia. Qual seria, então, a razão que levaria a que tal acontecesse? Essa pergunta Matos fez a si mesmo e deu a resposta.

“É porque iniciámos, há semanas, algumas operações por conta de desvios de dinheiro que não está a entrar nas contas. Iniciámos uma operação para saber onde está o dinheiro; está-se a vender, mas a empresa não está a ter todo o dinheiro e, nos últimos três meses, das avaliações que estávamos a fazer, existe um défice de dois a três milhões de dólares. Só em Dezembro, o prejuízo foi de 3,2 milhões de dólares”, revelou. 

E isso levou a que a Fly Modern Ark começasse esse trabalho de rastreio à rota do dinheiro desviado. O que foi feito foi recolher mais de 80 máquinas de POS em 20 pontos de venda. O que se descobriu é que, “mesmo os chefes das lojas não sabiam quem eram os proprietários das máquinas”, tendo ficado claro que o valor não estava a ser canalizado para as contas da LAM.

Isto é só aqui em Moçambique. A Fly Modern Ark desconfia que lá fora haja mais e já há evidências disso. Em Malawi, por exemplo, “existe uma conta com 1,2 milhões de dólares que ninguém sabe como movimentar”. As acusações não terminam por aí. Sérgio Matos diz que “há funcionários que utilizam o dinheiro da LAM para construir casas próprias”.

Sobre a sabotagem, a Fly Modern Ark diz que já esperava que tal acontecesse, mas “não na magnitude que estamos a encontrar na companhia”, diz.

A Fly Modern Ark está na LAM, contratada pelo Governo, para ajudar a tirar a companhia do vermelho. O contrato vai até Abril.

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