O País – A verdade como notícia

Os dados preliminares da Balança de Pagamentos mostram que de Janeiro a Setembro de 2023, as transacções entre Moçambique e o resto do mundo resultaram num défice de 1,144 milhões de dólares, contra 5,778 milhões do período homólogo de 2022.

“A melhoria do défice da conta corrente resulta, essencialmente, da redução significativa (USD 4,281 milhões) do valor das importações de bens por parte dos grandes projectos, reflectindo o efeito base associado ao registo do valor da importação da plataforma flutuante da Coral Sul (USD 4,200 milhões), no I trimestre de 2022”, lê-se no balanço do Plano Económico e Social e Orçamento de Estado de 2023.

No período em referência, o valor das exportações de bens situou-se em 5,936 milhões de dólares, dos quais USD 4,484 milhões, dos grandes projectos. O sector que mais contribuiu no total das exportações foi o extractivo, com destaque para o gás.

O projecto de destaque na indústria de gás natural está instalado na Bacia do Rovuma e é operado por um consórcio liderado pela petrolífera italiana Eni, que já está a exportar gás natural desde finais do ano de 2022.

De acordo com o balanço do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) do ano de 2023, as exportações no III Trimestre de 2023, alcançaram 5,935.6 milhões de dólares, contra 6,107.6 milhões no III Trimestre de 2022, correspondendo a um decréscimo de 2.8%.

Por sua vez, as importações no III Trimestre de 2023, por seu turno, atingiram 6,569.9 milhões de dólares, contra 10,885.3 milhões alcançados no III Trimestre de 2022, representando um decréscimo de 39.6%.

Manter empregos ou aumentar salários? Os trabalhadores e os “patrões” procuram responder a essa questão através de um equilíbrio que nega a acontecer.

Mais uma vez, representantes dos trabalhadores e “patrões” já debatem qual deve ser a nova tabela de salários mínimos a aplicar no país. De princípio, a resposta será conhecida nas próximas semanas quando forem anunciados os novos salários mínimos por sectores.

É um debate que tem como mediador o Governo moçambicano. Para já, uma posição existe, da OTM-Central Sindical que disse ao O País Económico que não vai aceitar aumentos irrisórios este ano, tudo por causa do custo de vida que continua alto.

O debate dos novos salários mínimos em curso, cujo desfecho é quase sempre marcado pelo descontentamento dos trabalhadores, deverá culminar com a aprovação de uma nova tabela para o sector privado que poderá vigorar a partir de Maio próximo.

Este ano, o cenário das negociações não foge ao do ano passado. Há uma posição rígida por parte do sector privado que pede que seja relevado o facto de as empresas estarem ainda em recuperação de crises provenientes de aspectos conjunturais dos últimos anos.
Falando ontem ao O País Económico sobre o curso das negociações, o secretário-geral da OTM-Central Sindical, Alexandre Munguambe, disse que o argumento dos “patrões” não é novo e que a situação conjuntural em alusão não pode impedir aumentos necessários nos salários mínimos até porque o custo de vida não para de subir.

“Sempre dizem isso. Todos os anos ameaçam cortar os postos de trabalho, mas o custo de vida está muito alto. Deve-se ter em conta a inflação que se verificou no ano passado. Há que ver que com ou sem aumento, há cortes de postos de trabalho”, referiu Munguambe.

Os aumentos aprovados no ano passado variaram de 200 a 1500 meticais, sendo ainda um dos mais baixos o do sector da Agricultura que passou para 5800 meticais, o que a se repetir este ano, segundo Munguambe, muito abaixo da cesta básica e a OTM vai rejeitar.

“Quem está a negociar os salários são os sindicatos nacionais dos diversos ramos de actividade. Estes sindicatos estão a se posicionar, mas mesmo os empregadores sabem que esses valores não nos ajudam em nada. Eles vivem aqui e conhecem o custo de vida. Se avançarem com esses níveis só pode ser por má fé.”, disse Alexandre Munguambe.

O secretário-geral da OTM alerta que a aprovação de quantitativos abaixo dos tetos desejados e a quem da cesta básica não prejudica só os trabalhadores, mas também a produtividade das empresas que poderá não atingir o seu máxiomo, pela insatisfação.

O facto é que a posição do sector privado é pelo pragmatismo na hora de interpretação dos dados macroeconómicos apresentados pelo Governo e a actual situação das empresas. E apesar de reconhecer que o Governo aponta para uma melhoria da taxa de crescimento económico e uma relativa estabilidade de preços em 2023, o Presidente da CTA, que falava na abertura das negociações, há dias, disse que há necessidade de haver cautela.

O presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, Agostinho Vuma, apontava para um fraco desempenho dos sectores tradicionais, como a indústria transformadora e o sector de construção, a apresentarem taxas de crescimento negativas.

“A melhoria global verificada no período em análise é sustentada pelo sector extractivo, com uma contribuição nas contas nacionais de aproximadamente, 36″”, esclareceu Vuma.

Chamado para analisar as posições das partes, no Programa O País Económico da STV Notícias, o economista Elcidio Bachita considerou razoável a posição do sector privado, por considerar que o contexto continua desafiador para as empresas.

Bachita explica que para fazer o reajuste do salário é preciso fazer o acompanhamento da economia e uma previsão do que poderá acontecer nos próximos tempos. “Sabemos que a economia foi dilaserada pelos conflitos geopolíticos, calamidades naturais que destruiram infra-estruturas socioeconómicas e o terrorismo. Estes factores combinados acabam por afectar sobremaneira o desempenho da economia”, explicou.

Mas, nestes tempos, a economia tem vindo a registar um crescimento típico de recuperação. Será este o sinal necessário para um ajuste favorável aos trabalhadores? Elcidio Bachita diz que é preciso olhar para os setores que têm peso nessa recuperação, porque pode estar a ser influenciada pela indústria extractiva, com exploração em alta do gás natural, pelo que julga que a recuperação de outros sectores é gradual.

Aliás, Bachita cita a demora no reembolso do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) e as altas taxas de juro no serviço de crédito na banca comercial como factores que ainda minam a reanimação das empresas. “As duas reduções da taxa MIMO não têm um efeito imediato na economia, ou no custo de crédito, até porque não são superiores a 75pp”.

Além das reduções da Taxa de Juro de Política Monetária para 15.75%, está em curso a implementação do pacote de medidas de aceleração económica, duas medidas tidas como cruciais para a revitalização da economia que para o economista não são suficientes.

“O que determina o desenvolvimento da economia ou da capacidade do sector privado é a acessibilidade ao crédito e isto ainda é um Calcanhar de Aquiles… só se aumenta salário com o aumento da produtividade das empresas”, disse Elcídio Bachita a finalizar.

A necessidade de um equilíbrio entre aumento e a manutenção de postos de trabalho foi também defendida pela ministra do Trabalho e Segurança Social, Margarida Talapa, há semanas, na abertura da Sessão Plenária da Comissão Consultiva do Trabalho (CCT).

“Pretendemos com este processo encontrar um justo equilíbrio entre a necessidade de ajustamento salarial, a manutenção e criação de novos postos de trabalho”, disse Talapa para a seguir apelar ao “não extremar de posições e nem radicalização” nas negociações.

Talapa apelou ainda aos empregadores a promoverem o trabalho digno, o diálogo permanente com os trabalhadores e a negociação. Apelou também ao uso do mecanismo extrajudicial de resolução de conflitos laborais, para um bom ambiente de trabalho.

Os preços dos produtos essenciais poderão subir ao longo dos próximos meses, por conta dos choques climáticos e uma possível subida de combustíveis e serviços de telecomunicações.

A vida poderá estar ligeiramente mais cara nos próximos meses. É o que indica o Relatório de Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação lançado esta semana pelo Banco de Moçambique que prevê uma ligeira subida na inflação nos próximos meses, isto é, haverá agravamento dos preços dos produtos essenciais.

Segundo o banco central, esta previsão decorre do impacto dos efeitos dos choques climáticos e do aumento dos preços dos combustíveis e da tarifa de portagem na África do Sul, um dos principais abastecedores de produtos de primeira necessidade ao país. 

“Constituem ainda factores de riscos às projecções o eventual agravamento da pressão fiscal, a possível maior severidade dos choques climáticos e os eventuais ajustamentos dos preços das telecomunicações e combustívei”, escreve o regulador.

Em Janeiro a inflação esteve situada em 4,2% e 4,0% em Fevereiro. Mas, até Dezembro deste ano, poderá atingir 5,37%.

“As expectativas macroeconômicas dos agentes econômicos apontam para uma aceleração da inflação no curto prazo, acreditando-se que a mesma poderá fixar-se em 5,37% em Dezembro de 2024”, aponta o relatório.

Recorde-se que os dados da última avaliação do índice de preço ao consumidor do Instituto Nacional de Estatísticas, que quando comparados com os de igual período de 2023 apontam que o país registou uma subida do nível geral de preços na ordem de 4,0%, indicam que as divisões de Educação, Alimentação e bebidas não alcoólicas, foram as que tiveram maior subida de preços ao variam com 8,61% e 6,89%, respectivamente.

A cidade de Quelimane, capital provincial da Zambézia, é a que tem registado maiores níveis de subida. “Analisando a variação acumulada, todos os locais registaram uma subida do nível geral de preços. A Cidade de Quelimane registou a maior subida do nível geral de preços com cerca de 3,11%, seguida das Cidades da Beira com 1,82%”

Do lado das alterações mais brandas estão as cidades de Maputo com 0,96% e de Tete com 0,80%.

Já para o médio prazo, isto é, para os próximos três a quatro anos, mantém-se as perspectivas de uma inflação de um dígito, ou seja, abaixo de 10%, refletindo, sobretudo, a estabilidade do metical e o impacto das medidas tomadas pelo banco central nas suas projecções baseados em pressupostos internos e externos.

A nível interno, o regulador destaca a manutenção da elevada pressão sobre o orçamento do Estado; Ocorrência de choques climáticos e Prevalência da instabilidade militar em Cabo Delgado.

“A avaliação dos riscos e incertezas associados às projeções da inflação mantém-se favorável no médio prazo. Destacam-se como possíveis fatores de contenção da inflação o esforço da consolidação fiscal e o impacto menos gravoso dos conflitos geopolíticos, sobre a cadeia logística e sobre os preços das mercadorias no mercado internacional”, escreve o BM.

O Relatório da Conjuntura Económica, perspectiva também que a actividade económica continue a expandir-se em níveis moderados, impulsionada pelo desempenho da indústria extrativa cuja produção aumentou significativamente com a produção de gás natural na plataforma Coral Sul FLNG, na bacia do Rovuma. 

Entretanto, excluindo os projectos de GNL, o relatório prevê que a actividade económica mantenha a trajectória de recuperação, não obstante as incertezas quanto aos impactos dos choques climáticos na produção agrícola e infra-estruturas diversas.

Nesta senda, prevê-se uma ligeira aceleração do crescimento do PIB, excluindo a produção de GNL. “Esta previsão é sustentada pelas perspectivas de melhoria do desempenho da indústria extrativa e do setor terciário, não obstante a ocorrência de eventos extremos… a evolução recente do Índice de Produção Industrial corrobora a melhoria gradual da actividade económica no curto prazo, ao apontar para um aumento da confiança das empresas quanto à actividade futura, em face do incremento do volume de vendas e de novas encomendas.” 

Quanto às reservas Internacionais, mantêm-se níveis confortáveis, tendo até o dia 22 de Março de 2024, registado um saldo acumulado de cerca de USD 3.614 milhões, o suficiente para garantir a cobertura de cerca de cinco (5) meses de importações de bens e serviços, excluindo os grandes projectos.

O banco central avança também que houve redução das taxas de juro de bilhetes do tesouro. “As taxas de juro de BT registaram uma redução entre 69 e 94 pd, passando para 17,62%, 18,96% e 18,30% respectivamente, para as várias maturidades de referência (91, 182 e 364 dias)”, avançou o BM.

Empresários que operam na província de Sofala voltaram a exigir reformas urgentes e harmonização do sistema tributário nacional, através de estudos científicos para se evitarem cargas financeiras sobre as suas actividades e incentivar novos investimentos.
De acordo com Prakash Prehlad, presidente da Federação Moçambicana de Comércio e Serviços (FEMOCOS), é muito urgente uma reforma tributária em Moçambique.

“Vê-se, por exemplo, que, de 2020 para 2024, o PIB vem crescendo, mas não tem a mesma correspondência em relação à tributação. E o que é que falha?”, perguntou Prehlad, para depois responder que “falha aquilo que nós já dissemos várias vezes, que é a necessidade do alargamento da base tributária”.

O representante do sector privado disse ainda: “Hoje, de acordo com dados de uma pesquisa, só 12% dos que estão no mercado formal é que estão inscritos e, com estes, são pagos apenas 60 por cento dos impostos a que estão sujeitos. Isso quer dizer que há uma carga muito pesada para as empresas que pagam e, infelizmente, isso não é bom para atrair mais investimentos nem ajuda a criar mais postos de trabalhos”, lamentou Prehlad.

O presidente da FEMOCOS acrescentou ainda que “realmente, é preciso reformar, mas não por pressão, mas sim com bases em estudos científicos, havendo especialmente por parte do Governo uma indicação dos sectores estratégicos e criarem-se incentivos para que possamos contribuir de forma saudável na economia do país”.

Bersêncio Vilanculos, presidente dos agentes transitários de Sofala, defendeu uma reforma que harmonize as plataformas dos sistemas tributários, que para eles abrirá caminhos para alargar a base tributária e melhorar a  informação dos contribuintes.

“A ausência da harmonização cria suspeitas de uma tributação de má-fé. Existe, por exemplo, uma informação que está na “Janela Única”, mas a mesma não está no sistema fiscal da própria Autoridade Tributária. Impossível compreender”, lamentou Vilanculos.

Para o empresário Luís Bonzula, a harmonização dos sistemas e maior diálogo entre os diferentes sectores irá tornar a actividade tributária mais eficaz.

“Será mais fácil colectar impostos, desde as micro até as mega-empresas, o que, infelizmente, não está a acontecer por razões pouco claras, ficando esta obrigação para apenas um grupo reduzido de contribuintes”, avançou o empresário Luís Bonzula.

Por sua vez, a directora operativa dos impostos internos de Sofala, Yolanda Sabino, que respondia às preocupações do sector privado, reconheceu que os agentes económicos têm razão e que é por isso que, dentro da sua instituição, há trabalhos em curso para harmonizar o sistema e ajusta-lo à realidade actual e regional, na base de tecnologias.

“Reformas tecnológicas num sentido de uma abordagem mais integrada em que existe uma comunicabilidade entre os sistemas que estão a ser operados em vários sectores distintos, mas todos eles com um cunho para poder autorizar algum tipo de licença que, no final, deverá ser tributado”, explicou Yolanda Sabino.

Tarzan Mandudnde, delegado da Autoridade Tributária em Sofala, acrescentou que a instituição de que faz parte está a trabalhar na melhoria dos seus recursos humanos e tecnologia, “e, acima de tudo, termos comportamentos lícitos, combater a corrupção, fuga ao fisco e outros ilícitos fiscais, que enfermam a economia”

O sector privado e a Autoridade Tributária falavam no final de um encontro cujo tema era os benefícios fiscais e criação de uma tributação efectiva.

Reagindo ao anúncio de redução da taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, de 16,50 % para 15,75 %, o economista Pedro Langa diz tratar-se de um sinal animador, mas é ceptico em relação à possibilidade de aumento do consumo de crédito pelas famílias e empresas, considerando que as reservas obrigatórias continuam altas.

O Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, falando no anúncio das decisões do Comité de Política Monetária (CPMO), disse que a redução é sustentada pela consolidação das perspectivas de inflação em um dígito, no médio prazo, num contexto em que a avaliação de riscos e incertezas, associados às projecções, continua favorável.

Para o economista Pedro Langa, que falava no programa “O País Económico” da Stv Notícias, a redução da taxa de referência (MIMO) é um sinal animador numa primeira análise, mas entende que falta uma medida adicional, a redução das reservas obrigatórias, valor descontado aos bancos comerciais a cada operação que executam na sua actividade.

Nesta senda, o economista entende que a medida vai influenciar a economia em duas velocidades.

“Este alívio nas reservas obrigatórias deve ser feito para que todo o mercado corra à mesma velocidade. Repare que tivemos o “Nosso Banco” encerrado porque não tinha esse rácio de solvabilidade e tivemos o caso do MOZA, que mereceu uma intervenção. Ia entrar pela mesma via. Se quisermos continuar a baixar a taxa de juro, é preciso atrair os bancos mais pequenos através deste mecanismo de aumento da capacidade de entrega de moeda ao mercado (redução da taxa de reservas obrigatórias)”, explicou.
Aliás, Pedro Langa lembra que os dados divulgados pelo Banco de Moçambique revelam que, de 2022 a esta parte, a concessão de crédito para as empresas e famílias baixou, o que, do seu ponto de vista, está relacionado com os riscos de incumprimento de crédito.

“Até o maior pagador, o Estado, tem atrasado salários, o que leva a uma certa cautela dos bancos comerciais e dúvidas em relação à disponibilidade de recursos dos diversos actores em honrar os seus créditos na banca”, argumentou.

Entretanto, longe dos factores positivos na economia, o regulador do sistema financeiro denota que a pressão sobre o endividamento público interno se mantém elevada. Excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, o endividamento público interno situa-se em 344,0 mil milhões de Meticais, “o que representa um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2023”.

Questionado se esta pressão no endividamento interno não anula o efeito desejado com a redução da taxa de juro, na medida em que os bancos continuam a preferir consumidor bilhetes de tesouro no lugar de ceder crédito às famílias e empresas, o economista Pedro Langa, disse não haver razões para alarme.

“Quando se fala de gestão financeira, a primeira coisa que se avalia é o risco. Portanto, entre entregar o dinheiro ao Estado e entregá-lo às famílias e empresas, é preferível entregá-lo ao Governo. E veja que, ao comprar essa dívida, o Governo age em duas componentes, a primeira aparentemente negativa, em que suga as reservas do bancos comerciais, e a segunda em que mete dinheiro na economia através do consumo. Portanto, é uma inversão das fontes do Estado”, explicou Pedro Langa.

A redução da taxa de juro é justificada pelas perspectivas de inflação, que se mantêm em um dígito no médio prazo. Em Fevereiro de 2024, a inflação anual fixou-se em 4,0%, após 4,2 % em Janeiro e, para os próximos 36 meses, mantêm-se as perspectivas de uma inflação em um dígito, reflectindo, sobretudo, a estabilidade do nível geral de preços.

 

VENDA DE IMÓVEIS E VIATURAS A PARTIR DE MZN 250 MIL DEVE SER COMUNICADA

A venda de viaturas, por vendedores autorizados (parques), bem como imóveis envolvendo valores acima dos 250 mil Meticais deverá ser comunicada ao Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFIM), no ambito do combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.

Os ramos de actividade foram identificados como de alto risco para o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. Em análise, Pedro Langa, julga que o montante é razoável, se olharmos para os rendimentos da maior parte dos cidadãos, cuja média pode ser de até 300 mil Meticais por ano.

“Olhando para estas estatísticas, temos indicadores para saber, depois de retirar os recursos para despesas e investimentos, qual é o perfil da maior parte dos consumidores, para percebermos o que está a acontecer no mercado, se é um rendimento ilícito ou não”, disse Pedro Langa.

O economista acrescenta que esta é uma medida eficaz para o controlo do branqueamento de capitais, mas não deixa de lado outros riscos ainda prevalecentes, como por exemplo a localização que é favorável para a economia demasiado informal.

Há pelo menos três anos, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) tem vindo a alertar sobre o agravamento da dívida pública interna contraída pelo Governo em nome do Estado moçambicano.

Os alertas do regulador do sistema financeiro são tantos e consecutivos, mas, mesmo assim, o Executivo parece estar a ignorar, subindo cada vez mais os níveis de endividamento público interno, apesar dos riscos associados.

Um desses alertas foi feito, esta semana, numa conferência de imprensa, em Maputo, pelo Comité de Política Monetária do banco central (CPMO) na voz do próprio governador da instituição financeira, Rogério Zandamela.

“A pressão sobre o endividamento público interno mantém-se elevada”, voltou a chamar atenção o governador, tendo afirmado que o Governo está ciente e a trabalhar para normalizar o problema desse endividamento.

Para se ter uma ideia, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, a dívida situa-se em 344,0 mil milhões de Meticais, um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2023.

“Não é por casualidade que nós alertamos. Riscos são riscos. Se o tomador desta dívida tiver dificuldades de honrar com esses compromissos, por razões de caixa ou de solvência, são problemas”, avisa o governador do banco central.

Para já, Rogério Zandamela esclarece que tal situação de incumprimento não é uma realidade em Moçambique, mas é preciso alertar para que o país não caia na armadilha em que entraram outros, incluindo países africanos.

“Já vimos países, na região e fora, em que, a dado momento, o tomador do crédito, pode ser o Estado ou qualquer um, está com problemas e quem empresta não consegue recuperar o seu dinheiro”, exemplificou Zandamela.

Trata-se de uma situação em que o tomador de crédito (no caso, o Estado) não tem capacidade de honrar com esses compromissos, e tal pode criar um problema no sistema, que não é apenas do Governo, mas muito mais grave.

“Não é só um problema fiscal. O problema fiscal vira um problema financeiro, e temos alertado sobre isso regularmente nos nossos relatórios de estabilidade financeira, onde conectamos essas coisas”, disse o governador.

Pelo facto de o Banco de Moçambique ter uma relação privilegiada com o Governo, por ser um conselheiro de confiança, questionámos, em conferência de imprensa, o que tem feito para reverter a situação que já é muito antiga.

“Claro que conversamos e damos os nossos conselhos. A questão da dívida não é uma questão assim tão trivial na solução, porque ela depende de duas coisas, do numerador e do denominador”, assim reagiu Rogério Zandamela.

No entender do regulador do sistema financeiro, a economia tem de crescer e ter mais receitas, para que tal denominador que condiciona o numerador seja menos forte e o Estado tenha capacidade de honrar com os seus compromissos.

Isso leva tempo, sublinha o governador. “Não é uma coisa que se faz de um dia para outro. Esse é o grande desafio. Eu não quero dar números, deixarei essa parte para o nosso ministro das Finanças, eles é que gerem a dívida”.

Como se sabe, e até o governador do Banco de Moçambique fez a questão de repisar: o endividamento em si não é um problema. “É normal quando as famílias, empresas vão buscar dinheiro no sistema e o Estado também”.

Para Zandamela, a questão é: será que estamos a fazer o melhor uso desse dinheiro conseguido com base em dívida? Uma pergunta muito importante que deve ser respondida pelo ministro das Finanças, Max Tonela.

Para si, é normal que um Estado se endivide para investir em infra-estruturas, na melhoria da capacidade e transformação da economia. “Claro que essa é boa notícia, porque a dívida de hoje vai ser paga amanhã”, refere.

Entretanto, um cenário diferente pode ser assistido. “Quando estamos a endividar-nos porque estamos a consumir, porque estamos a pagar salários, ou despesas correntes, aí já vira um outro ciclo”, considera Zandamela.

Na conferência de imprensa do Comité de Política Monetária, questionámos o governador do banco central sobre o nível ideal de endividamento público interno que o Governo devia respeitar e foi cauteloso na resposta.

“Faça essa pergunta ao ministro. Os países podem ter os mesmos números, mas não quer dizer que têm o mesmo problema de endividamento, porque depende do que fizeram com os recursos”, disse Rogério Zandamela.

Outro risco associado ao endividamento público interno é o facto de o Estado disputar a mesma fonte de financiamento com as famílias e as empresas, o que contribui para o encarecimento do crédito na economia.

De Janeiro a Outubro do ano passado, segundo referiu em finais do ano passado Rogério Zandamela, o endividamento público interno aumentou na ordem de 52 mil milhões de Meticais (cerca de 806,7 milhões de dólares).

O custo do dinheiro para os bancos comerciais, ou seja, a taxa de juro MIMO, reduziu de 16,50% para 15,75%. Tal abre espaço para que as instituições financeiras emprestem dinheiro às famílias, empresas e ao Estado a taxas de juro mais baixas.

Com este marco, o sonho do Banco de Moçambique de reduzir a taxa de juro de política monetária para menos de 10%, em 36 meses, já começou a ser realizado.

Pela segunda vez consecutiva, em dois meses, o Comité de Política Monetária do Banco Central cortou o custo de dinheiro para os bancos.

“Esta decisão é sustentada pela consolidação das perspectivas de inflação em um dígito no médio prazo, num contexto em que a avaliação dos riscos e das incertezas associadas ás projecções continuam favoráveis”, anunciou Rogério Zandamela.

O corte da taxa abre espaço para os bancos comerciais se financiarem a custos mais baixos, ou melhor, concederem créditos mais baratos às famílias, empresas e ao Estado.

O custo de vida é sim um dos factores que contribuiu favoravelmente para a redução, mas há um outro que continua de alto risco, a dívida pública interna.

“A pressão sobre o endividamento público interno mantém-se elevada. O endividamento público interno, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situa-se em 344,0 mil milhões de Meticais, o que representa um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2023”, alertou o governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela.

Para o governador do banco central, é normal que o Estado contraia dívidas dentro do país, mas a forma como esse dinheiro é usado é que preocupa.

“Você pode se endividar e o dinheiro é investido em infra-estruturas, melhores capacidades e transformação da economia, isso é uma boa notícia, porque a dívida de hoje vai ser paga amanhã, agora, quando estamos a endividar-nos porque estamos a consumir, ou porque estamos a pagar salários e despesas correntes, aí já vira um outro ciclo”, explicou, ontem, Rogério Zandamela.

No que toca aos apagões frequentes registados no sistema financeiro, ligados a pagamentos e à carteira móvel, Rogério Zandamela culpa os bancos comerciais.

“As instituições atrasam ajustar os seus sistemas à nova plataforma e isso cria problemas. Eu já disse às instituições que têm que trabalhar porque atrasaram  ou porque acreditaram que não iria acontecer, não sei porquê”, referiu o governador.

Outro assunto que mereceu comentário foi o acordo extrajudicial com o banco Credit Suisse, através do qual o Estado passou a não ter de pagar parte da dívida de 622 milhões de dólares da ProIndicus. Zandamela não vê problemas no acordo.

“A dívida foi perdoada, mas nesse processo eles não eram os únicos credores, havia outros pequenos que exigiam pagamentos em dinheiro. Uma parte, usamos as nossas reservas para pagar esses pequenos credores, por parte de um acordo que tivemos”, explicou Rogério Zandamela.

No encontro que visava partilhar resultados da reunião do Comité de Política Monetária, o governador do banco central recusou-se a falar das recentes sanções a bancos comerciais, com destaque para o BCI e seus administradores.

O Conselho de Ministros aprovou, esta terça-feira, 26 de Março, o decreto que aprova os termos do contrato de concessão de pesquisa e produção de petróleo para a área offshore Save, S6-A, à CNOOC Hong Kong Holding Ltd e à Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P (ENH, EP), na qualidade de concessionárias.

Ainda na sessão de ontem, o Executivo aprovou o decreto que aprova os termos do contrato de concessão de pesquisa e produção de petróleo, para a área offshore Save, S6-B, à CNOOC Hong Kong Holding Ltd e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P (ENH, EP), na qualidade de concessionárias.

Outro decreto aprovado pelo Conselho de Ministros é o que aprova os termos do contrato de concessão de pesquisa e produção de petróleo, para a área Offshore Angoche A6-G, à CNOOC Hong Kong Holding Ltd e à Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P (ENH, EP), na qualidade de concessionárias.

“O decreto que aprova os Termos do Contrato de Concessão de Pesquisa e Produção de Petróleo, para a área Offshore Angoche, A6-D, à CNOOC Hong Kong Holding Ltd e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P (ENH, EP), na qualidade de concessionárias; O decreto que aprova os Termos do Contrato de Concessão de Pesquisa e Produção de Petróleo, para a Área Offshore Angoche A6-E, à CNOOC Hong Kong Holding Ltd e à Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, E.P (ENH, EP), na qualidade de Concessionárias”, especificou ainda o porta-voz da Sessão do Conselho de Ministros, Filimão Suazi.

No Conselho de Ministros de ontem, o Governo abordou ainda a situação da época chuvosa e ciclónica 2023/2024, com enfoque para os impactos registados em resultado dos fenómenos naturais e antropogénicos ocorridos. Há, até agora, o registo de mais de 100 mortos desde Outubro do ano passado.

Por outro lado, o Executivo falou sobre a situação epidemiológica da cólera e da conjuntivite hemorrágica e das medidas de prevenção e controlo.

Em África, os créditos de carbono são vendidos por USD 10, seis vezes menos quando comparados aos USD 61 transacionados na América. Ou pior, dez vezes menos quando comparados aos USD 100 comercializados para a Europa.

Entretanto, há necessidade de um posicionamento comum e uma palavra “mais forte dos africanos”, defende António Pedro, secretário-executivo-adjunto da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA).

De acordo com Pedro, as nações africanas têm de ser mais assertivas nas negociações com as multinacionais.

A fonte revelou, ainda, que África tem potencial para gerar cerca de 30% dos créditos de carbono ao nível mundial, mas continua no fundo da escala de compensação, recebendo apenas 10%.

Em equivalências, um certificado de crédito de carbono representa uma tonelada de emissões de dióxido de carbono, que deixa de ser emitida ou é compensada por investimentos verdes, que são comprados por países ou empresas emitentes.

Segundo previsões, o comércio global deste sector deverá chegar perto de um bilião de euros nos próximos 15 anos, num momento em que as previsões de produção anual de Moçambique são estimadas entre 80-90 milhões de toneladas e, consequentemente, um ganho entre USD 200-500 milhões por ano.

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