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E tomando mesmo por empréstimo: venenos de deus, remédios do diabo

Um dos aspectos, com que me divirto, ao longo dos tempos, é o estudo do carácter de gente ruim. Faço esse exercício já há bastante tempo, não apenas por mera necessidade de diversão, mas também porque os resultados daí advindos me são úteis para traçar o perfil das minhas personagens de ficção narrativa. Sem recorrer a Sigmund Freud , é quase trabalho da psicanálise.

Com esse exercício tenho analisado atitudes de algumas pessoas com quem me relaciono, ou as vislumbro a distância, tendo chegado a seguinte conclusão: gente de coração ruim procura, socialmente, substituir o seu coração mau, com o de outra pessoa, de preferência com o de quem é bonzinho, de facto, indivíduo de quem esperam algo e lhes tarda chegar, ou então lhe admiram maliciosamente o talento. 

Para lograr tal substituição de coração, de ruim para bom, essa espécie de gente recorre a uma técnica bem simples que, por uma questão de método, entendi designar "Táctica de Inversão ao Espelho". É como se o indivíduo ruim chegasse diante de alguém de boa índole, e o visse como a sua própria imagem invertida ao espelho. Deste modo, o de coração ruim passa a ser visto na sociedade como o bonzinho, e o de bom coração fica pintado e visto aos olhos do mundo como o mauzinho. Mas, infelizmente gente de coração ruim é ruim mesmo, com ou sem esta ilusória troca de carácter.  

Foi por força dessa imagem gerada pela “Táctica de Inversão ao Espelho” que alguém, vendo-me assim pintado, perguntou-me: “o que fizeste ao José Remédios?”

Essa questão me foi colocada um pouco depois da publicação do texto de Remédios "Os Números e o BCI". Nesse texto, algo patente, a saltar a vista de qualquer leitor, foi o seu grande empenho, em querendo afastar o meu livro, Saga d’Ouro, da possível atribuição do prémio: “Se os membros do júri estão a pensar em premiar Saga d’ouro com o BCI de Literatura, talvez detestem o teor deste artigo. Claro que o objectivo do texto não é confrontar, questionar qualidades ou idoneidades. Longe disso. Sem nenhum tipo de presunção, aqui o interesse é apenas expressar publicamente o que não me sai da cabeça há alguns dias (…) eu não distinguiria Saga d’ Ouro” (Remédios, In o País, 25.02.20)

 Assim resolvi retirar o Saga d’Ouro da lista das obras candidatas, pois supus  que, sem o saco de pancada, daí em diante os golpes desferidos cairiam no vazio. Aliás, uso desde a infância essa táctica de tirar o corpo para o outro bater no ar, é a uma lição de sobrevivência que aprendi dos gafanhotos.

Sempre que eu fosse do Bairro Malhangalene ao bairro de Xipananine, para passar alguma temporada de férias a casa dos meus primos, malta Pedro, Ângelo e Paulo, via alguns meninos, da mesma faixa etária que a nossa, entretidos a caçar  gafanhotos. As vezes, quando um desses meninos apanhava e puxava o gafanhoto pela perna, o insecto pura e simplesmente soltava a perna, deixando-a para trás, agarrada aos dedos do menino de Xipamanine apanhador de gafanhotos. Daí se via o gafanhoto a voar livre pelos ares, com uma perna a menos, mas livre.

Nada satisfeito com o voo livre do gafanhoto, o menino de Xipananine, continuava, por alguns instantes, com a perna do gafanhoto entre os dedos. Mas, num repente, os olhos do menino do Xipamanine voltavam a relampejar, cheios de malícia. Metia a mão no bolso, riscava o fósforo e queimava a perna do gafanhoto que se convertia gradualmente em cinzas, a deixar no ar um cheiro que lembrava camarão a grelhar. A primeira vez que presenciei  cena igual fiquei estarrecido, tentando compreender o porquê daquele menino de Xipamanine gostar de puxar a perna do gafanhoto. Meu primo Pedro apressou-se a dizer que também não achava resposta para essa crueldade: "Mas, ó Manuel, usa a atitude do gafanhoto como uma lição de vida. Se um dia alguém procurar arrancar-te algo para além da liberdade, não lute por isso. É uma perca de tempo. Deixe-o com a coisa, seja lá o que for. O importante é a tua liberdade." – Depois que cresci, descobri que, nalgumas crenças, o gafanhoto também é símbolo de liberdade e independência.

Melhor clarificado, foi à luz dessa lição do gafanhoto que retirei Saga d’Ouro do rol de livros candidatos ao Prémio, para curtir a minha liberdade, longe de Remédios e Pereiras. Mas mesmo assim, continuaram a publicar textos de vanglória e acesas faúlhas, tudo isso para chamuscar-me.  

Realmente, hoje, José Remédios, parece-me aquele menino de Xipananine, já na fase adulta. No seu segundo texto O golo que não meteu o árbitro”, José Remédios atinge o extremo máximo da piromania, tentando queimar-me as pernas a nível profissional e literário. Ora vejamos: a que propósito vai cavar a minha vida profissional, de assessoria de imprensa no Ministério da Cultura, para este debate? Qual é a razão de chamar para esse debate a possibilidade de um dia eu vier a ser Secretário-geral da AEMO? 

Passemos agora a demonstração da “Táctica de Inversão ao Espelho”, tomando como estudo de caso o texto O golo que não meteu o árbitro”, José Remédios:

1 – José Remédios refere que “Lembro-te, ainda há pouco tempo andavas pelos corredores do Ministério da Cultura e Turismo. Escada para ali, escada para lá. (…) Das duas, uma, ou o super Collina quer cuspir na fonte onde matou a sede ou quer é sujar a fonte por lá não ter continuado. Coisa feia!

2 – Como se pode ver, essa é a imagem do próprio Remédios, e socorrendo-se do facto de eu ter afirmado que “os Prémios Fundac, promovidos pelo Ministério da Cultura, deixaram de existir e, na literatura os olhares viraram-se para os concursos promovidos pela AEMO, tenta passa-la para mim, aos olhos da sociedade, pois desde a minha saída do Ministério, nunca formulei palavra que consubstancie essa imagem de “cuspir na fonte onde comeu”, pelo contrário, continuei a manter, a distância, relações cordiais e profissionais com o Ministério. Como evidência, facto mesmo do domínio público, depois da minha saída do Ministério, fui contactado e escrevi o texto do jogral apresentado no Estádio da Machava, aquando da celebração, em 2015, do quadragésimo Aniversário da Independência Nacional, isso é de domínio publico; mais recentemente, em 2018, na realização do último Festival Nacional da Cultura, com lugar em Lichinga, escrevi a letra da canção oficial,  desse tido como o maior evento cultural do país, interpretada pela Banda Ulongo, etc. Como se pode ver, mantenho, um óptimo relacionamento com o Ministério, ao contrário Remédios, exímio em  sujar a fonte por não continuar por onde algum dia prestou serviço.

3 – Tendo falado em sujar a fonte, ainda na demonstração da “Táctica de Inversão ao Espelho”, Remédios tenta sujar um dos prémios promovidos pela AEMO, agremiação que, por dois momentos, o convidou para integrar um júri, facto que lhe valeu uma nada desprezível quantia, para seu próprio desafogo. Primeiro, em 2016, do Concurso Literário TDM 2016 e ainda no mesmo ano, 2016, integrou o júri do Prémio 10 de Novembro de Literatura e,  em citando Remédios: “é sujar a fonte por lá não ter continuado. Coisa feia!” – vejam, é assim como funciona a “Táctica de Inversão ao Espelho”. Quem está cuspir na fonte onde matou a sede?

Contrariamente a minha pessoa, que continuei a prestar serviços de fora, e jamais teria posto em causa o prestigio do Ministério, onde prestei serviço, veja-se como é que Remédios suja a imagem de uma instituição por onde passou: “Que o Prémio BCI de Literatura [promovido pela AEMO] tem perdido credibilidade já não é novidade nenhuma. Qualquer coisa tem acontecido para que leitores como eu questionem algumas decisões.” (Remédios, In O País, 25.02.20)

Por outro lado, tenta fazer a sociedade crer que eu estou, de alguma forma, contrariado por não ter sido contemplado com o prémio, mas não sabe que o Celso Cossa, por pouco, também teria submetido uma carta a AEMO, a solicitar a retirada do livro O Menino que Odiava Números, por causa da paranóia lançada pelo Refila Boy da literatura, e secundada por Remédios. E eu esgrimi argumentos, a fim de convencer o depois laureado celso, para não retirar O Menino que Odiava Números. Como se pode ver na fotografia anexa ao texto, momentos depois do anúncio do vencedor, fomos brindar o prémio atribuído ao Celso, alguém vê o Remédios na imagem? Não. Porque quem está com bílis não celebra êxito alheio. E mais, Remédios sabe quem patrocinou o brinde? Por isso, a ideia de que estou magoado é a própria imagem do Remédios, vista ao contrário, na sua excelência de uso da “Táctica de Inversão ao Espelho”.

Quase a finalizar, questões de ética, que Remédios e companhia defendem que me falta, outra inversão  na edição do dia 4 de Fevereiro em curso, o jornal O País, que muito prezo, publicou o texto Uma palavra em torno da minha saída do Prémio BCI, de minha autoria e assinado por mim. Qual não foi o espanto, folheando as páginas do jornal, vejo enxertado no artigo um trecho, entre aspas, em latim, totalmente alheio ao texto que enviei a Remédios. Que ética jornalística é essa? Usar texto dos colaboradores para coloca-los palavras na boca, ainda por cima, ca entre nós, quase verdadeira língua de papagaios… Depois, mesmo a moda do gueto, alude, num dos seus textos verborreicos, que faço “generalizações excêntricas aos jornalistas, quando os que estão em causa no debate são somente leitores”, quando me referia a ele e ao Quive. Ora, Remédios, isso é molwenice de um desesperado. Quando ainda andavas no xipamanine a assar pernas de gafanhotos, e espero que os ares da repartição de salubridade municipal não te tenham feito mal a cabeça eu já estava no meio jornalístico, como jornalista. Depois, a ficção falou muito mais alto em mim. Então, se queres alguma solidariedade de classe, peça-a de forma mais convincente. Não com molwenices cobardes do tipo lholhotelar, incitar, bem à moda dos caça-gafanhotos, mas essa não cola. Os jornalistas muito bem conhecem o meu respeito por eles e pela nobre profissão!

Podia até continuar a fazer algumas demonstrações, mas tudo é mesma verborreia de Remédios. Magoado por nunca mais ter sido convidado a fazer parte de algum júri da AEMO, e me tem como culpado disso, outrossim, é aquela velha mágoa que persegue alguns críticos literários, o sonho fracassado de ser escritor. Calma, agora digo eu, pois cada macaco no seu galho Remédios. E, como gosta de títulos de livros ou citar escritores, essa táctica de desvirtuar o carácter dos outros, para camuflar a má índole do vilão em ti, aqui muito bem cabe no título do romance de Mia Couto: Venenos de Deus, remédios do diabo. Qualquer semelhança é pura realidade!

 

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