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“É preciso conceder uma nova oportunidade aos prisioneiros”, Paulina Chiziane

Foto: O País

Paulina Chiziane e Dionísio Bahule, autores do livro A voz do cárcere, debateram, esta segunda-feira, na Cidade de Maputo, sobre a condição dos antigos prisioneiros em Moçambique.

O Nedbank convidou a primeira escritora africana a vencer o Prémio Camões para um debate sobre a sua nova obra literária. Na Cidade de Maputo, esta segunda-feira, Paulina Chiziane participou na sessão com o co-autor de A voz do cárcere, o filósofo Dionísio Bahule.

Numa sessão restrita, Paulina Chiziane afirmou que é preciso que o Estado moçambicano conceda uma nova oportunidade para recuperação da vida aos prisioneiros. E justificou porquê: “Estamos a falar de um drama humanitário. Estamos aqui para promover um debate, uma espécie de uma nova consciência da nossa sociedade, partindo do princípio de que cada um de nós pode entrar na prisão. Há caso de bons malandros que entraram na prisão, aprenderam e mudaram. É preciso dar uma oportunidade para a recuperação da vida às pessoas que se encontram nas penitenciárias”.

Ao longo da sessão, a escritora revelou que A voz do cárcere foi um livro difícil de escrever, devido à oficina deprimente. Também por isso, precisou de escrever o livro com Dionísio Bahule: “Confesso que choravam todos os dias. Perguntava-me como foi possível viver até aqui sem nunca perceber o real drama humano destas pessoas que são parte muito importante da sociedade moçambicana”.

A reforçar as palavras de Paulina Chiziane, Dionísio Bahule explicou que o Estado moçambicano é o primeiro a condenar os antigos prisioneiros, no lugar de garantir a reinserção social. “Se pensarmos na prisão como um lugar da restauração do ser, como é que o próprio Estado, quando lança um concurso público, coloca uma cláusula: ‘nunca deve ter sido preso’. Se a gente diz que a prisão é um lugar de restauração, acha isso um discurso paradoxal. É como se nós condenássemos a pessoa duas vezes, como se quem vai à prisão fosse uma pessoa completamente inútil. Se a gente pede à sociedade que aceite às pessoas que vêm da prisão, como é que o próprio Estado não consegue dar uma possibilidade?”.

O filósofo Dionísio Bahule disse ainda que trabalhar com Paulina Chiziane na escrita de A voz do cárcere foi um privilégio enorme, não só de aprender, mas também de crescimento. E como que deixando um comentário sobre o Prémio Camões, rematou: “Ela já não pertença a ela mesma, mas a todos nós. É para nós um património, que deve ser partilhado”.

Nas 475 páginas deste de A voz do cárcere, Paulina Chiziane e Dionísio Bahule procuram justificar que a prisão deve ser encarada como um espaço de catarse e de reabilitação.

 

 

 

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