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Doentes internados no chão por falta de espaço e camas no HCN

Enfermarias a rebentar pelas costuras; doentes adultos internados no chão; crianças internadas duas ou três numa cama e pessoal de saúde saturado, este é o retrato do Hospital Central de Nampula. Enquanto isso, as obras do Hospital Geral de Nampula estão paradas há 16 meses. O MISAU rescindiu o contrato com a CETA e busca outro empreiteiro até Abril.

A fachada frontal (colorida) de um hospital com mais de 50 anos de existência esconde uma realidade desumana no Hospital Central de Nampula (HCN). No corredor de Medicina I, cerca de dezena de doentes estão internados sob o soalho, por falta de camas.

Médicos, enfermeiros e agentes de serviço passam num vai e vem, num cenário que parece ser normal, mas no fundo, a aparente normalização consome no silêncio a dor de quem tem que prestar serviços de saúde naquelas condições. “A nossa capacidade interna é de 77 camas, nós estamos agora com 109 doentes. Temos que colar os soros na parede dos edifícios e isso não é recomendável. Portanto, atender um doente no chão não é a mesma coisa que atender um doente que está na cama. É desconfortável e acaba por ser muito cansativo”, desabafa o dermatologista Marcelo Banquema, director do Departamento de Medicina.

O Hospital Central de Nampula mostra-se incapaz de responder à demanda. É a unidade sanitária de referência em toda zona norte do país. Recebe doentes graves transferidos dos 23 distritos da província de Nampula e dá assistência às províncias do Niassa, Cabo Delgado e parte da Zambézia. Os utentes saem em defesa dos profissionais de saúde e criticam o Governo pelo fraco investimento no sector da Saúde na província mais populosa de Moçambique, com seis milhões de habitantes.

“Por mim, eles trabalham perfeitamente só que têm falta de condições, têm falta de moral, porque o que dá moral é o material para eles trabalharem perfeitamente”, apontou Flores Cunela que o encontramos, no corredor de uma das enfermarias de medicina, a tratar dos trâmites para ter o corpo da sobrinha que perdera a vida, depois de um longo período de internamento.

De piso a piso, de corredor a corredor, a situação repete-se. Uma mais grave que a outra. Há 12 anos a trabalhar na pediatria do Hospital Central de Nampula, a médica-pediatra Merunissa Gafur partilha connosco o cotidiano marcado por dramas. “Nesta enfermaria, por exemplo, já tivemos um quarto com 10 quartos com 30 crianças internadas e as respectivas mães. Podem imaginar como era o cenário de não poder ter espaço, nem para andar, nem para poder ver como deve ser os doentes”.

Uma vida que nunca foi tão difícil como desta vez. É que neste período chuvoso há mais doentes e o movimento de deslocados que vêm de Cabo Delgado aumentou ainda mais o fluxo neste hospital.

Uma sala de escassos metros quadrados; de 16 camas da sua capacidade para 32 crianças internadas e mais as respectivas acompanhantes e sem aparelhos de ar condicionado a funcionar, alegadamente porque avariaram devido a cortes constantes de energia eléctrica naquele ponto – esse é o aditivo no meio a tantas dificuldades que marcam o funcionamento daquela unidade sanitária. Mesmo assim, a médica pediatra Otília Antunes não se distrai do essencial: conseguimos nos adaptar. O importante é tratar e cuidar das crianças. Como se diz, o nosso maior valor é a vida.

E para descongestionar o Hospital Central de Nampula, o Governo avançou com a construção do Hospital Geral de Nampula que devia estar pronto em 2019, mas as obras estão paralisadas há mais de um ano.

As chapas contendo a informação do projecto ainda estão em pé e mostram um investimento de mais de 14 milhões de dólares, financiados pelo Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico de África, o Fundo Saudita para o Desenvolvimento e o Orçamento do Estado.

As obras foram lançadas em 2017 e esperava-se que, 18 meses depois, o hospital estivesse pronto, ou seja, em 2019. Entretanto, depois de várias paralisações devido a problemas entre o empreiteiro, os seus trabalhadores e o dono da obra, eis que esta foi definitivamente paralisada há mais de um ano.

As obras estavam a cargo da construtora CETA. A nossa equipa de reportagem soube do responsável pelo Departamento de Infra-estruturas e Equipamento Hospitalar, no Ministério da Saúde, que o empreiteiro mostrou-se incapaz de terminar o projecto, sendo que a solução encontrada foi a rescisão do contrato.

“Vamos contratar uma outra empresa. O processo está em andamento. Estamos em Março; na segunda quinzena de Abril estará lá um empreiteiro a trabalhar na obra”, tranquilizou Horácio Manuel, chefe do Departamento de Infra-estruturas e Equipamento Hospitalar no Ministério da Saúde.

O hospital Geral de Nampula está a ser construído há mais de 7km do centro da cidade de Nampula.

 

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