“Não tenho dinheiro, não sou rica, acredito que minha riqueza é minha criatividade. Estou satisfeita por Deus ter-me dado uma mente criativa”, disse Giglioca Zacaram à margem da apresentação de sua peça infantil no Centro Cultural Brasil Moçambique (CCBM), na capital do país.
Ao som do violino, sala abarrotada de crianças e adultos e mais quatro gatinhos no palco (três actores e uma violonista), assim foi a encenação de “O gato e o escuro”, peça infantil da actriz Gigliola, um texto original do livro do autor moçambicano Mia Couto.
O projecto de teatro infantil foi criado para entreter as crianças aos sábados e nos meios de semana nas escolas, e surge no âmbito das oficinas literárias para as crianças do bairro da Mafalala. Segundo a actriz, as actividades englobavam leitura, apresentação e criação de poesias, e viu-se a necessidade de abarcar também o teatro.
Começamos com a história do ‘Rei Mocho’, [original de Ungulani Ba Ka Khosa], apresentado ano passado”, disse Gigliola, acrescentando que haverá mais uma peça por apresentar: “Melissa e o Arco Íris”, do livro da Dama do Bling.
Para a actriz, existem vários contos infantis de autores moçambicanos, como é o caso das obras de Fátima Langa, Calane da Silva, Rogério Manjate, Mia Couto, importantes para o país. “Então, por que não educar as crianças através de actividades lúdicas?”.
“O gato e o escuro”, explora a obediência; o “Rei Mocho”, a mentira; e “Melissa e o Arco-íris”, o espírito de coragem e aventura. Cada história transporta uma mensagem que pode moldar o carácter da criança, de modo a crescer com valores mais definidos e saber distinguir o certo do errado”.
O projecto não se cingirá apenas aos centros culturais, a associação vai se apresentar em algumas escolas públicas como é o caso da Escola Primária do Alto-Maé e pretendem fazer apresentações fora da cidade de Maputo. “Gostaríamos de ir aos distritos, infantários, orfanatos e outras províncias, porque existem crianças que não têm condições. Queremos levar o teatro a essas crianças”, explicou.
Neste momento, a associação procura financiamento ou parcerias para poder materializar o sonho de levar a dramaturgia aos mais desfavorecidos. “O centro tem que ter uma sustentabilidade para garantir pão e poder manter a motivação dos artistas”, esclareceu.
A peça foi apresentada ontem, e será apresentada na Fundação Fernando Leite Couto no dia 7 de Outubro.
Segundo os organizadores do evento, o mesmo superou as suas expectativas, tanto que tiveram que fazer duas secções para que todos os presentes pudessem ver a peça.
Giglioca Zacara, actriz, formada em dança na Escola Nacional de Dança, criou a Associação Centro de Recriação Artísticas. Depois de dar aulas de dança, sentiu-se cansada de trabalhar para os outros e pensou em fazer algo com que se identificasse e gostasse. Foi quando pensou em criar o Centro, tendo começado por usar o espaço da casa da cultura.