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Djonasse: um bairro onde falta quase tudo

Foto: O País

A população no bairro Djonasse, no distrito de Boane, sente-se abandonada e diz viver um “verdadeiro martírio”, sem serviços sociais básicos, como água, escolas, hospital, energia e transporte.

No bairro, que fica há poucos quilómetros da Cidade de Maputo, de forma concreta, há uma hora da capital do país, a forma como se vive dá impressão de estar localizado num dos lugares mais remotos do país, pois falta quase tudo, conforme descrevem os residentes daquela comunidade.

É numa lagoa artificial, com água turva, onde lavam a roupa, buscam água para beber, cozinhar e fazer outros afazeres domésticos.

“Estamos a sofrer por falta de água, aqui em Djonasse. Esta água vou levar para casa. Quando a casa, deixo por um tempo, para a sujidade ir para baixo e depois tiro e fervo, quando temos um purificador uso, mas quando não tenho tempo consumimos assim mesmo. Quando cozinhamos, o arroz branco fica castanho, por causa da cor da água”, relatou, Luísa Nhavotso, que se encontrava na margem da lagoa a lavar a roupa.

A água não é pura e, por isso, tem causado várias doenças, principalmente em crianças. Mas a lagoa não é a única opção para aquela população. Existe um fontanário, mas para uns fica distante e para outros não é necessariamente uma solução.

A água do fontanário é salubre e não dá para beber, e para ter água completamente potável, a solução é comprar através de camiões cisternas, entretanto, cada bidão de 20 litros custa 20 Meticais, um valor que o bolso de muitos não suporta.

“A nossa salvação é a água da chuva, que é segura, então tentamos juntar cada gota sempre que chove, para não passarmos mal. Essa água usamos para beber e cozinhar e recorremos a esta outra (da lagoa e fontenário) para outras actividades domésticas, e quando fica muito tempo sem chover, passamos mal, de verdade”, contou, Andrina Jandira.

Na comunidade, não há uma escola próxima, as crianças são obrigadas a caminhar pelo menos uma hora e meia para poder chegar à Escola Primária de Djonasse, que é a mais próxima.

Com o calor que se faz sentir, todas crianças são obrigadas a levar uma garrafa de água, para beber pelo caminho. E há crianças que não vão regularmente à escola, por conta da situação.

“ Há vezes que o meu filho falta, nos dias de chuva e de muito calor, ele não tem como ir à escola, porque volta a passar mal, para uma criança de sete anos, percorrer essa distância diariamente, não é fácil”, lamentou, um residente do bairro, que preferiu não ser identificado.

Transporte é outro calcanhar de Aquiles, para os moradores, daquele bairro, para chegar ao “cruzamento” como chamam, devem caminhar, também durante uma hora e meia, “a única coisa boa, é a estrada”.

Os moradores clamam também por uma unidade sanitária, pois sem transporte, quando os residentes adoecem, vive-se um martírio, para chegar ao hospital.

“Imagina se alguém adoece de noite. Nós levamos a pessoa numa carrinha de tracção manual, “tchova” para a paragem, ou usamos burro, fazemos uma caroça e isso é que nos safa”, explicou, Celeste Fátima, já irritada com a situação.

Em Djonasse, falta, ainda, um mercado, energia e posto policial, afinal a criminalidade é algo que também preocupa, segundo os moradores. Só este ano, já foram encontrados dois cadáveres na comunidade, onde também destacam-se os assaltos e casos de violação sexual.

“Já estamos cansados de pedir para as autoridades verem a nossa situação. Porque vamos para lá prometem, vamos para lá prometem, mas nada acontece. Já estamos cansados de pedir ajuda, até quando afinal”, bradou outro residente.

A equipa do jornal “O País” entrou em contacto com o chefe da localidade, que prometeu pronunciar-se, esta segunda-feira.

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