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Discurso e acção, marketing e publicidade: o livro deve ser lucrativo

Esta quinta-feira, iniciou mais uma Feira do Livro de Maputo, no Jardim Tunduru. Um dos painéis desta iniciativa do Conselho Municipal da capital do país, constituído pelos autores Mbate Pedro (moçambicano), António Cabrita (português) e Sílvia Alves (portuguesa), debateu à volta do tema “A literatura em língua(s) portuguesa(s) em perspectiva(s): conhecimento, comportamento e mudança”.

Dos três, o primeiro a intervir foi o poeta e editor moçambicano. No seu discurso introdutório, Mbate Pedro defendeu que o fortalecimento da literatura moçambicana e a sua interacção com outras dos outros países de língua oficial portuguesa é algo de difícil alcance por haver poucos leitores, fraca mobilidade de livros e livrarias a falir. Para aquele editor da Cavalo do Mar, uma literatura que se quer séria não se faz só de palavras. Mbate insiste no investimento na literatura porque, acredita, a arte das palavras serve para prover as pessoas, no caso leitores, de valores, o que é caro em Moçambique e em vários países africanos.

Numa audiência constituída por jovens e muitas crianças do ensino primário que chegaram, bem pareceu, para ver a encenação do livro de Sílvia Alves, Mbate Pedro destacou que pouco foi feito para se levar o livro aos leitores no país, daí haver um profundo desconhecimento dos autores moçambicanos e um exemplar estar para três milhões de habitantes. Apoiando-se à sua própria experiência, o poeta disse que em Moçambique há editoras, mas não editores, mesmo devido à fragilidade do mercado livreiro. Para reverter esse cenário, aconselhou: “Quem tem que investir no livro em Moçambique é a classe média, que tem o poder de compra”.

Fazendo um sim com a cabeça enquanto Mbate expunha as suas convicções, António Cabrita afirmou que Moçambique precisa investir numa rede de bibliotecas e criar formas para o livro ser sustentável. Aí o escritor português viajou pelo mundo para ir buscar um exemplo: “nos países nórdicos, a cada livro que é publicado, o Estado compra 500 exemplares. Com isso, a produção literária fica logo garantida”.

Ora, reconhecendo que a internet, actualmente, abriu portas para os novos autores moçambicanos, mudando-lhes até a sua forma de escrita, António Cabrita defendeu que a literatura moçambicana só poderá evoluir se a sociedade civil envolver-se na promoção do livro e dos autores. E, ampliando mais o raio de análise, Cabrita apresentou outro problema, o qual impede a circulação de livros na CPLP: “Os países de língua portuguesa vivem um momento político miserável. O impasse que Brasil enfrenta é péssimo porque aquele seria o país com capacidades para difundir a língua portuguesa noutros contextos”.

Nesse diapasão, Sílvia Alves afirmou que a falta de coordenação entre os países de língua oficial portuguesa está na origem de muitos problemas que afectam as literaturas daquelas realidades. A fim de alterar o quadro, Alves entende que a vontade política é determinante, o que deve ser acompanhada de uma educação desde a meninice, incluindo um insistente contar de histórias às crianças. Depois, a autora portuguesa acrescentou que é necessário, na comunidade de leitores, o marketing, pois o livro deve ser lucrativo. Na óptica de Sílvia Alves, isso será possível se o marketing estiver combinado com comunicação e publicidade.

A Feira do Livro de Maputo continua esta sexta-feira, dia em que um escritor moçambicano será homenageado. Amanhã será o último dia da presente edição 2018.

 

 

 

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