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Diaz Santana dubla na China há oito meses

Diaz Santana é um dos artistas moçambicanos que se encontra a trabalhar para uma empresa de dublagem, na China. Naquele país asiático, o actor já cumpriu oito meses de trabalho, dublando séries televisivas e desenhos animados que, mais tarde, serão exibidos, fundamentalmente, nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Enquanto as produções não são disponibilizadas ao público, Santana vai trabalhando com alguns dos seus compatriotas e com vários chineses na capital Pequim, o que considera rara e grande oportunidade. “Não é fácil furar o mercado chinês, seja em área for, porque a China tem de tudo e do melhor. Perguntamo-nos sempre o que podemos oferecer a China que aquele país não tenha. Para conquistar o mercado deles, temos de possuir um grande diferencial. Portanto, fazer parte dos primeiros artistas moçambicanos a trabalhar no mercado chinês é muito gratificante”.  

Para Diaz Santana ter a oportunidade de ir a China, teve de passar por um casting realizado ano passado, na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), na capital do país. O concurso durou três dias, em jeito de eliminatórias. Assim, foram sendo eliminadas centenas de concorrentes. No total, apenas seis pessoas foram apuradas, entre elas o actor do grupo Lareira Artes, dos mais internacionais em Moçambique.

Mas como é fazer dublagem numa realidade bem diferente da moçambicana, como é a chinesa? A resposta surge na primeira pessoa: “A barreira inicial é a alimentação e o mandarim. Depois, a intensidade com que os chineses trabalham. Eles trabalham muito, não fazem de contas”. Ainda assim, Santana não se sentiu desgastado porque já estava preparado para o desafio. Mesmo porque meses antes desta aventura pelo país de Mo Yan, Nobel da Literatura de 2012, esteve em Macau, sempre pela mesma causa: a arte. Na altura, o grupo de Lareira Artes levou a peça A cavaqueira do poste, encenada por Elliot Alex. “Portanto, para mim foi relativamente fácil a integração também porque já colhi várias experiências de dublagem no Brasil, além de Moçambique”.

Inicialmente, Diaz Santana ficou um pouco chocado com o avanço tecnológico dos chineses, que obriga o actor a ser versátil durante as gravações, sujeitando-se a desempenhar trabalho de três pessoas, com ferramentas de qualidade e exigência à mistura. Outrossim, o actor confesssa: “se não tivesse viajado para China e lá ter trabalhado esses oito meses, não teria a velocidade que hoje possuo, pois lá exige-se mais as metas, com muita rigorosidade, pouco importa o tempo e o horário de trabalho”.

Uma das coisas boas que Santana destaca de Pequim é o facto de a empresa para qual trabalha não fechar, a qualquer altura, se assim o preferir, o actor pode gravar. E há ainda a segurança. Muito boa, que lhe permite sair do estúdio às 0 horas e caminhar 15 minutos sossegado até a casa.   

Além de moçambicanos, Maria Atália, José Magagule, Dany Ripanga, Nádia Cris e Cíntia das Rosas, na empresa para qual Diaz Santana trabalha há actores de países como Tanzania, Nigéria, Costa do Marfim, Portugal, Brasil e França.

Ainda esta semana, Diaz Santana viaja novamente a China, para cumprir mais uma etapa nas gravações. Depois disso, regressa à Pátria Amada e aos palcos, num espectáculo que vai reunir um elenco de luxo.

 

O TRAJECTO

Diaz Santana nasceu em Maputo. É formado em Comunicação Social (Jornalismo) pela Escola de Jornalismo de Maputo. Em 2001, foi convidado a integrar o projecto musical francófono para novos talentos, que culminou com uma digressão pela Bélgica, França e Burquina Faso. Em 2012, o actor participou na série mexicana El Caminhante, no Brasil. No ano seguinte, foi convidado a integrar no grupo brasileiro Blem Blem Blem, apresentando-se em São Paulo e Porto Alegre. Nos finais de 2014, foi consagrado pela imprensa brasileira como um dos sete actores negros que fazem diferença nas artes no Brasil. A eleição aconteceu na cidade de São Paulo, quando o actor participava com o seu grupo de teatro, Lareira Artes, pela quarta vez consecutiva no Circuito de Teatro em Português, a convite do Dragão 7, grupo organizador do evento. Lareira Artes participou nesse festival com a sua então recente criação: A Nova Aragem, uma co-produção com o grupo português Chão de Oliva, com texto de Sérgio Mabombo e encenação do português João de Mello Alvim. Lareira Artes foi fundado nos finais de 2010, por Diaz Santana e Sérgio Mabombo, actor que se encontra doente desde ano passado, na sequência de um AVC que lhe impede de falar. O último espectáculo de Lareira Artes é intitulado Recados de lá, estreado no Brasil ano passado.

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