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Desapareceu há quatro anos em Nampula e ainda não há pistas

Auxílio Augusto desapareceu a 17 de Dezembro de 2014 no periférico bairro de Mutauanha, em Nampula, e nunca mais voltou à casa. A história começa com uma promessa de emprego e tem contornos criminais.
“Nós sempre conversávamos, mas naquele dia parecia que estava a me despedir”, lembra Pedro Augusto, irmão mais novo da vítima.

Pedro conta que Auxílio foi abordado por um homem por volta das 8h00 da manhã de 17 de Dezembro de 2014 que prometera uma vaga de emprego numa grande empresa local e um salário de 15 mil meticais por mês. Trocaram números de telefone, uma hora depois, o aliciador ligou para a vítima, aconselhando a entregar documentos pessoais para a referida vaga.

O pai, Eduardo César Augusto, estava na machamba, mas soube do Pedro que Auxílio tinha saído ao encontro de um desconhecido. “Ele ficou aliciado, pensando que já tinha conseguido emprego, uma vez que disse que ia receber 15 mil meticais”.

Verdade, porém, é que quando Auxílio saiu de casa não voltou mais até hoje. A família participou o caso na 1ª Esquadra da PRM na cidade de Nampula e seguiu-se uma investigação que conduziu, na altura, à detenção de um suspeito. “Quando volto para casa, no dia 18 de Dezembro de 2014, recebo informação de que apareceram dois moços à procura também do Augusto. Nesse dia 18, esse fulano, quando foi perguntado, disse que estava à procura dele para lhe dar um emprego. Que eram umas irmãs que precisavam dele para também receber um valor de 15 mil meticais. Por causa disso, suspeitamos que fosse uma acção combinada, talvez esse fulano não soubesse que o amigo dele já tivesse conseguido nos tirar o nosso filho de casa”.

O único arguido preso acabaria por ser solto em finais de Janeiro de 2015 e o processo seguiu um vai-vem entre o juiz de instrução criminal e os investigadores da então Polícia de Investigação Criminal, hoje Serviço Nacional de Investigação Criminal.

Quatro anos depois, a família vive na amargura e incerteza: “remeteu-se o processo em definitivo para o Tribunal Provincial para efeitos de julgamento. Este ano todo, 2018, não há julgamento e estou aqui”, desabafou Eduardo Cesar Augusto, de 73 anos de idade.

A mãe de Auxílio vive os anos mais amargos da sua vida. “Peço à Nossa Senhora para que lhe proteja. Não sabemos se está a sofrer nalgum lado ou então foi entregue morto. Que ela (Nossa Senhora) ajude. Peço ao Senhor para que lhe deixe num bom lugar”, pediu Joaquina Francisco Augusto, com lágrimas espontâneas a lhe escorrerem no rosto.

Em contacto com a nossa reportagem, o juiz-presidente do Tribunal Judicial de Nampula prontificou-se a investigar a secção para onde foi encaminhado o processo para efeitos de esclarecimento do estágio actual.

Desde os anos 1990 que a região Norte do país, Nampula em particular, virou um sítio perigoso para pessoas portadoras de albinismo. Crenças supersticiosas de que partes do corpo dos albinos ajuda na cura de doenças e/ou dá sorte, alimentou o fenómeno de “caça” aos albinos, sendo que Tanzânia e Malawi são tidos como os destinatários dos órgãos ou ossadas de albinos para fins de feitiçaria.

 

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