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Crime organizado tem grande força num contexto de muita impunidade, diz arcebispo da Beira

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O arcebispo da Beira, Cláudio Dalla Zuanna, condena a onda de raptos frequentes no país e alerta que este crime pode estar ligado às instituições do Estado. Dalla Zuanna diz ainda que a situação é perigosa, na medida em que os autores do crime podem até infiltrar-se nas instituições da Justiça

Falando à margem da cerimónia de graduação de estudantes da Universidade Católica de Moçambique, o arcebispo da Beira, Cláudio Dalla Zuanna, alertou que os gestos e acções isoladas não travar os raptos e defendeu a união de esforços para combater o crime que ganhou contornos alarmantes no país.

Cláudio Dalla Zuanna referiu ainda que os raptos são prova da existência de crime organizado no país, o que é uma situação muito perigosa.

O arcebispo da Beira chama atenção ainda para o perigo de se estar num contexto de muita impunidade, realçando que tal pode ser um sinal de que os criminosos estão infiltrados nas instituições de Justiça.

“O crime organizado pode até infiltrar-se dentro das instituições e comprometer o trabalho e serviço”, alertou o arcebispo.

No último informe sobre o estado geral da Justiça no país, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, disse terem sido registados 14 processos-crime por rapto em 2021, contra 18 em 2020. Buchili reconheceu que há casos que não estão oficialmente registados.

Para o arcebispo da Beira, é fundamental que todos os sectores da sociedade se envolvam no combate a este crime que tem como principais alvos empresários ou figuras a si ligadas.

“Temos que encontrar respostas juntos. As instituições académicas, políticas, judiciárias, família e a sociedade no geral devem envolver-se para dar espaço ao bem.”

A 19 de Maio passado, Safira Feroz, estudante de 19 anos, foi raptada pouco depois de sair das instalações da Universidade Católica de Moçambique e, até hoje, não se conhece o seu paradeiro. A vítima foi arrastada para uma viatura ligeira por três indivíduos que se colocaram em fuga.

“É com grande tristeza que tomamos conhecimento do rapto da nossa estudante. Queria manifestar a minha solidariedade para com a família, que deve estar em grande sofrimento neste momento”, disse o arcebispo.

O reitor da UCM, na Beira, Padre Filipe Sungo, foi incisivo nas suas declarações, defendendo que é necessário intensificar acções enérgicas para combater um mal que é do conhecimento de todos e que fragiliza o Estado de Direito.

“Temos que travar esta economia do rapto, corrupção, terrorismo, nepotismo, arrogância, ditadura, ambição desmedida, roubos, assassinos e demais males”, disse Padre Filipe Sungo.

Bernardete Zacarias deu voz aos estudantes que estão indignados e aterrorizados com este crime que chocou a cidade da Beira, em particular, e a sociedade moçambicana, em geral.

“É muito triste. Muito triste mesmo”, lamentou a estudante, visivelmente emocionada. Quem também não ficou indiferente em relação à crescente onda de raptos cuja estrutura de combate não dá sinais de avanço é o edil da Beira, Albano Macie.

A UCM graduou 500 estudantes das Faculdades de Saúde, Economia e Gestão e Instituto de Educação a Distância. O governador de Sofala, Lourenço Bulha, e a secretária de Estado, Stella Zeca, desafiaram, na ocasião, os técnicos a encontrarem soluções para os problemas das comunidades.

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