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Crianças deslocadas vendem sucatas para sobreviver em Pemba

Centenas de crianças da cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado, estão a crescer na rua e vendem latas e sucatas para a sua sobrevivência e das suas famílias.

Actualmente, segundo apurou o “O País”, muitas crianças estão envolvidas na venda de ferro velho para a sucataria, um negócio que está a ajudar a minimizar as dificuldades financeiras da maior parte da população que vive na capital da província.

Com apenas 14 anos de idade, Edvaldo Carlos vive com a avó. Conhece todos os bairros de Pemba e quase todas as ruas da cidade. “O meu trabalho é apanhar latas, ferro, bronze, alumínio, latas de refresco, massa de tomate e sardinhas para vender”, confirmou Edvaldo Carlos, que, há quatro anos, sobrevive do negócio de sucata.

Apesar de ser criança, Edvaldo deixou de estudar e, pela experiência que tem, conhece o valor de cada metal que é vendido na sucata. “Eles compram um quilograma de lata por 40 Meticais, quanto ao alumínio o quilo custa 50 Meticais, o bronze 10 e ferro sete por quilograma”, explicou.

Algumas crianças, que estão no negócio do ferro velho, são sobreviventes dos ataques terroristas em Cabo Delgado, que abandonaram os centros de reassentamento localizados em alguns distritos. “Saí de Macomia para Chiúre por causa do Alshabab. Comecei a apanhar ferro na rua, porque não estamos na lista dos que recebem ajuda humanitária”, revelou Paulino Ernesto, uma criança deslocada de 12 anos de idade que, actualmente, vive em Pemba com a sua avó.

Desde que iniciou o negócio de reciclagem de sucataria, o ferro velho era mais procurado por crianças, mas, hoje, até alguns idosos sustentam as suas famílias apanhando latas nas ruas da cidade de Pemba.

“Comecei no ano antepassado, porque eu e o meu marido não temos emprego e, hoje, sobrevivemos apanhando latas no lixo e na rua. Há anos conseguia dez quilogramas de ferro velho por dia, mas, hoje, é difícil, porque há muitas pessoas a fazer o mesmo trabalho”, lamentou Ruquia Salimo.

A maior parte das crianças que vivem ou passam o dia na rua não estuda, e quase tudo que ganha pelo trabalho que faz é usado para a sua alimentação e das suas famílias.

 

CRIANÇAS DESLOCADAS CELEBRAM 1 DE JUNHO COM SAUDADES DE CASA

Em Cabo Delgado, cerca de setecentas crianças deslocadas beneficiaram-se de um almoço de confraternização por ocasião da passagem de 1 de Junho no centro de acomodação de Pulo, em Metuge, que fica a cerca de 50 quilómetros da capital da província.

“Hoje, estamos aqui a brincar, a cantar e dançar para festejar 1 de Junho, mas continuamos com saudades de casa”, disse Bertina André, uma criança de 14 anos de idade que fugiu de uma das aldeias do distrito de Mueda há cerca de dois anos e, hoje, vive no Centro de acomodação de Pulo.

Apesar de estarem longe das suas casas, as crianças festejaram o seu dia. “Para proporcionar um ambiente de festa, juntamos cerca de setecentas crianças deslocadas para um almoço de confraternização”, explicou Iramina Saíde da fundação SEPPA.

Desde que abandonaram as suas zonas de origem, há cerca de dois anos, esta foi a primeira vez em que as crianças deslocadas do centro de reassentamento de Pulo comemoram o dia 1 de Junho.

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