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Criadas condições para evitar “calvário” na travessia de Ressano Garcia

Foto: O País

Descentralização de balcões de atendimento, de pagamento de taxas por parte dos camionistas e escolta aos carros que levam mineiros são algumas das medidas tomadas na fronteira de Ressano Garcia, para que não haja congestionamento igual ao do ano passado.

A menos de 20 quilómetros da fronteira de Ressano Garcia, o trânsito de viaturas fluía normalmente, mas, a partir do chamado quilómetro quatro, já era possível ver fila de carros. No mesmo local (quilómetro quatro), viajantes faziam filas nas tendas de testagem rápida para o despiste da COVID-19. A maioria eram mineiros moçambicanos. Era de regresso às minas, mas nada preocupante como o calvário, uma palavra usada num dia similar ao deste domingo, para descrever o ambiente que se viveu na primeira semana de Janeiro do ano passado. O movimento migratório está flexível na fronteira de Ressano Garcia.

No princípio de 2021, havia uma fila de cerca de 15 quilómetros de carros que tentavam atravessar a fronteira de Ressano Garcia rumo à África do Sul. Grande parte das viaturas eram camiões que até ocuparam uma extensão de cinco faixas fora da estrada, mas, este ano, parece haver mudanças para que não se passe pela mesma situação.

E as mudanças são sentidas por quem, ano passado, ficou três dias entalado no congestionamento de Ressano Garcia, na tentativa de voltar ao seu local de trabalho, as minas da África do Sul. “O atendimento deste ano está um pouco melhor. Não é o mesmo que ano passado. Há filas e estão todas organizadas, nem duas horas ficamos à espera”, elogiou Sérgio Anastácio, mineiro moçambicano de regresso à África do Sul.

Sérgio Anastácio é natural de Inhambane e trabalha nas minas da terra do rand desde 2002. Como há flexibilidade no atendimento, o mineiro alimenta uma certeza de que, no ano passado, era quase impossível. “Depois de fazer o teste da COVID-19, estou a ir embora”, afirmou o mineiro, num tom de convicção.

Paulino Chemane, mineiro que estava na fila de testagem da COVID-19 de regresso à África do Sul, viveu o calvário do ano passado e, por isso, afirma categoricamente que “O atendimento está bom. Não é como no ano passado. No ano passado, estava muito problemático. Houve pessoas que ficaram três dias, mas hoje está mais ou menos. Acho que daqui, é só carimbar e alinhar na coluna de escolta e ir até à África do Sul”, apontou Paulino Chemane, mineiro na África do Sul.

Porque não há bela sem senão, há quem acha que poderia fazer-se um pouco mais. Pinto Chaúque sugere a colocação de postos de testagem em outros locais e que tal não seja, exclusivamente, em Ressano Garcia.

“Por que é que os que fazem a testagem da COVID-19 não estão instalados em vários outros pontos? Porque todos viemos aglomerar-nos aqui, em Ressano Garcia. São pessoas de Chicualacuala e outras zonas. Portanto, sabem que o Governo não nos ajuda em relação a isso. Essa é a minha reclamação, porque sou de Chicualacuala e mal dormi. Parti de lá, ontem, mas não sei a que hora sairei daqui”, reclamou Pinto Chaúque.

Um facto curioso é que quem está a fazer testagem para o despiste da COVID-19 é uma empresa sul-africana a um preço de 300 rands e não moçambicana.

Aliás, a instalação deste posto de testagem do lado moçambicano pode, igualmente, estar a contribuir para descongestionar a fronteira de Ressano Garcia.

“No ano passado, o quilómetro quatro não estava aberto e a fronteira de Ressano Garcia ficou embaraçada, porque os sul-africanos exigiam testes e havia uma grande procura, mas eles não tinham capacidade. Então, nós estamos aqui desde Abril e só vimos o problema pela televisão. De lá a esta parte, houve grandes melhorias e devo mesmo dizer que as autoridades fronteiriças estão a fazer um grande trabalho”, enalteceu Corad Barnard da HN Health, empresa responsável pela testagem em Ressano.

Depois da testagem, os mineiros não precisam de ir aos balcões da fronteira de Ressano Garcia, para terem o visto de entrada. Há, no quilómetro quatro, locais para o efeito. “Para além da paragem no quilómetro quatro, também atendemos na fronteira turística e temos o lado de pedestres. Então, temos três postos de atendimento para ver se este movimento vai fluindo de forma cautelosa”, explicou Juca Bata, porta-voz do Serviço Nacional de Migração na província de Maputo.

Juca Bata deu a conhecer, ainda, que houve desvio de viaturas para um ponto estratégico e “depois de fazer o movimento no quilómetro quatro, essas todas saem via escolta até à fronteira sul-africana. Todos os semi-colectivos são atendidos dentro da fronteira turística. Os camiões e outro tipo de veículo são atendidos no quilómetro quatro”.

As autoridades revelam, ainda, que, ao longo da EN4, a partir do quilómetro 10, foram montados amortecedores que, para chegarem até à fronteira, “também saem via escolta”.

Quando saem da escolta até à parte sul-africana, os viajantes são, também, escoltados dentro do território da África do Sul até a um ponto que não embarace a fronteira.

Indo aos números, desde o início da operação “Asanti Sana”, pelo menos pouco mais de 158 mil viajantes atravessaram as fronteiras da província de Maputo e da Ressano Garcia é que teve maior fluxo de viajantes.

“Tivemos, só no posto de Ressano Garcia, 136.424 viajantes, dos quais 100.099 de entrada e 36.325 de saída. Nas últimas 24 horas, o movimento global foi de 6.504 nos quatro postos e só em Ressano Garcia foram 5.966 viajantes. Só hoje, dia de pico, da 0h até às 10 horas, tivemos o movimento migratório de 242 de entrada e 4.922 de saída, totalizando 5.164 viajantes, destes 2.200 são mineiros”, revelou o porta-voz do Serviço Nacional de Migração na província de Maputo.

E este número é apenas 10 por cento do tal dos mineiros que se espera que atravessem a fronteira de Ressano Garcia, de volta à África do Sul. “Num universo de 17 mil mineiros mais uns sete a oito mil trabalhadores das farmas. Só que muitos deles, uma parte está de férias a regressar ao trabalho a partir dos dias 05, 10 e 15, aqueles que vieram para renovar os contratos”, disse Isaura Muianga, do Ministério do Trabalho e Segurança Social.

Ainda neste domingo, as autoridades dos Serviços de Migração e das Alfândegas saíram do conforto para monitorar de perto a flexibilidade de atendimento na fronteira de Ressano Garcia.

Outro factor que pode estar a contribuir para o maior fluxo migratório por esses dias, é a abertura, 24 horas por dia, das duas fronteiras, da África do Sul e Moçambique, algo que, no ano passado, não tinha sido acautelado pelo lado sul-africano.

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