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COVID-19: um ano, duas vagas, centenas de óbitos e milhares de infectados

O país assinala hoje um ano do registo do primeiro caso com o novo Coronavírus. Foram 365 dias de avanços e recuos, momentos de aperto e relaxamento na gestão da pandemia da COVID-19. Setembro e Fevereiro ficam na história como os meses de pico, na primeira e segunda vagas.

“O primeiro caso confirmado em Moçambique, que é uma condição causada pelo coronavírus, SARS-Cov-2, hoje no dia 22 de Março de 2020 é registado num indivíduo do sexo masculino, de mais de 70 anos de idade”. Foi com estas palavras do Ministro da Saúde, Armindo Tiago, que a contagem das infecções pela COVID-19 começou, numa data como esta, há exactos 365 dias.

O Governo já tinha se antecipado na adopção de medidas para evitar que o vírus se espalhasse rapidamente. Estavam suspensos os eventos com mais de 300 pessoas; viagens de Estado para o estrangeiro; e a quarentena era obrigatória para todas as pessoas vindas de fora do país.

Mas era preciso adoptar um instrumento com medidas coercivas, por isso decretou-se o Estado de Emergência. Nas estatísticas, no fim do mês de MARÇO, contabilizavam-se então oito casos positivos.

INFECÇÕES A UM RITMO LENTO NOS PRIMEIROS MESES

Com o decreto do Estado de Emergência, iniciava assim um período de restrições cujo objectivo passava por retardar a rápida subida dos números e proteger a vida de todos e de cada um de nós. O primeiro regime de restrição de direitos fundamentais endureceu as medidas que já estavam em curso. Suspendeu os cultos religiosos, a emissão de documentos, reduziu-se o número de participantes nos funerais e o uso da máscara tornou-se obrigatório. Abril terminou com 76 casos positivos.

Os números levaram a primeira prorrogação do Estado de Emergência. Toda a estratégia que estava a ser implementada pelo Governo visava evitar mais casos ou mortes. Entretanto, no dia 25 de Maio, ao fim de nove semanas de pandemia, a COVID-19 fez o primeiro óbito: uma criança de 13 anos que perdeu a vida na cidade de Nampula.

Os números, esses não paravam de subir. O mês de Maio fechou com 234 infecções, das quais três óbitos. Não haviam condições para o relaxamento das medidas, daí a segunda prorrogação do Estado de Emergência, numa altura em que já havia registo de casos em Cabo Delgado, Sofala, Inhambane, cidade e província de Maputo.

AS TRANSMISSÕES COMUNITÁRIAS

Em Junho, os casos positivos disparam em Nampula e a cidade capital daquela província entrava em transmissão comunitária. “Encontraram uma elevada taxa de positividade das amostras testadas que actualmente corresponde ao dobro daquilo que é a média nacional”, explicou Armindo Tiago ao fazer o anúncio.

Mesma tendência acabou por seguir a Cidade de Pemba, na Província de Cabo Delgado, a segunda zona a entrar em transmissão comunitária. A Cidade de Maputo, com altas taxas de positividade também seguiu o mesmo caminho.

E as transmissões comunitárias deram início a inquéritos sero-epidemiológicos que começaram nessas cidades e com o tempo acabaram por abranger todo país. Nas estatísticas, Junho, o terceiro mês de pandemia, fechou com um de 889 casos, dos quais seis óbitos.

DESCONFINAMENTO: AVANÇOS E RECUOS

Socialmente o medo das pessoas pela doença diminuía e com isso mantinha-se o desrespeito pelas medidas de prevenção. Ainda assim, na terceira prorrogação do Estado de Emergência, a última permitida por lei, o Governo decidiu desconfinar. “É permitida a abertura de espaços culturais como museus e galerias, com lotação limitada que permita distanciamento físico de dois metros entre os visitantes”, disse o Presidente na sua comunicação à Nação, onde anunciou igualmente a “retoma faseada das aulas presenciais”.

Mas a evolução dos números mostra que não há condições. Tinham sido registados 427 casos em apenas 15 dias. Os dados forçam o Governo a recuar, ao meio do percurso. “Manteremos fechadas as escolas a todos os níveis até que se confirmem as condições de higiene básica necessária”, disse Filipe Nyusi. No final de Julho, o Chefe de Estado colocou fim ao Estado de Emergência, passados quatro meses de restrição. A pandemia já tinha infectado 1.864 pessoas, das quais 641 recuperaram e 13 perderam a vida.

São números que obrigaram a manuntenção das medidas restritivas, mas a nova lei de gestão de calamidades públicas ainda estava em debate no parlamento. O Executivo avançou assim para um novo Estado de Emergência, em meio a críticas sobre a sua legalidade. “Por alguma razão a Constituição da República limitou de início à possibilidade de prorrogação por três vezes”, vincou Abdul Carimo.

E foi nesse novo Estado de Emergência que o desconfinamento efectivamente começou, em três fases… na 1ª com a Retoma das aulas do ensino superior, formação de professores e técnicos de saúde; na 2ª retoma em pleno do ensino técnico-profissional, cinemas, teatros e casinos; e na 3ª a retoma das aulas da 12ª classe.

SETEMBRO: O PICO DA PRIMEIRA VAGA

O desconfinamento começou em Agosto e estendeu-se até Setembro, o mês que inaugurou a Situação de Calamidade Pública mas o relaxamento das medidas foi confrontado por uma nova vaga de infecções.

Os números não davam margens de dúvidas. Se Agosto fechou com um cumulativo de 2.052 infecções, em Setembro foram diagnosticados mais 4640 casos positivos em apenas 30 dias, elevando o número total de infecções para 8556. No que diz respeito aos óbitos, em Setembro, a pandemia matou 35 pessoas, contra 23 que tinham sido registadas de Março a Agosto. Os internamentos duplicam e o Sistema Nacional de Saúde fica à beira de um colapso.

Mas as infecções não travaram o desconfinamento. Já pressionada pelo risco de congestionar o sistema, a educação retoma em Outubro com as aulas presenciais. O mês fecha com a reabertura de mais actividades: é autorizado o reinício do Moçambola, num contexto em que o país já tinha ultrapassado as 12 mil infecções e 90 óbitos.

Em Novembro, os casos sobem de 12 mil para 15.701, dos quais 131 óbitos e 13.729 recuperados. Em Dezembro, nas vésperas da quadra festiva, Filipe Nyusi anuncia mais um relaxamento das medidas, com destaque para o turismo e as actividades comerciais, com a reabertura de bares e barracas. Tinhamos 17.256 casos positivos, 15.257 recuperados, ou seja, 1.850 pacientes com a doença e 145 óbitos. Mas esta decisão acabou sendo vista como “combustível sobre uma chama ainda acesa”.

JANEIRO E FEVEREIRO: OS MESES DE MAIS INFECÇÕES E MORTES

O novo ano chegou com aquela que foi considerada a segunda vaga da pandemia em Moçambique. Os números começaram a disparar. Dos mais de 60 mil casos com que o país conta, cerca de 50 mil viriam a ser registados em apenas dois meses.

Até 13 de Janeiro, ou seja, em menos de 30 dias, os casos tinham subido de 17 para 23 mil, os casos activos de 1850 para 5.235 e os óbitos de 145 para 205. Para o Governo, a sociedade tinha relaxado daí mais um recuo no desconfinamento.

Ainda assim, as infecções não paravam de subir. De 13 a 31 de Janeiro, os casos subiram de 23 para cerca de 39 mil (38.460), as pessoas com a doença activa chegaram aos cerca de 15 mil (14.447) e, em apenas, 17 dias os óbitos subiram de 205 para 386.

As aulas presenciais, os cultos religiosos e o Campeonato Nacional de Futebol voltam a ser suspensos. A Cidade e Província de Maputo, que concentram mais de 70 por cento da doença, entram pela primeira vez na história em recolher obrigatório.

Fevereiro acaba por ser considerado o pior mês de que há memória. Em 28 dias, a COVID-19 tirou a vida a 274 pessoas, mais 73 que morreram em Janeiro (durante 31 dias). Em média, 10 pessoas perderam a vida em cada dia, contra 6 que foi a média verificada em cada dia do mês de Janeiro. Foi também o mês responsável por maior número de infectados, 20.696 novos casos, contra 20.012 de Janeiro.

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