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COVID-19: Cemitério de Michafutene realiza entre três e quatro enterros por dia

O cemitério de Michafutene, na cidade de Maputo, volta a registar enchentes devido ao aumento do número de óbitos por conta da COVID-19. Os coveiros realizam entre três e quatro enterros por dia, num total de 10 covas diariamente abertas.

Quando a pandemia da COVID-19 chegou a Moçambique, esperava-se que se controlaria a situação em dois meses, mas o tempo passou e provou-se o contrário. Em Maio de 2020, o país registou a primeira morte de uma menor de 13 anos, na província de Nampula e, no mesmo mês, o Ministério da Saúde anunciou mais um óbito, na província de Cabo Delgado.

Actualmente, o número de mortes ascende os 940 e, só nos primeiros sete dias de Julho, o país registou 56 óbitos. Desse número, pelo menos 400 pessoas foram enterradas no cemitério de Michafutene, cidade de Maputo.

A passos lentos, Eugenia Francisco caminha para a campa do seu filho de 35 anos, pai de 10 filhos, que faleceu no sábado, vítima da COVID-19, cujo enterro foi realizado esta terça-feira. Dessolada, diz que a COVID-19 matou o seu filho tão rápido que nem deu tempo para se despedirem um do outro.

“Levaram o meu filho e embrulharam-no no lençol, depois, colocaram-no num plástico e meteram-no no caixão e, sem ter havido velório, enterrámo-lo, sendo só 10 pessoas. Dói muito, por isso não esperei oitavo dia e vim hoje para poder passar este tempo com ele”, desabafou a mãe de um morto por COVID-19.

No cemitério de Michafutene, as histórias repetem-se. É no canto esquerdo do espaço reservado aos óbitos por COVID-19, onde está a primeira campa de uma vítima da COVID-19. Está lá desde Novembro de 2020 e, oito meses depois, quase que se perde no meio de tantas outras.

Segundo o administrador de Cemitério, Alfredo Faife, reservaram-se 10 hectares para o enterro daqueles que perdem a batalha para o Coronavírus.

“Temos um espaço equivalente a cinco campos de futebol e, até agora, já usámos o correspondente a dois ou três hectares. Por causa da avalanche de casos, estamos a tirar o capim e os coveiros abrem mais covas”.

Para dar conta do trabalho, o cemitério tem 10 coveiros que trabalham das sete às 17 horas e, por dia, abrem 10 covas, conforme explicou Alfredo Faife.

“Em cada enterro, trabalham dois coveiros. Eles fazem covas e deixam-nas como reserva para, quando a urna com o corpo chegar, os familiares não levarem muito tempo, porque devem ficar, em média, entre 15 e 20 minutos”, avançou.

Na presença do “O País”, chegaram três carros contendo urnas das vítimas da COVID-19, numa altura em que a média de enterros é de três a quatro por dia.

João Alberto é coveiro e, por ironia do destino, começou a exercer a profissão em Fevereiro, no pico da pandemia. Conta que, na altura, houve dias em que ajudou a enterrar até 10 pessoas.

“Esta doença é grave; em Fevereiro, vi o que nunca tinha visto, no início tive medo e ainda tenho, mas não posso fugir, este é o meu trabalho”, contou o coveiro.

Segundo conta, para realizar os enterros das vítimas da COVID-19, devem estar devidamente trajados, para evitar que sejam infectados, o que alivia o medo de contrair a doença.

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