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Continua venda de álcool nos arredores das escolas em Maputo

Foto: O País

Quase 10 anos depois da aprovação da lei que proíbe a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nas escolas e nas proximidades de instituições de ensino, a prática continua. Só no primeiro trimestre deste ano lectivo, foram reportados 18 casos de alunos envolvidos em consumo de drogas, oito dos quais foram expulsos.

Aldo Nhamposse, que tem 16 anos de idade e frequenta a décima classe na Escola Secundária da Polana, teve o seu primeiro contacto com o álcool em convívios familiares quando ia provando as sobras dos copos. E foi desenvolvendo a prática. Pouco tempo depois, começou a consumir com amigos e colegas na escola. O aluno conta que, quando decidiu deixar o vício, enfrentou a tentação do corredor da morte.

“Colocavam um líquido num pano e convidaram-me para ir inalar, alegando que ia ajudar-me a ter ânimo para as aulas de Educação Física, mas eu recusei. Um meu amigo tentava convencer-me a consumir com ele, mas continuei a recusar”, contou Aldo.

“Corredor da morte” é um nome atribuído a uma das partes da Escola Secundária da Polana. No local, alunos juntam-se para fumar, consumir bebidas alcoólicas e outras drogas. O local é tido como local perigoso, à medida que, depois do consumo de drogas, os alunos intimidam quem passa, incluindo professores.

No “corredor da morte”, pequenas gangs disputavam a supremacia e controlo do local como se de um território que precisasse de ser conquistado se tratasse. Elki Francisco, também estudante naquela escola, explica como funcionava.

” Sempre que passasse daqui, encontrava pessoas aos grupinhos aqui a fumar e a bebe. Todas as sextas-feiras havia lutas na escola “.

O director da escola, Filipe Alfiado, explica que o corredor da morte foi uma criação de alunos que se aproveitaram do afastamento do local para fumar, beber e outras práticas fora da disciplina. O corredor da morte já ganha novo rosto, os grafites que ostentavam os nomes das referidas gans, dão espaço a um branco de remodelação e mais, detalha o director.

” Colocamos lá uma sala de aulas. No mesmo local temos uma biblioteca e um lugar onde os alunos praticam aulas de produção agropecuária e ainda o gabinete do polícia interno, porque nós temos um polícia que nos ajuda”.

O mau comportamento de alunos derivado do consumo de álcool e outras drogas é um assunto que continua a preocupar a sociedade moçambicana a todos os níveis.

O Ministério da Educação alocou a polícia para ajudar as escolas a fazer o controlo e de acordo com dados dessa unidade, só no primeiro trimestre deste ano lectivo, dois estudantes forram expulsos da Escola Secundária da Polana e outros seis na Escola Secundária Josina Machel, na cidade de Maputo.

Em algumas escolas problemáticas alocamos um polícia, chefe de sector, em casos de encontrarmos alunos a consumirem drogas e outros estupefacientes, entregamos o caso a direção da escola e de lá são tomados os passos subsequente” explicou Vladimiro Muchabje, do departamento de Policiamento comunitário na Cidade de Maputo.

O Director da Escola Secundária Josina Machel, Orlando Dimas, diz que o problema do consumo de álcool e outros tipos de drogas é muitas vezes atribuído as instituições de ensino, como se fossem as responsáveis pelos comportamentos derivados da prática, o que a seu ver não deveria ser dessa forma, pois considera ser um problema social.

” Se quisemos atacar o problema de consumo de álcool, temos que atacar na generalidade, olhando para a estrutura da sociedade e questionar o que tem feito. Será que somos bons exemplos? Como pais, será que não somos nós mesmos que incentivamos os nossos filhos quando nos dias de festa somos nós que dizemos que podem tomar um pouco porque o ambiente é festivo?”, questionou.

Sobre este argumento, a psicóloga Selma Ricardo explica que a proximidade entre as escolas e estabelecimento de venda de bebida alcoólica pode ser um factor de influência.

“O problema não está apenas no consumo, mas no acesso. As crianças não bebem nas barracas, andam com bebidas e drogas nas pastas, elas têm pontos e sítios para fazer isso nas escolas. Não temos como ter uma lei operacional com este tipo de dificuldades. Antes de criarmos uma lei, temos que apurar se temos ou não condições fazer cumprir aquela lei, porque do contrário, é apenas um papel.”

Em Setembro de 2013, o Conselho de Ministros aprovou um regulamento que no número um do seu quinto artigo, alínea e) declara que:

“É proibida a venda e consumo de bebidas alcoólicas nas escolas e nas imediações dos estabelecimentos de ensino. (citação directa /grafismo)”. Sendo que entende Imediações de escolas como “a distância de 500 metros ao redor das escolas”.

Mas, o cenário em algumas escolas contradiz a lei. A Escola Secundária Estrela vermelha é disso exemplo. A menos de 100 metros, no mercado Estrela, bebidas alcoólicas são comercializadas sem nenhuma atenção ao facto de ter-se uma escola em frente.

No caso da Escola Secundária Josina Machel, a polícia tentou em 2018, encerar as barracas, mas, não teve sucesso.

Estre as escolas tidas como problemáticas, destaque vai para as secundárias Josina Machel, Estrela Vermelha, Polana, Francisco Mayanga e Kisse Mavota.

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