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Chacina na Reserva do Niassa: 17 mil elefantes abatidos em oito anos

O elefante corre risco de extinção na Reserva Nacional do Niassa. A expressão resume a consequência mais visível de uma chacina. Foram oito anos de devastação da população de elefantes na maior área de conservação de Moçambique e que ameaçam a conservação de biodiversidade no ecossistema com potencial para se tornar a maior área de conservação transfronteiriça do mundo.

A Reserva do Niassa, localizada nas províncias de Cabo Delgado e Niassa, compreende uma superfície total de 42 300 quilómetros quadrados, duas vezes o tamanho do Kruger National Park da África do Sul. Entretanto esta imensidão de área de conservação tem apenas cerca de 400 fiscais. Por outras palavras um fiscal está para 100 km 2, o que torna a missão mais complicada.

É em resultado dessa fragilidade e do crescimento da pressão internacional do crime organizado sobre o marfim, que os últimos anos foram de matança de elefantes. De acordo com dados locais do mapeamento, em 2009 existiam 20 118 elefantes na reserva mas até 2016 restavam apenas 3 675. Equivale dizer que em apenas oito anos foram mortos 16 360 elefantes, na área de conservação de maior número de animais no país.

Um dos episódios mais ousados aconteceu em Dezembro do ano passado, quando os furtivos abateram uma família de sete elefantes a menos de 10 quilómetros do acampamento-base da Reserva e os fiscais só conseguiram chegar ao local depois de 24 horas. Era período chuvoso e além da dificuldade de circular pelas estradas de terra batida, a equipa não tinha barcos para atravessar um rio, cujo caudal estava alto.

“Quando chegamos encontramos as carcaças. Já tinham extraído todas as pontas de marfim e ido embora. Só deixaram cornos de um elefante jovem”, explica José Sitoe, Chefe da Fiscalização da reserva, destacando sua preocupação do crescimento da pressão àquele mamífero. “A tendência deles é de abater tudo que encontram pela frente. Não há tendência de pautar pela qualidade, o que lhes faria pelo menos preservar os elefantes mais jovens”, termina.

A formação de fiscais é desde 2012 a grande aposta da Reserva Nacional do Niassa, através da sua parceria com a Wildlife Conservation Society – WCS – para o combate ao abate desenfreado de recursos faunísticos. De 2012 a esta parte, a força de fiscalização cresceu mas ainda está muito aquém do número ideal para proteger a área.

Entretanto, os gestores da Reserva classifica 2018 como um ano relativamente calma em termos de abate do elefante. No acampamento de Mbatamila, sede da reserva existem cornos de marfim, armas de fogo, armadilhas e outros equipamentos de caça resultado do trabalho feitos nas matas, pelos homens que juraram lealdade na defesa dos recursos.

Os tanzanianos são apontados como os maiores ameaçadores dos animais e, como medida de combate, levaram ao reforço da fiscalização ao longo do Rio Rovuma, que serve de linha de fronteira entre os dois países, além da identificação da aposta no controlo de movimentos estranhos nas principais áreas de existência dos animais.

Outras espécies como o leão, o mabeco – cão-selvagem – também estão em risco e exigem maior esforço de fiscalização.

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