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Calaram-se as vozes…buscam-se culpados pelo assassinato

Alguns vendedores do mercado grossista do Zimpeto, na cidade Maputo, apontam a fraca segurança como um dos factores que facilita a acção de malfeitores naquele local. As acusações surgem em reacção ao assassinato de dois vendedores no último fim-de-semana.

De forma cruel a morte chegou nas famílias Saraiva e Guambe! Na última sexta-feira, Milagrosa Saraiva e Roberto Guambe foram assassinados por indivíduos e motivos até aqui desconhecidos.

Na casa de Milagrosa, os cânticos fúnebres e abraços tentam consolar quem de noite para o dia perdeu seu ente querido. Quanto mais se cantava, as recordações da finada vinham à memória e as lágrimas, sem excepção, inundam os olhos dos enlutados.

“Ela deixou esses filhos, um dos quais é doentio. Com quem ficarão?”, questionou Martilho Riquissa, cunhado da finada, tendo de seguida olhado para cima, buscando resposta para sua pergunta que, no fim, auto-consolou-se: “É um abismo que não vale a pena. Por mais que passem tantos anos nunca chegará ao fim”, disse num tom amargurado.

Carlos Guambe, pai de Roberto, adolescente assassinado com Milagrosa, não tinha palavras para descrever o que sentia.  

“Perdi muita coisa com a morte do meu filho. Perdi uma herança. Não o que ele se tornaria no futuro, mas perdi”, afirmou Carlos Guambe, pai do adolescente assassinado, com uma voz trémula, como quem quer chorar e só não o tenha feito porque, “homem não chora” e ressalvou que seu filho nunca o decepcionou porque era pregador da palavra de Deus.

Muito dedicado à igreja, Roberto abandonou a escola e porque "nem só da palavra viverá o Homem" ele queria ser polícia.

“Ele dizia que queria treinar para se tornar polícia e eu, como pai, sempre procurava incentivá-lo para lá entrar, uma vez que dificilmente perde-se emprego no aparelho do Estado”, recordou Carlos Guambe, com um sorriso tímido, tapado pela tristeza.

E por ser temente a Deus, o justo é deixar o seu destino nas mãos do altíssimo, mas os amigos ainda não sabem por onde recomeçar… “Não sei se vou conseguir, na verdade, lidar com essa perda. A triste realidade de que não verei mais o meu amigo”, desabafou Flávio Ernesto, amigo do adolescente, secundado pela tia de Roberto que prefere afirmar que “o que aconteceu é obra de Deus. Ninguém discute com Deus. A vida não pára. Nós vamos realizar o funeral e vamos caminhar, mas a dor vai continuar”, reconheceu Leopoldina Guambe, tia do finado

E porque a vida não pára, enquanto hora-se e lamenta-se nas famílias enlutadas, o negócio decorre, normalmente, no mercado anexo do Zimpeto.  

Contudo, a direcção do mercado não ignorou o que aconteceu, mas continua sem explicações do que sucedeu e reitera que não conhece as vítimas.

“Nós queremos saber como aquelas pessoas foram parar naquele armazém. Dizem que estar a ser arrendada, mas nós não tivemos o conhecimento. Alguém quando prender arrendar estabelecimento deve vir nos anunciar e isso não aconteceu”, sublinhou Alex Zimba, chefe do mercado anexo do Zimpeto, acrescentando que isso não significa isenção da sua responsabilidade tanto que faria uma contribuição de produtos alimentares que poderão ser canalizados para as famílias enlutadas.   

Aliás, há no mercado, 09 seguranças que garantem a protecção de pouco mais de 2500 vendedores e seus bens. Contudo, na noite do assassinato, apenas três estavam de serviço.

“No dia que se percebeu que havia acontecido isso no domingo, eu estava na igreja e corri, de imediato, para o local. Os que trabalharam no período da noite, não chegaram de saber sobre o assassinato. Quando entregaram o relatório, disseram que houve nenhuma barraca arrombada e só nos apercebemos disso através dos familiares que acorreram ao local”, revelou Alex Zimba, chefe mercado anexo do Zimpeto.

No local do assassinato, o silêncio era predominante e assustador. E o silêncio no local não incomodava a todos. Tanto que alguns aproveitavam as obras ainda em construção para tirara uma soneca.  

Em meio ao silêncio, um dos proprietários dos armazéns desabafa e aponta as prováveis causas do assassinato ocorrido na última sexta-feira. “Nesse mercado, uma vez que não há iluminação no período da noite entram pessoas duvidosas. No fim deste corredor onde foram assassinadas as duas pessoas, existem uma barraca onde se bebe até a altas noites e são pessoas estranhas e muitos deles são drogados”, desembuchou um dos proprietários de armazém na condição de anonimato.   

E a fonte vais mais longe e aponta os gestores do mercado como os responsáveis pelos desmandos. “Tem que existir uma estrutura que está a funcionar em pleno e fazer o trabalho como deve ser para evitar o que acontece neste sítio. As pessoas que estão aqui, só o chefe da comissão nunca saiu do seu escritório para falar com os vendedores. Nunca!” denunciou a fonte.
Enfim… Enquanto choram as famílias, a polícia, quando contactada pela nossa reportagem, deu a resposta de costume: daremos uma explicação sobre o caso oportunamente.

 

 

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