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Cabo Delgado é terra de oportunidades, mas também de muitos desafios

Para além do mar com gás, há “espinhas” entre as “rosas” de oportunidades de que tanto se vende quando o assunto é Cabo Delgado. Isso mesmo: a crise fez muitas empresas fecharem as portas, outras dispensarem os seus recursos humanos, os da indústria hoteleira e de restauração estão de rastos, até os pequenos produtores de frango reclamam dos elevados custos de produção e da falta de um matadouro para processar o frango de corte para poderem aceder aos médios e grandes supermercados de Pemba.

Comecemos pelos grandes

Fábio Spetrini deixou Itália e rumou para Moçambique com a STL Oil & Gás Services, Lda. Há seis anos presta serviços de logística, desalfandegamento, transporte e de manutenção industrial. A crise não faz parte do maior problema porque as oportunidades que encontrou superam qualquer desafio. “Temos uma história de trabalho com a ENI há muitos anos e em vários lugares do mundo”, regozija-se Spetrini e prepara as máquinas com os olhos postos nos projectos que estão préstes a arrancar. “Esperamos conhecer bem o ambiente e as empresas que serão integradas nesse grande projecto de desenvolvimento da ária 1 e da área 4”, refere-se à expectativa do seminário do oportunidades locais que se realiza amanhã em Pemba e diz, orgulhoso, que na sua estrutura accionista está um moçambicano com 33%, sem contar com os mais de 30 trabalhadores nacionais empregues.

Sorte diferente tem o engenheiro mecânico nascido na Ilha de Moçambique, em Nampula, que há 20 anos deixou as máquinas para servir os clientes no seu restaurante que está separado das águas cristalinas da Baía de Pemba por escassos metros só. Chama-se Humberto Nazaré. “Houve um decréscimo, mas nota-se uma certa tendência de recuperação e esperamos em breve atingir os níveis normais que sempre foram normais”.

Um homem modesto, de passos mais lentos, acostumado a conversar com muita gente. É nessas conversas que soubemos que no fundo o negócio não vai bem e entende-se porquê: os mariscos estão mais caros porque os chineses os compram vivos dos pescadores ainda no mar; os produtos, muitos deles que usa na cozinha, não são produzidos localmente, para além das passagens da nossa companhia aérea de bandeira em que de Maputo a Pemba e regresso não custam menos de 40 mil meticais. Tudo isto numa conta, o resultado não podia ser diferente: há cada vez menos turistas.

Ao som ambiente dos frangos da sua capoeira construída de pau a pique, encontramos o jovem Francisco Sambo que tenta dar os primeiros passos na avicultura. “A produção mensal é de dois mil frangos e consigo vender”, garante. Entretanto, de seguida lamenta-se: “Aqui em Cabo Delgado não temos matadouro por isso não vendemos o nosso frango nos supermercados. Mesmo o plástico que uso para o frango que preparo quando me solicitam vem de Maputo”.

Associado a isso, está a falta de uma fábrica de produção de ração, quando bem ao lado, na província do Niassa, produz-se soja que vai para o Malawi e Tanzânia ao desbarato. Faltam, outrossim, incubadoras para a produção de pintos, pelo que compram em Nampula, Manica ou Maputo.

Enfim, esta é apenas a fotografia de uma província que oferece oportunidades, desafios e oportunidades que podem ser geradas a partir das dificuldades actuais.

 

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