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Brazão Mazula compara “intriguistas e fofoqueiros” do Facebook a assassinos

Brazão Mazula considera que os discursos de ódio propalados nas redes sociais são um atentado para à democracia no país. O académico exigiu que a sociedade não fique indiferente a esse fenómeno que põe em causa o bom nome das vítimas e contribui para o descontentamento social.     

 

Num evento organizado pelo Instituto para Democracia Multipartidária (IMD) e que contou com a presença do vice-ministro da Justiça Assuntos Constitucionais e Religiosos, Filimão Suazi, o primeiro presidente da Comissão Nacional de Eleições chamou de intriguistas e fofoqueiros, os indivíduos que espalham discursos de ódio nas redes sociais.

“No nosso país há pessoas que se especializam em intrigas e fofocas, são geralmente incompetentes nas suas profissões, apresentam-se como sem profissão alguma, ou estão colocados em profissão mal acertada. E para singrar na vida, na primeira oportunidade que tem de se encontrar com o chefe, fala mal do colega ou da pessoa alvo, mancha a sua imagem e dignidade. Eles tudo fazem para convencer o chefe a tirar-lhe o seu posto de trabalho, para que ele possa ocupar o lugar ou possa passar o posto a um familiar seu”, detalhou para depois reiterar que “inventam todos os defeitos possíveis e mais alguma coisa”.

O académico disse ainda que esses indivíduos não têm coragem de debater frontalmente as ideias e se refugiam nas redes sociais. “Eles usam e abusam das redes sociais, como o Facebook, para colocar as suas escritas e evitam o confronto de ideias porque têm consciência de que não sustentarão racionalmente as suas intrigas e fofocas”.

Brazão Mazula usou alguns episódios de um passado recente para revelar preocupação com o estágio da nossa democracia. “Custa entender que se pense, se planifique a morte de alguém ou a danificação de um órgão de comunicação social, como o que se sucedeu com o Canal de Moçambique, só porque pensa diferente”, lamentou o antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane para depois fazer um paralelismo. “Os esquadrões da morte matam com uma pistola ou uma AK47 e os intriguistas e fofoqueiros que são maliciosos e vingativos, matam com a língua”, comparou o académico continuando com a caracterização dos modus operandi do referido grupo. “Estão sempre em tensão alta quando falam, se o chefe ou o dirigente não for ponderado, exonera ou demite o indivíduo mal visto e nomeia o intriguista e fofoqueiro. Não percebe que no fundo da fofoca e da intriga está a inveja e a vingança. Os esquadrões da morte passeiam pelas ruas das cidades e vilas à caça da vítima, ostentado poder e impunidade. Já os intriguistas e fofoqueiros passeiam no ar com drones imaginários para fotografar os defeitos dos seus alvos. Tanto os esquadrões da morte, assim como os intriguistas e fofoqueiros matam a democracia multipartidária. Tanto eles, como os seus mandantes e patrões rasgam a Constituição da República”.

Para acabar com esses fenómenos, principalmente do grupo que actua através das redes sociais, o estudioso pediu o envolvimento de toda a sociedade. “Não podemos ficar indiferentes aos fofoqueiros e intriguistas por não só mancham a imagem, a honra, dignidade e a credibilidade do outro, como contribuem para a exclusão e descontentamento social”.

 

TOMÁS VIERA MÁRIO DEFENDE REDUÇÃO DOS PODERES DO PR

Por seu turno, o jornalista Tomás Vieira Mário defendeu que os poderes do Chefe de Estado contribuem para que haja atropelos à Constituição. O também orador do evento disse que caso cenário não mude, o país corre o risco de resvalar num governo autoritário.

“O Presidente da República tem poderes vastos e, por conseguinte, o equilíbrio dos poderes soberanos está muito mal colocado. O Chefe de Estado nomeia outros órgãos soberanos. Esta situação traz-nos a hipótese de que é muito provável que possa existir um regime autoritário no nosso país, porque temos um poder acumulado numa só pessoa. Associado a isso, temos um parlamento com funções muito debilitadas pela força do partido político no poder. Neste cenário, o Presidente da República não presta contas a ninguém”, detalhou o activista para voltar a realçar o mal que esta situação representa. “Temos o caso das dívidas ocultas. Elas foram contraídas de forma secreta. O Presidente da República e os Serviços Secretos fizeram um plano e endividam o país sem consultarem a ninguém. Por isso, defendo que se reduzam os poderes imperiais do Presidente da República.”

Noutro desenvolvimento, o presidente do Conselho Superior da Comunicação Social lamentou o facto do poder dos partidos políticos ser superior a do parlamento moçambicano. “Vários estudos afirmam que a Assembleia da República não tem sido o palco onde decorrem os debates mais importantes da vida do país. Os debates acontecem no partido que comanda o parlamento ou são liderados pelos presidentes dos partidos”, concluiu.

Já o cientista Político Frei Alfredo Manhiça falou de algumas condicionantes que podem contribuir para democratização dos estados. “Se no interior dos partidos políticos não há a verdadeira democracia, isto é, na forma como se articulam as relações entre as elites, dificilmente se pode democratizar um estado. Onde há violência civil, onde a ideia do outro é combatida, não há espaço para o florescimento da democracia porque a ideia é de eliminar todos os que pensam diferente. É importante que as elites políticas estejam comprometidas com a democracia”.

Os intervenientes falavam, hoje, numa mesa redonda de celebração dos 30 anos da democracia multipartidária em Moçambique.

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