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Belmiro Simango: de “frangueiro” a campeão de áfrica

A sua história desportiva começa como guarda-redes do Indo-Português, por alturas de 1968, e o apogeu é alcançado em 1986, já como basquetebolista ao serviço do Maxaquene, quando, na qualidade de campeão de África, tomou parte no Mundial de clubes, em Barcelona. Em 1975, após uma verdadeira “debandada” dos principais jogadores que davam corpo à modalidade e já com estatuto de estrela, ajudou a “reconstruir” o basquetebol nacional, praticamente a partir do zero.

“Polícia” do mais alto do mundo
A jogar a poste ou a extremo, a sua enorme mão ditava as leis. Por isso, chamavam-lhe o Sr Manápula, o que podia ser lido em dois sentidos: por ter uma mão enorme, mas também devido ao facto de ser um “muana-wa-npula”, isto é, natural de Nampula.

Foram muitas as noites em que Belmiro Simango deu alegria aos maxaquenenses e aos moçambicanos em geral, devido às vezes em que envergou a camisola da selecção nacional. Porém, marcar Cizonenko terá sido um dos momentos marcantes. Nunca antes se sentiu tão “txote”, pois o ucraniano, o mais alto basquetebolista do Mundo de todos os tempos, acima de Ming ou Shaq O’Neal, media 2,34 metros.

A caminhar e a jogar, “ti-Simas” era invulgar: tinha uma curvatura da coluna para frente que, de alguma forma, escondia a sua real altura. Porém, detinha uma enorme capacidade para esconder a bola numa só mão, para depois a direccionar para onde entendesse. As armas principais: grande impulsão e bom tempo de salto. Debaixo das tabelas, esperava o momento certo para “voar” e apoderar-se da bola. Depois, vinha a opção: umas vezes iniciava de imediato o contra-golpe – acompanhado pelo seu vozeirão de incitamento – e noutras guardava, bem segura, a “redondinha” para iniciar jogadas pausadas.

Percursor de uma nova era
Até 1975, não havia grande tradição de se jogar basquetebol entre os jovens suburbanos que passaram a descer à cidade de cimento. Simango, Vítor Morgado, Cobra e poucos mais foram os percursores. Chegaram, inclusivamente, a criar um departamento de basquetebol num clube suburbano, o Beira-Mar, para lançar novos hábitos na periferia da cidade. A semente frutificou e, com o sentimento de missão cumprida, Belmiro Simango regressou ao clube do seu coração: o então Sporting, hoje Maxaquene.

E foi assim que, depois da “tempestade” provocada pela saída dos jogadores e técnicos mais influentes, veio a bonança. E de que maneira. É que, em 1979, jovens talentosos como os irmãos Moiane, Ernesto Júnior, João Chirindza, Ernesto Gomes, Claudino Dias e outros fizeram do Maxaquene um campeão quase crónico. Foi sempre a subir. Primeiro grande feito foi a vitória sobre o Zamalek do Egipto, na Liga dos Campeões Africanos, digamos, a “gazua” que abriu as portas do Continente. A partir de então, Maxaquene, Desportivo e a própria Selecção Nacional passaram a marcar presença regular nas grandes provas africanas.

O pavilhão “tricolor” registava as noites mais vivas e entusiásticas da sua existência, com longas filas para comprar bilhete, dois ou três dias antes dos grandes jogos…

Campeões africanos e presença no Mundial
Foi em Abril de 1985 que a equipa principal do Maxaquene conquistou o título de campeão africano de basquetebol, em masculinos. O feito, que fica gravado na história do clube e do país em letras de ouro, foi conseguido no majestoso pavilhão do clube, que registou enchentes nos dias em que a prova decorreu.

A turma moçambicana, orientada pelo norte-americano Chuck Skarshug, estreou-se diante do AS Police do Senegal, até então campeão africano, vencendo por uma margem tangencial. Seguiu-se o Kano Pillars da Nigéria e o nosso representante baqueou, sendo derrotado por 75-62.

Devido ao resultado entre os contendores, a final dirimiu-se entre o Maxaquene e o ASFA, do Senegal, em noite de todas as emoções.

Resultado: Maxaquene, 79-ASFA, 74

O jornal notícias, na edição do dia seguinte, titulava: “Acorda, irmão! Somos campeões africanos”. Alguns dos heróis deste feito: Carlos Aik (treinador adjunto), Belmiro Simango (capitão e número 4 na foto acima), Aníbal Manave, Claudino Dias, Horácio Martins, Ernesto Gomes, Firmino Moiane, João Chirindza e José Moiane.

Em Junho do ano seguinte, os novos campeões nacionais participaram, em Barcelona, no Mundial de clubes, prova ganha pelos anfitriões.

 

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