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Basquetebol e boxe: vencendo o coitadismo

O mês de Fevereiro deverá entrar para a nossa história desportiva recente, por motivos que chamaram à atenção aos observadores mais atentos. Os atletas do basquetebol e do boxe, enfrentando potências com claras, visíveis e mensuráveis diferenças, “olhos nos olhos”, deram um sinal de superação, cada vez mais ausente no dia-a-dia da vida dos moçambicanos.

Utilizando palavras de Mia Couto, venceram o coitadismo!

 

Basquetistas: estilosos e garbosos…

Exibindo uma altura e musculatura trabalhadas, sem complexos, sabendo ao que iam, os nossos basquetebolistas, com uma mescla de juventude e experiência, lançaram uma forte mensagem de esperança para o futuro. Falava-se antes “só” na aposta nos femininos, mas os masculinos, mostrando “que os têm no sítio” impuseram-se nas eliminatórias africanas ao mais alto nível .

O Pavilhão do Maxaquene vibrante, afinal não estava meio vazio, pois os apoiantes, patrioticamente unidos à família dos rostos do passado, demonstraram querer continuar a dizer presente! A Inhaki Garcia e seus dois adjuntos, tem que ser debitada uma boa dose de mérito do sucesso, pelo treinamento propriamente dito, mas sobretudo pela forte acção da componente psicológica.

 

Punhos não se medem aos palmos

E o boxe? De modalidade triste e semi-abandonada, sobrevivendo graças à dedicação dos antigos internacionais que criaram academias sustentadas praticamente com recurso ao “estou pidir”, para substituir a indiferença de alguns dos tradicionais clubes da modalidade… de repente: “bum”.

Espectáculo, público novo, patrocinadores, luz, glamour e combates. E o que se pensava que era apenas para consumo interno, deu para conquistar um título africano zonal.

Espantou o sector feminino. As nossas representantes (com)provaram que não sobem ao ringue para “porrada entre mulheres”, mas para jogar com lealdade, um desporto que exige muita disciplina e treinamento, senão… paga-se com o físico.

Claro que este salto tem a ver com um nome: Gabriel Júnior – que na modalidade até parece ser um sénior – pela forma como conseguiu (re)motivar as antigas glórias, revertendo insensibilidades do empresariado para um jogo que muito rejeitam, sem mesmo o conhecerem por dentro.

 

Sinais encorajadores

Perante um fracasso ou sucesso, não devamos passar de bestas as bestiais. Aqui está-se a falar apenas de importantes sinais, que contrariam uma realidade nacional de derrotismo e conformismo. A quase ausência de espírito ganhador, o “xa fana” (é igual) que cada vez mais comanda o nosso desporto e as nossas vidas.

Nas duas jornadas em referência, sem serem necessários decretos, os citadinos de Maputo, “envergaram” os símbolos nacionais e apoiaram, de forma incondicional, as nossas cores.

Se alguém punha em dúvida a possibilidade de subalternizarmos diferenças partidárias ou regionais, quando o que está em causa é o nome de Moçambique, a prova foi concludente.

E os atletas, meus senhores, deixaram claro que, mesmo em período de crise, se podem colocar em sentido potências com outro patamar de condições.

 

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