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Bancos “fintam” COVID-19 e navegam em lucros

Sólidos, robustos e rentáveis é como estiveram três bancos comerciais da praça, no ano passado, embora grande parte das empresas privadas tenha anunciado grandes perdas devido à pandemia. Todos – o BCI, o Standard Bank e o Absa Bank Moçambique – fintaram a crise e tiveram lucros, diga-se, fabulosos.

Começamos pelo último banco a anunciar os seus resultados financeiros, o Standard Bank. Fê-lo hoje, em conferência de imprensa. Segundo o banco, 2021 foi mais um ano de resultados muito positivos.

“Tivemos um resultado líquido de perto de cinco mil milhões de Meticais, resultado apenas 9% abaixo de 2020 e que teve impacto nalguns itens não recorrentes, esperando-se que, no futuro, não terão impacto na nossa economia”, anunciou o administrador delegado da instituição bancária, Bernardo Aparício.

Segundo o gestor, o resultado líquido permitiu ao banco atingir um retorno dos capitais próprios aos accionistas de cerca de 16,6%, que considera bastante robusto.

“Nós consideramos que este resultado é bastante positivo face aos impactos que tivemos em 2021, em termos da pandemia e seus impactos na actividade económica, no nosso caso, quer do lado das receitas, quer na linha de custos”, considerou Bernardo Aparício.

Entretanto, o banco reconhece que, durante o ano 2021, muitos dos seus clientes, com destaque para empresas, tiveram uma redução significativa da sua actividade, porque muitas economias se fecharam devido ao confinamento, tendo muitas matérias-primas e outros produtos ficado escassos e mais caros.

“Os bancos tiveram um papel fundamental para assegurar que estas empresas conseguissem passar por esse período difícil e conseguissem continuar a sua actividade”, explica Aparício, que assumiu a pasta de administrador-delegado após o seu antecessor ter sido suspenso pelo banco central por irregularidades.

No ano passado, o banco diz ter tido uma iniciativa muito importante com as pequenas e médias empresas, como forma de acelerar os seus negócios.

“Entregamos prémios no valor de 18 milhões de Meticais para ajudar as pequenas e médias empresas a revitalizarem os seus negócios e esta foi uma oferta feita sem qualquer contrapartida”, assegurou o administrador-delegado do Standard Bank.

Para a redução dos lucros do banco de 2020 a 2021, contribuíram, também, as despesas com a pandemia, quer os investimentos na tecnologia, para criar condições de trabalho no novo normal imposto pela pandemia, quer o apoio aos colaboradores para minimizar os custos que tiveram com a pandemia.

Já o responsável da área financeira do Standard Bank, Samuel Covane, explica que o banco, à semelhança de outros, comerciais, apreciou as medidas tomadas pelo regulador no ano passado como forma de ajudá-los a encarar a crise instalada pela pandemia da COVID-19.

“Vimos o banco central a ajustar aquilo que é a nossa principal referência, a MIMO, em 300 pontos base para os 13,5%, com os quais nós fechamos o ano 2021. Da mesma forma, o banco central ajustou as reservas obrigatórias em moeda estrangeira de 34,5% para 11,5%. Essa medida, de alguma forma, trouxe um alívio em termos de disponibilidade de liquidez no sector bancário. Os bancos tiveram maior liquidez para investir em activos remunerados”, explicou o director de reporte financeiro do Standard Bank.

No concernente ao câmbio, o banco lembra que “iniciamos o ano 2021 com a taxa de câmbio em relação ao dólar de 74,9 Meticais. Logo no primeiro trimestre, tivemos uma descida drástica da taxa de câmbio para níveis de 50 a 55 Meticais. Mas, depois, estabilizou a partir de Junho e, até hoje, manteve-se controlado nos 63 a 64 Meticais. Mas, se olharmos para a tendência, a variação anual, de facto, tivemos uma redução da taxa de câmbio em relação ao dólar de 15%”, explicou Samuel Covane.

Outro factor que ajudou os bancos comerciais foi o alívio das reservas obrigatórias de 34,5% para 11,5%, no ano passado, tendo permitido ao Standard Bank investir o dinheiro daí resultante para financiar a sua carteira de crédito.

“Da mesma forma, à medida que os bilhetes de tesouro que nós tínhamos na nossa carteira dos investimentos financeiros iam maturando, essa liquidez adicional era investido em activos de maior taxa de remuneração, nesse caso, os nossos créditos e as nossas aplicações e isso serviu para atenuar o decréscimo ligeiro de dois por cento da nossa carteira de depósitos”, esclareceu o gestor financeiro.

STANDARD BANK CONTINUA SUSPENSO NO MERCADO CAMBIAL INTERBANCÁRIO

O desempenho financeiro do Standard Bank em 2021 também foi influenciado pela sua suspensão no mercado cambial interbancário pelo Banco de Moçambique e a respectiva multa aplicada, mas, segundo a administração do banco, o peso dessa medida não foi grave.

Segundo o administrador-delegado, com a decisão do regulador do sistema financeiro nacional em suspender o banco comercial por um ano, seguiu-se uma lista de acções a serem realizadas pelo Standard Bank, para sanear as deficiências encontradas.

“Na sequência do saneamento de algumas dessas deficiências, incluindo a nomeação de um novo administrador-delegado e outras posições relevantes do banco, o banco foi autorizado a continuar os seus serviços de clientes em moeda estrangeira, porque os nossos clientes não têm que sofrer o que sofreram durante um mês e meio que tiveram algumas restrições para operar connosco”, explicou Aparício.

Entretanto, nem tudo foi resolvido pelo banco comercial após a descoberta de irregularidades pelo Banco de Moçambique. Continua a suspensão do banco no mercado cambial interbancário.

“Já lá vão nove meses. O que foi levantado foi a suspensão de nós fazermos operações com os clientes e não nos foi levantada a suspensão no interbancário. Na altura, anunciaram 12 meses e esperamos que seja isso”, disse o administrador-delegado do Standard Bank.

Actualmente, o Standard Bank diz que tem estado a trabalhar muito próximo do banco central no sentido de sanear todos os problemas que foram identificados, uma actividade que leva o seu tempo, porque há coisas que têm de ser alteradas na sua actuação.

“Estamos à espera de um momento em que o banco central esteja confortável em relação às alterações que fizemos para podermos voltar também ao mercado interbancário”, esclareceu o administrador-delegado.

Questionado sobre o facto de o Standard Bank não ter recorrido da decisão de suspensão tomada pelo Banco de Moçambique, o gestor explicou que essa alternativa foi tomada como a melhor.

“Há pontos identificados pelo banco central, e o banco (Standard Bank) decidiu que a única maneira é trabalhar sobre eles para os melhorar. Para melhorar os nossos processos, para melhorar os nossos controlos e é isso que temos vindo a fazer nos últimos 12 meses e continuamos a fazer”, disse Aparício.

BCI ALCANÇA LUCRO DE 5.203 MILHÕES DE METICAIS EM 2021

Numa nota de imprensa enviada à nossa Redacção, no dia 18 de Abril, o BCI refere que, embora o ano 2021 tenha continuado a ser marcado pelos impactos negativos da COVID-19, com destaque para o choque da cadeia de fornecimento mundial e o consequente aumento do preço das mercadorias, cujas repercussões foram sentidas a nível nacional com a inflação a atingir 6,74%, e pela interrupção dos projectos de Oil & Gas em Cabo Delgado, fruto dos conflitos militares, o banco comercial conseguiu atingir um resultado líquido de 5.203 milhões de Meticais.

“Num cenário ainda desafiador, a resiliência do balanço do banco permitiu obter um desempenho positivo no ano de 2021, com uma rentabilidade dos capitais próprios (ROE) de 23,88%, alicerçado numa consolidação das fontes de receita, e um controlo efectivo dos custos, conjugado com uma postura conservadora em termos de qualidade dos activos e solidez do balanço”, aponta o banco em comunicado.

No entender da instituição bancária, a desaceleração económica resultante da pandemia continuou a restringir o desempenho do crédito à economia, sendo que a carteira de crédito a clientes bruta do banco (excluindo crédito concedido com recursos consignados) cresceu 1,66%, reflectindo, assim, o efeito líquido do crescimento da carteira expressa em moeda nacional em 3,97%, e a redução da carteira em moeda estrangeira devido ao efeito cambial.

“A carteira de depósitos de clientes em moeda nacional manteve-se estável, com a carteira de depósitos de clientes em moeda estrangeira a cair devido ao efeito cambial, resultando numa queda da carteira de depósitos de clientes de 3,49%”, aponta o banco na nota de imprensa.

O resultado alcançado pelo banco corresponde a um crescimento de 94,76% relativamente ao reportado em Dezembro de 2020. “Esta evolução resultou, em grande medida, do desempenho favorável do produto bancário (+23,74%), propiciado pelo crescimento significativo da margem financeira (+23,48%) em virtude da acentuada subida das taxas de referência e do aumento do volume da carteira de crédito e de activos financeiros em moeda nacional”, lê-se no comunicado de imprensa do BCI.

ABSA BANK MAIS DO QUE DUPLICOU LUCRO DE 2021

O lucro do Absa Bank Moçambique aumentou cerca de 115,1% e atingiu 633 milhões de Meticais no ano passado, revelou a instituição bancária. Nem os efeitos da COVID-19 e da suspensão do projecto de gás natural liderado pela Total impediram que os resultados do banco crescessem.

“Conseguimos implementar um conjunto de medidas de gestão da nossa eficiência que levaram à redução dos custos operacionais do banco em cerca de 4,6%. Eu lembro-me de que o nosso negócio tem visto os seus custos crescerem mais ou menos na linha com a inflação”, referiu recentemente o administrador delegado do banco, Rui Barros.

Rui Barros explica que uma redução dos custos operacionais nos níveis conseguidos representam uma poupança real próxima dos 10% na estrutura de custos esperados.

Por sua vez, o crédito em incumprimento no Absa agravou-se para 4,2%, devido ao impacto da COVID-19 e à suspensão das actividades da petroquímica Total.

“Contudo, gostaríamos de notar que a esmagadora maioria do crédito do banco teve um comportamento perfeitamente saudável”, sublinhou Rui Barros.

Ainda no ano passado, as receitas do Absa deram um salto de 20,1% e atingiram 5.7 mil milhões de Meticais.

Na Banca de Retalho e de Pequenas e Médias Empresas (PME), os créditos concedidos pelo banco aumentaram em 7,8% e os depósitos subiram 5,4%. Já na Banca Corporativa e Comercial, os créditos e os depósitos aumentaram 18,2% e 65,0%, respectivamente.

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