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Amigo de Merda

Ao olhar para fora da livraria, vejo um ex-amigo fixado na vitrine, diante do meu livro, que era o único em destaque, por ocasião da assinatura de autógrafos – havia várias cópias do mesmo, espalhadas ao longo da montra.

Reconheci um amigo de longa data e alegrou-me saber que, apesar da nossa discussão de há 5 anos atrás, ele decidiu aparecer.

Emocionada e risonha, corro para o convidar a entrar. Ele olha para mim surpreso, igualmente contente!

– Não acredito que vieste! – gargalhei.
– Vim? Como assim? – retorquiu, desligado da pergunta, concentrando-se mais no facto de estar a ver uma amiga que não via há bastante tempo.

Contei-lhe o propósito da minha presença ali.

– Aaaah, sabes, eu estava alí na vitrine a olhar para a tua capa e a tentar puxar pela cabeça, de onde conhecia esse nome – Cri Essencia. Sabia que me era familiar! O teu livro, pois ééé!

– … Rui, deixa-te de estórias! – desconfiei acusando, sorridente, feliz por ver aquele que era oficialmente ex-amigo, depois daquele bate-mail frenético que tivemos há 5 anos, onde ele até de nariguda me chamou.

Reza a lenda que eu punha mola (de secar roupa) no nariz, para que ele se tornasse tão fino quanto o da minha mãe – acreditei no conselho de um tio. Portanto, chamarem-me de nariguda continua subconscientemente ofensivo.

– Sério! Epah, deixa-me comprar já uma cópia!
– E vais comprar assim?
– O In Search of An Accepting Sea? Claro! Há muito que estava à espera dele! Ouvi muito falar e fui me orgulhando na calada, sabes? – e folheava o livro animadamente, acrescentando de seguida:
– Olha, até vou comprar três; dois para oferecer. Quero todos eles assinados, já agora!

Rui procedeu ao ditado dos nomes incomuns e quando chegou a vez de assinar a cópia dele, diz-me a coisa mais linda:
– Escreve: “Para o merda do meu amigo Rui!”

Soltei uma cachinada realizada.

Embora fosse boa ideia, fiz aquela cerimónia de uma aparente boa educação:

– Tens a certeza? Vou por isso! – ameacei, num mode sequestrador delicioso.
– Sim! Escreve isso e assim perdoas-me logo! Escreve com raiva! – suplicou.

E assim, foi feita a nossa vontade.

 

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