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Alunos e encarregados de educação aglomeram-se nas escolas para levantamento de fichas

Muitos alunos e encarregados de educação aglomeram-se nas escolas para o levantamento de fichas sem respeitar a distância mínima recomendada para a prevenção da COVID-19. A Escola Noroeste 1, na cidade de Maputo, é disso um exemplo. 

 

Logo à entrada da Escola Secundária Noroeste 1, na cidade de Maputo, há encarregados de educação e alunos aglomerados. São pouco depois das 08h, por isso alguns marcaram a fila e foram caçar raios solares num lugar próximo à instituição para acompanhar, atentamente, a evolução do atendimento enquanto não chega a sua vez.

Pelas grades do portão (já um pouco velho e com pintura gasta) veem-se filas muito mais longas que as que estão do lado de foram. São alunos e encarregados de educação que, pacientemente (outros nem por isso) esperam pela sua vez, que chega a durar duas horas, para o levantamento das fichas de apoio.

Com um total descontrolo, as pessoas estão próximas umas das outras, sem observar o mínimo distanciamento exigido – que é de um metro e meio – para prevenção do novo coronavírus.  Aliás, há aqui o incumprimento de uma das recomendações do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, segundo a qual, quem deve ir buscar os textos de apoio são os pais e encarregados de educação e não os alunos.

Picasso Rafael tem 14 anos de idade e frequenta a 9ª classe na Escola Secundária Noroeste 1. Ele foi buscar a ficha pessoalmente. “A escola diz que os pais podem vir levantar as fichas, mas os meus andam muito ocupados, eu vim buscar. Cheguei às 06h, mas até essa (eram 08h40) não consegui. Então só posso voltar amanhã”, contou Picasso Rafael.

Na mesma condição está Tomás Silvestre, adolescente de 15 anos, mas também diz não ter sido sua vontade ver levantar fichas. “Meu pai está na África do Sul e minha mãe está em Dubai. Eu vivo com minha avó e ela não aguenta se deslocar para buscar a ficha”, justificou o aluno da 10 classe na Noroeste 1. 

Conforme atestam os depoimentos, são alunos que, na sua maioria, têm 14 anos de idade e o mais agravante é que eles estão em aglomerados sem usar máscaras. Sem dúvidas, é um ambiente favorável para a contaminação e propagação do novo coronavírus. Os mais crescidos estão cientes do perigo, mas afirma ser um risco necessário só para garantir a continuidade do processo de ensino e aprendizagem colocada em causa pela pandemia da COVID-19.

“A medida de virmos buscar as fichas é para minimizar o risco de propagação da COVID-19, mas conforme estamos organizados, praticamente, o esforço é anulado”, concluiu Arsénio Azarias, um dos encarregados de educação, secundando por Ali Manuel, estudante da 12ª classe no curso diurno, que resignado afirma que “não temos escolha porque precisamos das fichas para podermos continuar a estudar”.

Contudo, a direcção da Escola Secundária Noroeste 1, na cidade de Maputo, vê-se de mãos atadas para fazer cumprir as regras de distanciamento entre os alunos e encarregados que vem levantar as fichas, mas já tem um plano. “Neste cenário, só podemos usar a estratégia de distribuir por turmas. Haverá datas para certas turmas para permitir que não tenhamos muita gente, ao mesmo tempo, dentro da escola”, sugeriu Armando General, director da Escola Secundária Noroeste 1.

Num outro desenvolvimento, Armando General fez questão de reiterar que não há alunos do curso diurno que vão levantar as fichas e muito menos os que se fazem ao recinto sem máscaras. E disse mais: “Eu precisava de verificar os alunos para mandar sair porque o encarregado é que tem que vir levantar a ficha”, sublinhou.

O mesmo cenário, em que os alunos vão buscar as fichas pessoalmente, verifica-se na Escola Secundária da Matola. A única coisa diferente nesta instituição do ensino secundário é que não se registam enchentes tal como as outras. A desculpa para que sejam os alunos a levantar as fichas é a mesma: os pais não tem disponibilidade de o fazer porque vão ao serviço.

A direcção da Escola Secundária da Matola reconhece ser difícil que sejam os pais a virem levantar as fichas de apoio, sendo que o único problema que conseguiu resolver é o das enchentes através das plataformas digitais.

“Eles dizem que os encarregados não podem vir. Não sabemos se isso constitui a verdade. Se nalgum momento nós mandarmos voltar e depois esta criança vai dizer que não teve a ficha porque escola não permitiu que levantasse, estamos a prejudica-lo. Então acabamos por permitir”, explicou Elsa Silvestre, directora/Escola Secundária da Matola

E assim ocorre a distribuição de fichas nas escolas num ambiente de fácil contágio e propagação do novo coronavírus, mesmo depois da suspensão das aulas cujo objectivo era salvaguardar a saúde dos alunos.

 

 

 

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