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Ainda não há segurança para a população regressar a Mocímboa da Praia

Segundo o censo de 2017, a vila de Mocímboa da Praia tinha 63 mil habitantes. Todas essas pessoas se encontram, actualmente, refugiadas em outras zonas do país, desde que a vila foi tomada pelos terroristas.

Ontem, o governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, visitou o distrito para ver de perto o avanço das tropas moçambicanas e ruandesas na consolidação da reconquista daquele território e fazer uma avaliação preliminar dos estragos causados pelos terroristas.

Após visita a vários edifícios, entre públicos e privados, com destaque para o porto, o hospital distrital, a escola secundária, as instalações da Tmcel e da TVM e depois de ouvir os militares, chegou à conclusão de que, de facto, ainda não estão criadas as condições para levar a população deslocada de volta à sua terra.

Para fundamentar a sua posição, Tauabo indicou, por exemplo, que não há condições para se prestar assistência médica a doentes, ou para se retomarem as aulas, para além da própria segurança que ainda não está totalmente garantida. No entanto, não sabe ainda dizer quanto tempo a população terá de esperar, porque tal depende do trabalho em curso, sob égide dos militares.

“Quando estes considerarem que a segurança está garantida, o Governo enviará à vila de Mocímboa da Praia peritos para avaliarem as necessidades e que opções que podem ser accionadas para garantir o mínimo funcionamento das instituições públicas essenciais para a vida de uma comunidade. Só depois de resolvida essa questão é que se pode pensar em mover a população de volta para casa”, explicou Tauabo.

Na sua visita, o governador fazia-se acompanhar pelo administrador do distrito e pelo presidente do Conselho Autárquico. Era a primeira vez em que ambos retornavam à sua vila, desde que a mesma foi tomada pelos malfeitores há um ano.

O edil Cheia Momba tratou de visitar as instalações do Conselho Autárquico e encontrou um cenário catastrófico. O edifício foi deitado abaixo e não restou praticamente nada. Tudo foi totalmente consumido pelo fogo posto pelos terroristas.

Contudo, Momba esclareceu que os funcionários da edilidade escaparam ilesos do ataque e foram enquadrados nas diferentes autarquias existentes na província de Cabo Delgado até que a situação volte à normalidade.

AUTORIDADES PROCURAM RESTABELECER A TELEFONIA MÓVEL

No entanto, há esforços para garantir condições mínimas para os militares que estão estacionados na vila. Uma equipa da Vodacom esteve esta quinta-feira, em Mocímboa da Praia, para avaliar as condições de restabelecimento da rede de telefonia móvel, o que deverá acontecer dentro de uma semana, segundo garantiu Kallie Calitz, responsável pela equipa da operadora. Numa primeira fase, a rede estará apenas disponível na vila de Mocímboa da Praia, mas prevê-se que, nos próximos tempos, seja alargada até Afungi, no extremo norte, e Namau, em Moeda, no extremo sul.

A mesma equipa que esteve a trabalhar em Mocímboa da Praia repôs o sistema de abastecimento de água na vila, para melhorar as condições de trabalho dos militares, uma vez que antes dependiam da água proveniente de tanques cisternas que vinham de Afungi. Segundo as autoridades, o restabelecimento da energia eléctrica poderá levar muito mais tempo, uma vez que a subestação de Awasse, que garante energia a toda a região norte de Cabo Delgado, foi vandalizada.

EMPRESÁRIO PERDEU MAIS DE 14 MILHÕES DE DÓLARES

Na comitiva do governador de Cabo Delgado, estava um dos maiores empresários da vila de Mocímboa da Praia, Mahomed Faruk Jamal. Ele aproveitou a ocasião para visitar os seus empreendimentos.

As suas casas não foram incendiadas, mas eram usadas para o abrigo dos terroristas. O seu lodge foi parcialmente destruído, a sua oficina vandalizada e 19 viaturas foram queimadas. O maior dano registou-se na sua serração, que é o seu principal negócio. A mesma foi queimada e, num cálculo preliminar, o empresário diz ter perdido mais de 14 milhões de dólares norte-americanos, além de outros prejuízos que soma devido à paralisação de todos os seus negócios.

Estima que empregava mais de 500 pessoas, entre efectivos e sazonais. Grande parte foi raptada pelos terroristas e outros usados como motoristas. O empresário garante que tem estado a recuperar alguns dos seus trabalhadores que conseguiram fugir, inclusive um foi baleado, mas sobreviveu.

Agora, para sair da miséria em que os empresários de Mocímboa da Praia estão mergulhados, Mahomed F. Jamal sugere ao Governo algumas medidas para ajudar na recuperação dos negócios. O empresário sugere créditos com juros bonificados ou medidas fiscais com diferimento ou isenção fiscal por algum determinado período.

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