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Ai que saudades… Samora e o desporto

“Onde entra o desporto, sai a doença” – esta é uma frase de Samora Machel quando se referia à necessidade de todos os cidadãos se preocuparem com a prática desportiva.

Com a sua voz “metálica”, o carismático líder lançou a primeira edição dos Jogos Desportivos Escolares, marcou presença em partidas internacionais no Estádio da Machava e recebeu na Ponta Vermelha vários desportistas após sucessos desportivos. Num gesto de reconhecimento por um talento da terra que fez furor em Portugal, o Presidente recebeu Eusébio da Silva Ferreira, conferindo-lhe um passaporte diplomático.
Foi também sob sua Direcção que se lançaram bases para a internacionalização do nosso desporto, com o surgimento do Comité Olímpico e as Federações Nacionais. Além disso, foi o mentor do programa “Correr é Saúde”, que motivou talentos, distribuindo rádios “xirico” e viciando muita gente para a prática da actividade física.

Assunto de Estado
Apesar das imensas preocupações com os multifacetados problemas da Nação recém-independente, Samora Machel considerava para si próprio obrigatória a prática regular de exercícios físicos, estendendo como “orientação”, essa sua paixão aos quadros dirigentes do País.

E muita gente se envolvia. Em período de grande exaltação política, os jogos-grandes na Machava e as inesquecíveis noites de basquetebol no Maxaquene, funcionavam como um tónico revigorador para as jornadas laborais e, ao mesmo tempo, instrumentos de verdadeira moçambicanidade.

A força e o interesse dos então dirigentes do país pelos grandes jogos da Selecção Nacional, lotavam os camarotes. Samora dizia que várias vezes tinha vontade de ir aos grandes-jogos, mas só não o fazia por causa da movimentação protocolar que a sua deslocação obrigaria. Chegou, certa vez, a abreviar um discurso de encerramento na então Assembleia Popular, porque se apercebeu que os deputados estavam todos de corpo presente, mas com o pensamento no Moçambique-Zaire que se realizaria poucas horas depois.

Ai que saudades! O desporto era mesmo um assunto de Estado. Mexia com todos. A união dos moçambicanos em redor dos objectivos desportivos nacionais, a verdadeira auto-estima, eram uma realidade, diferentemente do que hoje vemos, em que o pensamento reside mais no Marquês de Pombal ou em Camp Nou do que no Zimpeto.

Porquê esta tão grande subalternização ao que é nosso? E se a alta competição não tem qualidade, como se propala, como explicar a tão gritante falta de acompanhamento de pais e tutores nos dias em que as nossas crianças “correm para a saúde”?
Termino com o extracto de um dos maiores pensadores e líderes que o mundo conheceu, relativamente ao desporto. Disse, Nelson Mandela: “no desporto, só perde quem o não pratica”!

 

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