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Agricultor suíço mostra que é possível produzir comida na floresta e proteger o ecossistema

O exemplo vem de um agro-sivicultor que, em décadas, construiu uma floresta, onde produz cacau, hortícolas, feijões e através dela travou efeitos dos ventos e das inundações que eram preocupação da região onde está instalado no Estado da Bahia, no Brasil.

Num contexto em que as mudanças climáticas estão a produzir impactos negativos na produção agrícola em todo o mundo, o homem está a procurar soluções para fazer frente a desafios futuros. No Brasil, surge um agente revolucionador, que, através da sua iniciativa desenvolvida numa área de 500 hectares, mostrou ao mundo que é possível produzir comida sem agredir o meio ambiente.

A iniciativa é do suíço Ernst Ghostsch que hoje é conhecido como pai da agricultura sintrópica e tem vindo a rodar o mundo para mostrar os resultados do seu trabalho. À Mozgrow, o agro-sivicultor revelou a essência do seu trabalho. “Procuramos reverter a tendência dos últimos mil anos em que houve um afastamento em relação à floresta. Através desta iniciativa, integramos culturas alimentares dentro da dinâmica da floresta”, explicou Ghostsch para depois avançar que não poderia estar mais feliz com os resultados obtidos.

“A minha produção está mais do que satisfatória, está acima do valor médio da região e eu não só produzo cacau, mas também, em resultado dessa interação com a floresta, tenho um constante melhoramento das terras que utilizo, sem uso de adubo trazido de fora, sem irrigação, nem agrotóxicos”, salientou.

O agricultor revelou ainda que usa a estratégia de poda de ramos e folhas de árvores plantadas que acabam por ser matéria orgânica para alimentar a sua plantação de cacau. “Isso resulta numa quantidade imensa dessa matéria que fica na terra; esse exercício dá-me entre 80 e 140 toneladas de material fresco por ano. Isso faz com que eu tenha disponibilização altíssimo e natural de nutrientes para as minhas culturas. Além do cacau, nesse local, produzimos as hortícolas, frutícolas feijões, milho entre outras culturas”, detalhou.

O agro-sivicultor reitera que, quando comprou o espaço, as autoridades consideravam que era inapropriado para a produção do cacau, por serem consideradas terras pobres. Sem adubos, nem outros aditivos, através das árvores que conseguiu enriquecer os solos em cinco anos e ter boa produção e produtividade. Um dado mais interessante é que, além das espécies por ele plantadas, germinam outras espécies que eram inimagináveis naquele local. O milho, soja, tomate, papaia entre outras culturas crescem sem nenhum tipo de aditivos e os frutos são de elevada qualidade.

O especialista disse, ainda, que além de produzir comida, a sua actividade está a trazer soluções para problemas resultantes das mudanças climáticas. “Antes, havia problemas de água e, quando chovia, tínhamos inundações, mas agora a realidade é outra. Antes, tínhamos problemas de ventos fortes que danificavam as infra-estruturas, mas hoje o ecossistema é mais equilibrado”.

No final da entrevista, quando questionado se Moçambique tem ou não capacidade de embarcar no mesmo sentido, o agro-sivilcultor recorreu às três visitas que fez ao nosso país para dizer que é possível. “Um país como o vosso, com muita população rural muito criativa, não é impossível acontecer. O que pode faltar nesse sentido são bons exemplos que podem estimular essa vontade. Trata-se de um país rico, o que resta é saber explorar esse potencial”, concluiu Ghostsch.

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