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Afinal, quanto custa o dinheiro?

A única certeza que tenho neste momento é de que o dinheiro está caríssimo. Dentre tantas explicações para esta realidade, nenhuma convenceu. Continuamos ignorantes e escravos da imposição das taxas de juro dos bancos, ou melhor, dos “big four” do sistema financeiro nacional. Há alguns anos, as explicações resvalavam para o risco do mercado, para as taxas directoras pouco atractivas ou mesmo para as grandes empresas – os maiores detentores de liquidez – que determinam as taxas de juro a serem remuneradas nos seus depósitos. Hoje, ninguém perde tempo em explicações. É um toma e vira-te que está a desgraçar empresas e particulares, que viram as suas prestações subirem sufocantemente no agudizar da crise que elevou para a casa dos 30% as taxas de juro.

A taxa de esforço que se observa no início do contrato é ignorada no meio do percurso. E entre cobranças e desculpas, num diálogo de surdos, o resultado pesa na estatística do crédito malparado, que cresceu 50% de 2015 para 2016. Os créditos de longo prazo, com riscos maiores para os bancos e para os mutuários, ameaçam fazer emergir estatísticas de suicídio. Isto para não falar de stress ou depressão, doenças que já abundam na nossa sociedade, reduzindo o espaço da felicidade.

O ministro da economia e Finanças e antigo governador do Banco de Moçambique, Adriano Maleiane, desafiou os bancos a serem mais transparentes na fixação das taxas de juro, quando intervinha no evento que apresentava a pesquisa sobre o sector bancário. Maleiane, num desabafo tardio, mas ainda pertinente, disse: “Parece que temos que trabalhar muito para a transparência na fixação da taxa de juro.

Aparentemente, quem olha para as nossas taxas de juro, parece que não têm nenhuma ligação entre o custo de funding, a inflação e o risco. Parece que as coisas estão de certa maneira dissociadas. Portanto, eu quero desafiar o sistema financeiro para me trazer um indexante a prazo: para 90 dias, 180, 360 dias, um indexante que o sector pode esclarecer.”

Esta frontalidade que outrora vinha de agentes económicos e académicos, hoje, vem de um governante que já regulou e supervisionou as instituições financeiras durante 15 anos, assim como orientou e controlou políticas monetárias de um país que só conhece momentos menos maus quando se fala de taxas de juro, quando afinal almeja uma satisfação possível.

Que o desafio do ministro Maleiane ao sector financeiro se traduza em imposição legal, para que ninguém tenha dúvida sobre o preço que paga pelo dinheiro e haja clareza dos limites dos bancos comerciais nesta matéria. Que as suas palavras não caiam em letra morta, como uma simples declaração de intenção. Já é sabido que as fontes de liquidez no mercado são reduzidas e que os bancos vêem nas taxas de remuneração dos depósitos uma saída; que a Facilidade Permanente de Cedência tem um impacto pouco significativo na redução do custo de financiamento, porque a liquidez da banca comercial não provém do funding via Banco Central, mas ainda não é informação suficiente para explicar o custo do dinheiro.

Os bancos geram lucros fabulosos até em momentos de crise. Uma lucratividade atípica, atendendo ao contexto macroeconómico, caracterizado por um desaceleramento do crescimento económico em quase 100% e inflação de dois dígitos. O sector financeiro foi o que mais cresceu e mais sólido se apresentou, em plena crise que o país vive. Portanto, tem uma pujança que infelizmente reforça a fraqueza da economia. é um mal necessário que deve dosear o aperto, para melhor contribuir para o crescimento da economia.

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