O País – A verdade como notícia

Afinal, os erros não estão apenas no livro de Ciências Sociais da 6ª classe

O “O País” leu, igualmente, os manuais de Português, Ciências Naturais e Educação Visual que também apresentam incoerências. Nomes mal escritos, ilustrações incorrectas e deficiências na pontuação são algumas das situações detectadas.     

Começamos a nossa maratona com o livro de Ciências Sociais. Na página 43, está escrito que o Rio Zambeze nasce na República Democrática do Congo, mas não é bem assim, pois o rio que atravessa o nosso país nasce na vizinha Zâmbia.

DADOS SOBRE REINO DO ZIMBABWE INCONGRUENTES 

Na página 48, o manual revela que a Sul, além de Moçambique, o reino do Zimbabwe fazia limite com os actuais territórios do Malawi e Zâmbia. Consultado o mapa, notamos que Malawi e a Zâmbia são países que estão mais a Norte e não a Sul do perímetro que havia sido ocupado pelo reino.

A mesma página revela ainda que, a Oeste, o reino do Zimbabwe tinha como limite a actual República Democrática do Congo e Sudão, mas estes países não fazem fronteira nem com o Zimbabwe, muito menos com Moçambique, territórios que eram abrangidos pelo então reino.

O livro descreve, também, que o reino do Zimbabwe tinha, como limite a Norte, o Mar Vermelho e Golfo de Aden, o que é uma grande inverdade, pois o Mar Vermelho, apesar de se localizar no Oceano Índico, está entre os continentes africano e asiático.

Na página 52, no capítulo que aborda as causas da decadência do reino do Zimbabwe, o novo livro da 6ª classe ensina que não se conhecem exactamente as reais razões da sua queda, limitando-se descrever, que, na altura, havia seca, o que originou a redução das áreas de cultivo e de pastagem.

Entretanto, o “O País” encontrou um manual de Ensino à Distância produzido pelo Ministério da Educação que não apresenta dificuldades em descrever as razões do declínio do reino. O referido manual apresenta, sem rodeios, as seguintes causas: esgotamento do solo que provocou a emigração da população para as regiões mais produtivas; o esgotamento dos jazigos do ouro; a redução do caudal do rio Save, dificultando a navegação e a ligação entre o reino de Zimbabwe com a costa; as lutas internas entre os Clãs Rozwi e Torwa pelo controlo do comércio e aumento da população resultando na falta de terras para a prática da agricultura e pastorícia.

Já na página 121, o livro coloca a imagem da Assembleia Nacional de Angola para ilustrar o Parlamento de Moçambique. 

NOMES DE PAÍSES ESCRITOS DE FORMAS DIFERENTES

No referido livro, verificam-se erros, desde ortográficos, sintácticos até semânticos e/ou pragmáticos.

Há uso arbitrário na escrita de alguns nomes, o que pode causar confusão nos alunos. Por exemplo, na página 133, o nome “Botswana” escreve-se com “w”, mas, na página 78, consta com letra “u” (Botsuana). As duas formas são usadas no mesmo manual, o que revela não haver padrão. E, então, como os alunos deverão escrever? O mesmo sucede com o nome actual da antiga Swazilândia que, no livro, aparece assim “Essuatíni”, enquanto deveria ser escrito desta forma “eSwatini”. O nome Lesotho entra também no festival das gralhas: é escrito sem a letra “h”. 

HÁ PALAVRAS MAL ESCRITAS NOS MANUAIS ANALISADOS

Do livro de Ciências Sociais, partimos para o de Educação Visual e Ofícios. Logo na página 19, a palavra “esfumagem” aparece mal escrita – sem a letra “u”, ficando assim “esfmagem”.

HÁ GRALHAS NA DISTINÇÃO DE CORES NO LIVRO DE EDUCAÇÃO VISUAL

Na página 25, apresenta a cor laranja como vermelha, o que compromete a distinção das cores vermelha e laranja para os alunos. Na página seguinte, a cor vermelha complica ainda mais o leitor, pois é apresentada como verde. Ainda na ilustração em alusão, a distinção entre as cores azul e violeta não é clara.

HÁ MAU USO DE SINAIS DE PONTUAÇÃO E ACENTUAÇÃO   

Já no livro de Ciências Naturais, na palavra “lã”, a letra “a”, em vez de levar o til (~), aparece com o acento circunflexo (^) – “lâ”. Ainda no mesmo livro, apresentam-se imagens ilustrativas de estrelas, da lua e do sol, mas esta última não está visível, aliás, não está lá.

HÁ ERROS A VÁRIOS NÍVEIS NO MANUAL DE PORTUGUÊS

Por último, no livro em que se ensina a Língua Portuguesa, também há erros que podem condicionar o domínio das competências linguístico-comunicativas. Destaquemos alguns, mas primeiro leiamos o seguinte excerto retirado da página 10:

“Podemos comunicar frente a frente, na presença de outra pessoa ou, quando isso não é possível, como no caso da Isabel e da avó, no texto Que alegria!, falar à distância. Como o próprio nome indica, as duas pessoas que conversam encontram-se longe uma da outra Com o telefone, é possível conversar directamente, mas à distância.”

No excerto acima, a expressão “frente-a-frente” (palavra composta por justaposição) aparece sem hífen (frente a frente). Verifica-se, ainda, o mau uso dos sinais de pontuação – há um período sem o ponto final e o uso simultâneo do ponto de exclamação e da vírgula no meio de uma frase.

Na página 11, analisemos este exemplo dado: “Não falto a uma aula desde que me matriculei; na verdade, nunca a escola me pareceu tão importante”.

Primeiro, as ideias não têm sentido lógico, já que a segunda parte até ao ponto e vírgula (;) contraria a primeira e, segundo, a ideia da segunda parte é inadequada às crianças, porque, em vez de incentivá-las a gostar de escola, desincentiva-as.

Ainda na página 11, vejamos esta frase: “Tu, aqui?! Pensei que “estavas” em Tete!”. A forma assinalada devia ser “estivesses” e não “estavas”, por causa do verbo pensar, que, segundo a norma-padrão, exige, na segunda oração, a conjugação do verbo no modo conjuntivo e, neste caso, no pretérito imperfeito (estivesses).

Para fechar esta parte dos erros no manual de Português, há esta surpresa num dos exemplos dados: “Estou a tentar consertar a televisão – disse o irmão”. Nota-se que os elaboradores não sabem distinguir “televisão”, que é um sistema electrónico que transmite imagens e sons ao mesmo tempo, do “televisor”, que é o aparelho que reproduz imagens para os telespectadores.

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