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Administradora do Banco Central aponta caminhos para ultrapassar crise sanitária  

Segundo a administradora do Banco de Moçambique, Silvina de Abreu, o World Economic Outlook do Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento da economia mundial na ordem de 5,6% em 2021 e 4,2% em 2022. Contudo, devido à incerteza, a forma como cada país vai recuperar da crise da pandemia da COVID-19 não será uniforme, isto é, há países como os Estados Unidos e a China, que vão registar um crescimento rápido em relação aos outros.

Silvina de Abreu refere que as soluções para ultrapassar a crise sanitária dependem de quatro factores, nomeadamente, a preparação dos países em termos de condições para lidar com a pandemia; a política fiscal voltada para o apoio aos sectores privado e familiar; a capacidade de digitalização; o trabalho remoto e a flexibilidade de fazer negócios, isto é, o doing business.

Com os requisitos satisfeitas, Silvina de Abreu entende que estarão criadas as condições para alavancar a economia nacional, na qual apenas o sector da agricultura é que demonstrou resiliência em 2020, ao registar um crescimento de cerca de 22% do Produto Interno Bruto (PIB).

O Banco de Moçambique aumentou em Janeiro último a taxa MIMO, usada como referência para o mercado financeiro interbancário que, apesar de ter criado desconforto ao sector privado caracterizado pela deterioração do índice de robustez empresarial, bem como pela depreciação cambial, Silvina de Abreu disse que a decisão tem por objectivo evitar a alta de preços no mercado, proteger as camadas mais desfavorecidas e preservar a moeda nacional.

E nesta luta pela preservação do metical, o sector privado é chamado a intervir com acções mais concretas, sendo uma delas, o aumento da qualidade em termos de prestação de bens e serviços, que permitem uma concorrência dentro e fora do país. E é neste contexto que, por exemplo, o director comercial da Total, Arnaldo Nhavoto, avançou que as empresas devem estar capacitadas para responder aos requisitos de qualidade exigidos pela multinacional, para que possam ser integradas na cadeia de valor de produção do gás, cuja exportação está prevista para 2024.

E no âmbito do conteúdo local, a Total prevê despender cerca de 2,5 biliões de dólares, dos quais mais de 1 bilião de dólares já foram gastos com empresas registadas em Moçambique, e 250 milhões com empresas detidas maioritariamente por moçambicanos, sendo que os restantes com empresas registadas no país, mas com capitais estrangeiros.

Para Moçambique, a directora de estudos e mercados do BCI, Faharana Razak, aponta para alguns condicionalismos do desempenho da economia nacional, nomeadamente, a incerteza sobre o crescimento global, o aumento da pressão sobre a despesa pública devido à COVID-19, a instabilidade política, as calamidades naturais e o aumento de preços de mercadorias.

Em relação à possibilidade de passar os USD 500 milhões, de uma linha de financiamento para uma venda directa de capital aos bancos comerciais, de modo a aumentar o crédito para o sector privado, o Banco de Moçambique defende que em 2020, em termos líquidos, a banca comprou mais dos agentes económicos do que vendeu, o que prova que é possível ter-se a economia a funcionar com as exportações a financiarem as importações.

De Abreu explica que os USD 500 milhões não constituem a primeira linha de actuação, mas sim o último recurso para o qual os bancos comerciais podem recorrer em caso de necessidade. Diz ainda que a primeira linha de actuação é a assegurar que os bancos se mantenham no mercado para comprar divisas dos exportadores e depois vendê-las para os importadores.

No que se refere ao investimento dos recursos provenientes das receitas de gás através do Fundo Soberano, o Banco de Moçambique diz estarem em curso o estudo de alguns cenários. Por enquanto, o projecto do Fundo Soberano está a ser analisado do ponto de vista de um fundo de estabilização e de poupança e que a componente de investimento caberá ao Governo fazer a devida gestão. Entretanto, o banco central acredita que o sector da agricultura, que já provou vai ser um dos que poderá beneficiar de investimento através do Fundo Soberano.

A banca comercial reafirma o compromisso no cumprimento das moratórias impostas pelo Banco de Moçambique, às taxas de juro até Junho de 2021, bem como algumas linhas de financiamento ao sector privado, tendo em vista o surgimento de novos micro-negócios que podem dinamizar a economia, tal com refere Faharana Razak.

Em relação ao impacto dos eventos climáticos extremos e pandemia da COVID-19, Razak disse que a banca está aberta à negociação dos contratos de crédito com o sector privado, para evitar que alguns agentes não migrem para o sector informal, tal como já foram constatados alguns casos, ainda que tal actuação de algumas PME não tenha sido ainda confirmada pela CTA.

O sector privado, através do presidente do conselho directivo da CTA, Agostinho Vuma, recomenda as multinacionais, como por exemplo a TOTAL, a combinarem a qualidade, formação e preparação das empresas nacionais através de um treinamento antecipado e não a posterior. “Moçambique tem que sonhar e sermos nós a implementar os sonhos”, concluiu Vuma.

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