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Académicos dizem que Moçambique soube gerir a vitória alcançada

Os três académicos convidados do programa “Pontos nos II’s” da STV Notícias, na sua edição de terça-feira, 7 de Setembro, nomeadamente, António Hama Thai, Luís Covane e Alberto Ferreira, afirmam que Moçambique soube gerir a vitória alcançada com a assinatura, há 47 anos, dos Acordos de Lusaka (7 de Setembro de 1974). Entretanto, factores exógenos influenciaram negativamente a manutenção da paz alcançada com a proclamação da independência nacional, a 25 de Junho de 1975.

Foram destacados como factores externos a pressão que o país sofreu quando adoptou a ideologia Marxista-Leninista, por parte dos países vizinhos que defendiam o capitalismo, em consequência das alianças ideológicas das respectivas potências colonizadoras.

Este facto fechou vários mercados, impossibilitando o comércio externo. Mais do que isso, internamente foram surgindo pequenos focos de insatisfação e desestabilização, com algum apoio externo, com objectivo único de pôr em causa a independência financeira, económica e política de Moçambique. Os académicos consideram que estes factos atrasaram o país em vários níveis.

O veterano da Luta de Libertação de Moçambique e professor universitário, General António Hama Thai, disse que a história da libertação de Moçambique é bastante inspiradora, apesar de haver contradições.

“Portugal não tinha mais condições para continuar com a guerra, pois o Governo Português não lutava apenas com Moçambique, mas também com as outras colónias e ainda contra o regime Fascista. Este facto enfraqueceu as suas frentes, não havendo outra possibilidade se não avançar com a assinatura dos Acordos de Lusaka”, disse Hama Thai reiterando que a queda do fascismo em Portugal não foi a condição para o 7 de Setembro.

O académico e reitor da Universidade Nachingweia (UNA), Luís Covane defendeu que Moçambique alcançou a vitória com mérito e que, apesar dos tantas dificuldades, como os conflitos internos, invasões e tantos outros eventos negativos, conseguiu gerir a processo com grande sucesso.

“Moçambique lutou com o objectivo de alcançar a vitória, mas não esperava que fosse nos anos 70. Quando isso aconteceu, o país não estava preparado para gerir-se internamente. Tinha défice de recursos humanos (know-how), mas mesmo assim se reinventou enviando quadros nacionais para se formarem em tudo quanto era canto do mundo, onde houvesse possibilidade para tal. Moçambique enviou quadros para o estrangeiro e hoje conseguimos gerir nossas próprias economias”, disse Covane. Para o antigo vice-ministro da Educação, os Acordos de Lusaka constituem o culminar de um processo complicado.

“Nesse processo, Portugal reconheceu a sua derrota que culminou-se com o 7 de Setembro, por isso deve-se assumir que a independência de Moçambique foi fruto da pressão sufocante exercida contra o regime colonial, e não do Golpe de Estado em Portugal, como costuma-se dizer, para minimizar o esforço de todo um povo”, explicou.

Por seu turno, o filósofo Alberto Ferreira disse que, passados 47 anos, Moçambique continua com desafios na gestão da “Vitória de 1974”.

“A partir de 1975 já se podia prever uma falência desta paz, devido a factores externos. Moçambique não podia escolher os seus vizinhos, nem o Governo de Ian Smith, no Zimbabwe, como o “Apartheid” de Peter Botha na África do Sul, exatamente porque representavam blocos diferentes. E Moçambique estava no meio desta realidade, não podendo fazer negócio com países capitalistas”, detalhou Ferreira.

Para o filósofo, mais do que um regime, as políticas adoptadas, como a das nacionalizações, trouxeram desafios profundos para o país.

“Com a adopção do Socialismo, muitos portugueses em Moçambique, proprietários de fábricas e indústrias abandonaram o país. E com as Nacionalizações, todas as indústrias reverteram a favor do Estado. Mas aqui faltava o Know how dos moçambicanos. Nós pensávamos que em 5 ou 10 anos podíamos produzir cérebros, mas não foi tão fácil. Assim recuamos bastante a nível económico”, frisou.

Entretanto, apesar de tantos pontos negativos, Moçambique é dos poucos países que afirmou com grande valor a sua integridade e soberania, logo no início da independência nacional, tendo assegurado uma bandeira que genuinamente reflecte o simbolismos e os fundamentos do Estado, uma moeda própria resultante da sua soberania financeira (com a transferência dos activos do então departamento de Moçambique no Banco Nacional Ultramarino), a consolidação da ideia de “Estado-Nação” e consequente eliminação de possíveis focos de conflitos inter-tribais, étnicos ou regionais.

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