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“A igualdade de género implica a transformação do homem e da mulher”

Activista social Graça Machel foi a primeira “keynote speaker” do tema Conhecimento como Acelerador da Igualdade de Género. Graça Machel começou por explicar o que entende por igualdade de género, para ela o termo significa a transformação do homem e da mulher como dois seres humanos. A activista social convida a todos a pensarem na igualdade de género como o desmantelamento do tratamento diferenciado dos géneros, que segundo a oradora inicia na família e é continuado na escola e perpetuado no local de trabalho.

Machel buscou a visão cristã para exemplificar a inferiorização da mulher “o homem é socializado para se tornar superior e a mulher inferior. Os cristãos que me perdoem, mas na Bíblia vem que a mulher nasceu da costela do homem. Num movimento da igualdade de género a mulher não é costela de ninguém, mas sim um ser próprio. Devemos desconstruir a mentalidade da criação diferenciada dos meninos e raparigas, trata-se de nos aceitarmos e nos respeitarmos mutuamente”, explicou.

Para a fundadora da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) o conhecimento é o pilar onde a igualdade de género se forma. O país deve criar condições para ter-se políticas públicas que permitam o acesso ao conhecimento por parte das mulheres.

“Precisamos sim de ter e continuar com as políticas de acesso da mulher ao conhecimento. A mulher deve adquirir o conhecimento que está estabelecido nos sistemas de ensino nacional, desde o primário até ao universitário. De 100 meninas que ingressam no ensino primário, as estatísticas apontam que só 37 por cento delas conseguem completar o ensino secundário”, afirmou.

Estes números revelam um cenário preocupante, Graça Machel considera que as mulheres que conseguem chegar e concluir o ensino superior são fortes. “As que conseguem sair do ensino secundário e terminam a universidade são ao que na linguagem da selva chamamos de fortes, sobreviventes porque conseguiram passar e ultrapassar muitas dificuldades impostas pela sociedade e pelo sistema de ensino”, disse a oradora.  

A primeira ministra da Educação de Moçambique independente usou a trajetória da economista e membro da Comissão de Honra do MOZEFO, Luísa Diogo, como exemplo de superação e de decisão. “Luísa Diogo estudou as coisas mais difíceis, preferiu estudar matemática. Foi directora do Orçamento, depois Ministra das Finanças e chegou ao lugar de Primeira-Ministra isso porque ela escolheu a matemática, as contas. Mas também ela não teria chegado lá se o Presidente da República não tivesse tomado a decisão de colocá-la.

Com este exemplo, Machel procurou mostrar que deve existir iniciativa dos dirigentes para darem espaço as mulheres competentes, e não só polas nos cargos para completar a cota estabelecida nos órgãos como acontece na Assembleia da República. “Logo nós devemos incentivar a tomada de decisão. Fazer com que as meninas não tenham medo das contas que ganhem gosto pelas ciências, pela escola. As meninas que tenham realmente bons resultados e capacidades devem ter acesso às oportunidades”.

Moçambique é um país rico em recursos naturais. Com a entrada das multinacionais Eni, Anadarko e Exxon Mobil na exploração do gás natural na Bacia do Rovuma muitas oportunidades de emprego vão surgir para os moçambicanos. Na visão da activista social, as mulheres devem preparar-se para ocuparem lugares nesses empreendimentos.

“Como é que elas vão entrar? Não quero que elas sejam apenas empregadas nestas empresas. Elas devem ser acionistas, empreendedoras, dirigentes destas companhias. Escolher dedo a dedo se for necessário, mas temos que trazer essas meninas que têm capacidade possam fazer parte destes empreendimentos”, enfatizou.

Dada a oportunidade é necessário que o salário que é pago seja equivalente as funções que desempenha “trabalho igual ao rendimento”. Graça Machel terminou a sua explanação por chamar atenção a mulher e a sociedade para deixarem a mulher encontrar a sua identidade para poder assumir o contro da sua vida, da comunidade.

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