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Luta pelo transporte feita sob risco do Coronavírus em Maputo e Matola

Os transportes públicos podem ser foco de contaminação e propagação do novo Coronavírus na região do Grande Maputo. Na hora de ponta, a azáfama para ter lugar num autocarro é maior. Não se observa o distanciamento físico, os passageiros não desinfectam as mãos e os autocarros também não são desinfectados.

Na chamada hora morta, o serviço de transporte público no Grande Maputo é fornecido sem o risco de contaminação pela COVID-19. Na Praça dos Trabalhadores, na baixa da capital do país, os autocarros enfileiram-se. Um homem trajado de branco e preto, rosto escondido por uma máscara e pelos óculos de protecção entra em acção: com o seu pulverizador às costas, mexe na alavanca e desinfecta os machimbombos e as mãos dos passageiros que neles pretendam viajar.

E porque a demanda é menor, os autocarros não ficam superlotadas, o distanciamento físico é possível e a viagem acontece sem o risco de infecção pelo novo Coronavírus.  É uma imagem muito rara de se ver nas horas de maior procura pelo transporte.

Quando o sol se põe, a fotografia de um transporte público organizado muda drasticamente e inicia o caos.

O medo de contaminação pela COVID-19 desaparece, as medidas de prevenção são esquecidas e coloca-se em prática a lei do mais forte. É preciso força para garantir lugar no autocarro, principalmente porque a recomendação das autoridades é estar em casa antes das 21 horas, por conta do recolher obrigatório a partir deste período.

“Quando chega transporte é um processo para entrar. Não há nenhuma coordenação. Não se cumpre a fila, é só lutar e cada um por si”, contou Edna, passageira que estava à espera de autocarro para o bairro T3, no município da Matola.

Na baixa da cidade de Maputo, Armindo Ernesto esperou mais de uma hora por um autocarro para o bairro Nkobe, na Matola. Na sua opinião, não é possível acabar com o Coronavírus enquanto o transporte público continuar superlotado. “Não há organização. Não se desinfecta as mãos, nem os próprios autocarros”.

Num autocarro superlotado, a partir da baixa da cidade de Maputo para Matola Gare, município da Matola,“O País” constatou, ausência de condições para uma viagem com dignidade. A ventilação era precária, os passageiros estavam pendurados em corrimãos e encostos de bancos. O percurso leva no mínimo 45 minutos.

“Não há distanciamento. Os carros andam superlotados”, disse um dos passageios, secundado por Helena Mumguambe, ao afirmar que “ficamos todos aglomerados [no autocarro]. É o que tem acontecido”.

Há dias, o ministro dos Transportes e Comunicações reconheceu o problema que se vive no sector dos transportes, mas não apontou soluções. Recomendou o reforço da fiscalização.

“Há princípios que temos que adoptar. Por exemplo, vamos educar os passageiros sobre por que porta devem entrar e sair. Além disso, vamos acompanhar a questão do distanciamento”, afirmou Janfar Abdulai, ministro dos Transporte e Comunicações, no dia dia 17 de Fevereiro corrente.

Aos transportadores, o governante indicou que devem “organizar filas para as pessoas entrarem calmamente”.

O ministro disse que 100 novos autocarros deverão chegar ao país até finais de Agosto próximo, de modo a atenuar a falta de transporte e a pressão no Grande Maputo.

Até lá, se as autorodades não tomarem medidas para contornar o problema, os moradores da região do Grande Maputo continuarão a viajar expostos ao novo Coronavírus em autocarros.

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